Naquela noite, depois do jantar de Harry, o qual a maior parte se negou a comer uma vez mais, Louis subiu ao quarto das crianças com um bloco de papel de desenho e um lápis. Para não assustar Harry mais do que necessário, pediu para Maddy que estivesse presente durante a conversa. Encantada de lhe fazer este favor, a governanta já estava sentada na borda da cama quando ele chegou.
Harry se encontrava sentado à pequena mesa que estava perto da janela, com as mãos fortemente apertadas sobre seu colo, os tornozelos cruzados e os pés descansando sobre a travessa de uma cadeira. Ao ver Louis abrindo a porta, a pouca cor que ficava nas bochechas desapareceu por completo. Apesar do evidente medo que sentia o rapaz não tentou como tinha feito na noite anterior, deixar a cadeira para procurar um canto escuro. Posto que ele duvidava que ficou corajoso de repente, só podia supor que sua audácia se devia ao feito de que Maddy se encontrava perto. Era evidente que se sentia seguro enquanto a roliça mulher estivesse ali para protegê-lo.
A postura erguida de Harry permitiu a Louis vê-lo melhor que na noite anterior e o que viu o deixou consternado. Nos últimos quatro dias, tinha perdido uma quantidade alarmante de peso. Segundo Maddy, não tinha comido quase nada desde a noite em que ele despediu a senhora Perkins; uns poucos bocados de comida e nada mais. A julgar por sua fraqueza, supôs que tinha comido assim mal os três primeiros dias de sua estadia; o qual explicava, mas não justificava as tentativas falhas da senhora Perkins por obrigá-lo a comer.
Louis esperava que depois daquele encontro Harry colaborasse um pouco mais e deixasse de privar-se da comida. Do contrário, não teria mais remédio que aperfeiçoar os métodos da senhora Perkins. Embora não duvidava de sua capacidade de dominar o jovem e obrigá-lo a comer, não gostaria absolutamente de ter que recorrer a medidas tão drásticas. O pobre já tinha sofrido o suficiente aquela casa. A luz do candeeiro titilou nos rebeldes cachos que emolduravam seu pequeno rosto, fazendo ressaltar a cor dos olhos, que, naquele momento, recordavam-lhe florestas verdejantes. Sua roupa, de cor rosa apagado que seria mais apropriada para uma criança, ficava ainda mais folgado que antes. Seu muito gasto tecido se grudava ligeiramente as sutis curvas de seu corpo. A perfeição em miniatura, isso era Harry, encantador de uma maneira que eclipsava as belezas mais voluptuosas que o tinham atraído no passado.
A sugestão de Maddy de que fizesse daquele um autêntico matrimônio voltou a passar por sua cabeça justo naquele momento. Embora odiasse admitir, inclusive para si mesmo, era uma ideia
tentadora. Incrivelmente tentadora. Os aspectos físicos do fato de casar-se com um homem tão formoso não seriam inconveniente algum para ele; nem para nenhum outro homem, na realidade. Mas mais que isto, fazer daquele um matrimônio verdadeiro seria muito menos complicado que o plano original. Infelizmente, a culpa que sentia por atrever-se sequer a pensar em algo assim constituía uma barreira que ele não parecia poder salvar. Havia códigos de decência que um homem deveria obedecer se quisesse respeitar a si mesmo, e alguem com a incapacidade mental de Harry não era um objeto de desejo legítimo.Depois de subir a luz do candeeiro, Louis também se sentou à mesa. Pôs sua cadeira frente à de Harry, com a esperança de que pudesse sentir-se mais tranquilo se ele ficasse a distância. Dado que seu plano consistia em comunicar-se com ele mediante desenhos, supôs que era um bom sinal que parecesse estar fascinado com o bloco de papel e o lápis.
— Olá, Harry! — disse ele em voz baixa.
Afastando o olhar do bloco de papel de desenho, o rapaz olhou fixamente sua boca. A expressão de seu rosto revelava com maior claridade que as palavras que não tinha entendido o que lhe disse. Não era um começo muito alentador. Tinha que lhe fazer entender de algum jeito que a ingestão de alimentos não tinha nada a ver com o fato de que sua cintura crescia cada vez mais. Cuidadosamente coberto com um pano, o prato de comida de Harry se encontrava diante de um de seus cotovelos. As quase intatas porções de comida formavam montículos reveladores sob o linho. Afastando o bloco de papel e o lápis de um empurrão, agarrou o prato, pegou a comida e levantou com o garfo umas quantas ervilhas. Os expressivos olhos do jovem refletiam uma obstinação que surpreendeu a Louis, além de lhe fazer graça. Harry em seguida apertou a boca com força. Era evidente que não tinha a mais mínima intenção de render-se sem opor resistência.
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Harry's Song - Adaptação Larry Stylinson
RandomHarry Styles vive em um mundo solitário em que ninguém pode entrar e compreender. Tão delicado e belo como as doces flores da primavera de Oregon, é rejeitado por um povo que interpreta de maneira equivocada sua aflição. Porém, esta crueldade não po...