EPILOGO

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O sol entrava em torrentes pela janela da sala de jantar, formando uma auréola dourada ao redor de Harry, que se encontrava sentado à mesa, com a cabeça inclinada e o olhar fixo em algo que tinha sobre o colo. Inclusive depois de três anos de matrimônio, Louis não deixava de agradecer a Deus que tivesse abençoado sua vida com alguém tão doce; e vacilou um momento na entrada para observá-lo durante um momento. A julgar pelo aspecto do prato, ele havia deixado seu café da manhã quase intacto pelo terceiro dia consecutivo.

Um pouco preocupado, Louis cruzou a habitação a grandes passos. Faisca, o peludo cão branco que Louis tinha dado a Harry a dois anos, deve ter sentido os passos de seu amo vibrando através do chão, pois despertou sobressaltado e começou a dar saltos ao redor da cadeira do homem, ladrando estridentemente. Ao perceber este som, Harry afastou os olhos do que Louis então pôde ver que era um bordado.

— Bom dia — disse ele com um carinhoso sorriso.

— Bom dia.

Louis dirigiu seu olhar para o buliçoso cão. Posto que o agudo latido do animal fosse um dos poucos sons que seu esposo podia ouvir, absteve-se de se queixar pelo escarcéu. Embora o cão não servisse para nada mais, sempre ladrava para alertar Harry quando Olie começava a chorar e isto fazia com que a peluda criatura valesse seu peso em ouro. Faisca, nome que era perfeito para ele, também ladrava para avisar Harry que alguém estava chamando a ele ou à porta, lhe permitindo a seu amo responder ante os ruídos que de outra maneira não percebia.

Com uma suave risada, Harry deixou de lado seus trabalhos e se inclinou para levar uma mão ao focinho de Faisca.

— Já basta — lhe disse ao cão docemente.

Faisca, que adorava seu amo quase tanto como o marido, começou a sacudir-se e a girar ao redor dele, tão contente de que o houvesse tocado que parecia haver-se ficado louco de alegria. Louis entendia este sentimento. Deixando escapar um suspiro, tirou uma cadeira da mesa e se sentou. Ato seguido dirigiu o olhar uma vez mais para o prato do café da manhã de seu esposo.

— Harry, meu amor, tem que comer, ultimamente nunca toma o café da manhã. Encontra-se mal ou o quê?

Dirigindo o olhar para seu prato, ele enrugou o nariz e levou uma mão a cintura.

— Não, é só que não quero comer, estou engordando.

— Essas não são mais que tolices, se alguma vez...

Louis se interrompeu. Harry tinha inchado as bochechas, tentando fazer com que seu rosto parecesse gorducho. Este gesto lhe recordou tanto aquela inesquecível noite em que ele compreendeu pela primeira vez quão inteligente era ele, que lhe arrepiou. Olhou profundamente seus inocentes olhos verdes. Não... Não era possível. Lançou um olhar a sua cintura. Não estava um pouco maior que de costume? Perguntou-se. Ou o estava imaginando? Quando voltou a levantar os olhos, teria podido jurar que tinha visto um sorriso fugaz aparecendo na doce boca de seu esposo.

— Harry? Carinho, está...?

Ele levantou suas formosas sobrancelhas. Sem dúvida havia um sorriso brincando em sua boca, concluiu Louis. Um sorriso malicioso. Sentiu como se o estômago tivesse caído ao chão. Não era possível. Já tinha tudo o que um homem poderia desejar: um esposo absolutamente maravilhoso e um filho precioso. Desejar mais... Bom, embora Louis adorasse crianças, nunca tinha se permitido abrigar a esperança de ter mais filhos, mais ainda porque temia sofrer uma decepção.

— Harry, não me tire do sério — advertiu com ar de gravidade — Não brinque com algo assim. Está grávido?

Os olhos de Harry se iluminaram de modo suspeito enquanto assentia lentamente com a cabeça. Louis não pôde conter a alegria repentina que estalou dentro dele. Sem pensar nisto duas vezes, levantou-se da cadeira e estreitou Harry entre seus braços. O bordado saiu voando pelo ar. Faisca saiu do meio rapidamente, enquanto Louis arrastava seu esposo por toda a habitação ao compasso de uma valsa imaginária.

— Está grávido! — gritou — Não posso acreditar!

Aferrando-se a seus braços, Harry lhe permitiu que o fizesse girar sem que seus pés tocassem o chão. O jovem soltou uma estridente gargalhada quando ele o estreitou contra seu peito para abraçá-lo.

— Tome cuidado! — advertiu-lhe — Não me aperte com tanta força!

Louis em seguida moderou seu desmedido entusiasmo.

— Perdoe-me, meu amor.

Inclinou-se para beijá-lo. No instante mesmo em que os lábios se tocaram, ele se derreteu em seus braços, fazendo com que Louis pensasse em todas as vezes que tinham começado desta maneira e tinham terminado fechando as portas da sala de jantar com chave para poder fazer amor.

— Amo você. Deus santo! Quanto te amo! — murmurou Louis.

Acabava de fazer esta declaração quando ouviu uns murmúrios. Pôs fim ao beijo abruptamente, olhou por cima da cabeça de Harry e viu que Frederick, o mordomo, encontrava-se na sala de jantar, levando Olie a cavalo sobre seus ombros.

— O que acontece, Frederick?

Antes que o mordomo pudesse falar, Maddy apareceu com sua vermelha cabeça por um dos flancos do corpo de Frederick.

— Já lhe disse?

Louis sentiu que Harry se movia e ao olhar para baixo, viu que ele estava negando categoricamente com a cabeça e levando um dedo a boca. Em resposta, Maddy fez uma careta. Para Louis estava muito claro que a governanta e o mordomo já sabiam que Harry estava grávido. Como sempre, o marido era o último a saber. Contrariado, franziu o cenho, mas a verdade era que não podia se zangar. Em seus três anos de matrimônio, Harry tinha chegado a considerar Maddy como uma segunda mãe. Não podia lhe reprovar que tivesse compartilhado suas inquietações íntimas com a mulher mais velha.

Infelizmente, desde seu matrimônio com Frederick, fazia já um ano, Maddy tinha adquirido o molesto costume de contar-lhe tudo, embora se tratasse de um segredo.

— Bebê! — disse rindo o pequeno Olie. Logo, estalando a língua como se estivesse fustigando um cavalo, puxou o cabelo do Frederick e deu patadas com seus pequenos pés — Arre, Frederick! Arre!

Sempre disposto a agradar o jovem amo da casa, Frederick começou a correr sem se mover do lugar, saltando tanto como podia para satisfazer seu intrépido cavaleiro.

— Sinto muito, senhor, mas eu soube antes só por que...

— Eu contei — disse Maddy depois deixar escapar um bufo — Além disso, não é algo que terei que manter em segredo, não é verdade?

A governanta deixou Louis sem argumentos. Não era nenhum segredo, era, mas bem um presente precioso, uma notícia maravilhosa que teria que proclamar aos quatro ventos. Voltou a estreitar Harry em seus braços, tão feliz que não podia expressá-lo com palavras. Felizmente, ele pareceu entender isto e lhe devolveu o abraço. Com a extremidade do olho, Louis viu o pequeno Ethan saltando sobre os ombros de Frederick. Maddy sorria com orgulho, como se aquele bebê que ainda não tinha nascido fosse seu neto. Louis supôs que, dadas as circunstâncias, isso era o mais apropriado. Maddy era como uma mãe, tanto para seu esposo como para ele.

"Quero uma menina", pensou Louis. Já tinha um filho bonito. Sim, queria uma filha. Embora na realidade não lhe importasse se fosse menino ou menina, contando que fosse sadio. Mas, no fundo, no mais profundo de seu coração, queria uma pequena. Uma menina de sedoso cabelo azeviche e enormes e incrivelmente expressivos olhos verdes. A feliz gritaria de vozes pareceu apagar-se pouco a pouco enquanto Louis olhava o rosto precioso de seu esposo.
Sim, uma menina idêntica a Harry...

Harry's Song - Adaptação Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora