Durante o resto do dia e os dois seguintes, Louis evitou deliberadamente subir ao quarto das crianças. Não obstante, todos os dias se reunia com a senhora Perkins para que o pusesse à par dos progressos de Harry. Anne Styles lhes fez uma visita e, depois de permanecer ali um longo tempo, pareceu ficar satisfeita com as referências e o rendimento da senhora Perkins.
A senhora Perkins, uma amável mulher de meia idade, tinha chegado a Tomlinson Halls com cartas de recomendação cheias de louvores e parecia ser a personificação da eficiência. Contou a Louis que Harry estava se adaptando muito bem a sua nova rotina, e que não devia preocupar o mínimo com seu bem-estar. A partir daquele momento, disse-lhe, isso era assunto dela. Louis estava mais que disposto a deixar que a mulher fizesse tudo sozinha. Não podia esquecer sua reação física na carruagem ante a presença de Harry, e tampouco podia perdoar a si mesmo por isso. Quanto mais longe estivesse do jovem, melhor. Felizmente, o seu velho casarão era cheio de voltas e, tal e como havia predito o doutor Horan, a presença de Harry naquele lugar podia passar quase inadvertida.
Louis seguiu com sua rotina habitual; trabalhava durante o dia nas cavalariças, nos campos ou na pedreira, e passava as noites fazendo contas ou descansando no escritório. Na terceira noite, ele acabava de recostar-se em sua cadeira favorita com uma taça de conhaque e um número recente de Morning Oregonian de Portland, quando um chiado dilacerador retumbou na habitação. Em seguida se endireitou em seu assento e lhe arrepiaram os cabelos da nuca. Pouco depois se ouviram uns gritos. Louis soltou uma maldição e saiu correndo ao corredor, onde chocou com Maddy, sua governanta, quem também se alarmou ao ouvir aquele escândalo. Depois de recuperar o equilíbrio com um pouco de dificuldade, os dois se dirigiram para as escadas.
Na ascensão, Louis tirou uma vantagem considerável da mulher. Maddy, gorducha e de pernas curtas, ia ofegando atrás dele. Quando Louis chegou ao quarto das crianças, encontrou que a tinham fechado com chave por dentro. Golpeou com força o grosso painel de carvalho.
— Senhora Perkins! Que demônios está acontecendo?
— Me ajude! — A mulher parecia desesperada — Ai Deus, tenha piedade! Ajude-me, por favor!
— Jesus, Maria e José! — Maddy se fez o sinal da cruz, horrorizada.
Louis a empurrou de lado. Lançando-se um pouco para trás, deu um forte chute na porta. A grossa tábua de carvalho se manteve firme. Esporeado pelos gritos procedentes do quarto, deu vários passos para trás e investiu com todo seu peso com o ombro contra a porta. Depois do impacto, ricocheteou para trás com tal violência que se estrelou contra a parede.
— Caramba!
Levou as mãos as têmporas.— Deus santo! O que está acontecendo aí dentro? Parecia uma confusão.
Louis olhou a porta com impetuosa resolução. Toda a vida ouviu histórias de homens que derrubavam portas a chutes, e ele era mais corpulento que a maioria. Tinha que haver um truque para consegui-lo. Centrando toda sua atenção no pomo da porta, retrocedeu tanto como o permitiu a parede que se encontrava atrás dele, deu dois passos para pegar impulso e plantou o pé justo debaixo da fechadura de latão. A estrutura de madeira se estilhaçou, a porta cedeu e Louis entrou no quarto das crianças correndo e cambaleando. Sem deixar de dar tombos, parou a escassos centímetros da senhora Perkins e Harry, que pareciam estarem envolvidos em um combate mortal. Tal era a confusão daqueles corpos retorcidos, que Louis demorou um momento para entender o que estava acontecendo.
Quando finalmente o fez, abriu os olhos como pratos. Harry, a dócil criancinha que segundo o doutor Horan nunca lhe causaria problemas, tinha os dentes cravados no dedo da senhora Perkins. Pelo visto, tinha a intenção de liberar a mulher dessa parte acessória de seu corpo. A mulher, dava saltos de dor, golpeava o seu atacante na cabeça e nos ombros para tentar soltar-se. Antes que Louis pudesse intervir, a mulher decidiu que os golpes simples não serviam de nada e recorreu aos punhos.
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Harry's Song - Adaptação Larry Stylinson
CasualeHarry Styles vive em um mundo solitário em que ninguém pode entrar e compreender. Tão delicado e belo como as doces flores da primavera de Oregon, é rejeitado por um povo que interpreta de maneira equivocada sua aflição. Porém, esta crueldade não po...