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Um ruído fez com que Louis, despertasse sobressaltado do que parecia ser um sonho profundo. Momentaneamente desorientado, ficou de lado e olhou fixamente a escuridão. Graças a sua magnífica vista, não lhe custava muito ver nem sequer em uma noite sem lua e definitivamente, esse não era o caso naquela ocasião. Uma luz chapeada banhava seu dormitório, formando um foco de luz no chão frente ao armário e projetando belas sombras sobre a penteadeira.

Harry... Ao recordar a conversa que tiveram naquela tarde, teve a esperança de que ele estivesse entrando as escondidas em seu dormitório. Caiu-lhe a alma aos pés quando lançou um olhar à porta e viu que estava firmemente fechada. Não era Harry. Franziu o cenho ligeiramente e se incorporou sobre um cotovelo, tentado adivinhar que hora era. Era meia-noite, ou possivelmente um pouco mais tarde, concluiu. Certamente, sentia-se como se não tivesse dormido muito tempo.

Ouviu de novo o ruído que perturbou seu sono, um tamborilar surdo e estrepitoso que procedia do andar de baixo. Depois de sair da cama, colocou a calça e botas em lugar de um robe. Em caso de que tivesse que fazer frente a um intruso, queria estar vestido, embora só fosse pela metade. Mas não acreditava que ninguém se atrevesse a entrar na casa. Tinha vivido em Tomlinson Hall desde seu nascimento e em todos esses anos nunca se apresentou problema algum. As pessoas de Hooperville e seus arredores eram muito honradas e temerosas a Deus e os delitos eram quase inexistentes. Sebastian era o mais frequente autor de crimes em toda aquela zona, mas fazia tempo que partiu dali.

Sebastian... Louis acelerou o pulso. Logo, desprezou essa ideia. Seu irmão tinha seus defeitos, mas não era nenhum estúpido. Não, provavelmente fosse um dos criados, disse para si mesmo. Frederick tinha problemas para dormir e algumas vezes e andava de um lado para outro da cozinha fazendo ruído para esquentar um pouco de leite a altas horas da madrugada.

De caminho ao andar de baixo, Louis parou um momento no quartos das crianças para certificar-se de que Harry estava bem. Andando nas pontas dos pés, aproximou-se de sua cama e se assegurou de que estava dormindo profundamente; logo, voltou sobre seus passos e fechou a porta com todo cuidado e saiu para o corredor. Os degraus da escada rangiam sob seu peso enquanto procurava descer sigilosamente. Durante o dia, Louis nunca tinha percebido este ruído e tomou nota mentalmente da necessidade de fazer com que um carpinteiro revisasse o piso de madeira da escada. Uma casa do tamanho de Tomlinson Hall requeria que lhe fizessem obras de manutenção constantemente.

Ao chegar ao saguão, Louis ficou imóvel. Naquele ruído havia algo que fez arrepiar. Não se tratava do som despreocupado que estava acostumado a fazer um criado na cozinha. Era mais um ruído como se alguém estivesse procurando algo e tivesse muito medo de ser descoberto. Louis seguiu o ruído até chegar à sala de jantar. Abriu a porta e entrou. Penetrava suficiente luz de lua pelas portas de cristais, cujas cortinas estavam parcialmente abertas, para iluminar a habitação. Não era necessário acender um candeeiro. Um homem se encontrava agachado frente ao aparador. Junto a ele descansava uma bolsa branca, em que estava colocando os objetos que tirava do móvel. Reconhecendo-o pelo tom castanho de seu cabelo, Louis não sabia que sentimento era mais forte dentro dele, a ira ou a tristeza. Depois de ter querido tanto a seu irmão, não era nada fácil desprezá-lo, independentemente do que tivesse feito.

— Sebastian, — disse finalmente — que demônios está fazendo?

Seu irmão se retirou do aparador tão bruscamente que se deu um golpe na cabeça. Amaldiçoando em voz baixa, levou uma mão ao lugar em que machucou.

— Louis!

— Quem acreditava que era? — Louis cruzou os braços sobre seu peito nu — Possivelmente deva envolver o cristal em algo. Os jogos de mesa podem te servir. Algumas peças poderiam romper-se nessa bolsa.

Harry's Song - Adaptação Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora