Capítulo 3

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A segunda-feira começou agitada para Toni, seu café estava muito cheio. Muitos executivos tomavam café da manhã lá e como o feriado de ano novo havia caído no domingo, a segunda estava começando a todo vapor. Ela entrou e cumprimentou alguns frequentadores assíduos e que haviam se tornado conhecidos, depois entrou para sua sala. Betty já estava lá a esperando.

- Bom dia! Como foi de passagem de ano? E parabéns! – Sorriu lhe entregando um presente com um cartão.
- Obrigada.
- Sei que não é dada a comemorações efusivas. Desejo tudo de melhor nessa vida pra você, muita saúde e sorte, principalmente no amor.

Toni que ainda tinha um sorriso no rosto, o desfez em segundos.
- Nossa! Pela sua cara, sua passagem de ano não deve ter sido nada boa.
- Não foi de todo ruim, poderia ter sido melhor. E a sua?
- Maravilhosa! – Falou pausando cada sílaba. – Primeiro passamos em casa e depois fomos à praia e ficamos por lá até amanhecer.
- Que disposição hein? – Toni ouvia, mas já ligava o computador.
- Também dormimos o domingo todo praticamente.
- Eu também dormi ontem o dia todo, descansei, repassei minha agenda desse ano e agora estou atualizando meus compromissos.
- Como cheguei mais cedo, fiz isso aqui. Você tem uma festa de um ano essa semana.
- Sim, eu ia te perguntar. Você havia me falado, só não lembrava a data.
- É logo na primeira semana, a mãe da criança ligou cedo hoje pra saber dos preparativos. O que vai fazer?
- Será tudo mini, criança adora essas coisas. Então os salgados serão pequenos e os doces também. Eles não querem nada chique, mas pediram uma quantidade maior. Então será servido salgado de festa e depois de cantar os parabéns, vou fazer um mini churrasco. Preciso saber como está o estoque de carne.
- Essa semana vou comprar mais.
- Peça filé bem macio e inteiro, aqui eu oriento o pessoal como quero que cortem. Vou colocar em cumbucas com vinagrete e farofa de alho.
- E os doces?
- Ela pediu espetinho de jujuba, vou incrementar isso, porque ta básico demais. Talvez coloque um bombom de fruta na ponta.
- O que está olhando aí? – Betty perguntou curiosa, pois Toni estava em um site de notícias e havia muitas fotos de cidades alagadas.
- Minas Gerais está embaixo d'água. E pelo que vejo a cidade onde minha família mora também.
- Será que estão bem?
- Não sei, mas não vou me preocupar, afinal, dizem que merda não afunda. – Falou com ironia.
- Deus do céu! Você virou o ano pior do que pensei. – Betty não sabia se ria ou se brigava com ela.
- Pra que vou me preocupar com eles? Quando passei dificuldades aqui, eles não quiseram saber como eu estava.
- Ta bom, mas não precisa ser tão ruim. Não vou te julgar, mas pega leve, o ser humano não precisa retribuir da mesma forma. Ser superior é receber os tapas e devolver em carinhos.
Toni olhou pra ela com uma cara de interrogação.

- O ditado não é esse, mas é por aí. – Betty falou. – Vou ligar para o açougue e te retorno. Já volto. 

Depois que a secretária saiu, ela ficou pensando. Betty estava certa. Era melhor que eles, pois não tinha o coração ruim. Era apenas solitário e assim deveria permanecer. Saiu do site de notícias e entrou no do banco. Como sempre fazia, olhava toda a parte financeira do café, do buffet e a sua. Betty também, mas ela só tinha acesso a da empresa, a conta de Toni não. Como boa mineira, era desconfiada e se resguardava em algumas coisas. Movimentou as aplicações, tirou extratos e após checar tudo fechou o site. Estava terminando de fazer uma lista de compras quando Betty entrou na sala.

- Betty, gostaria que fizesse um favor pra mim.
- Pode falar.
- Procure saber como estão as estradas para Minas e se o pessoal da transportadora que nos presta serviço pode levar um caminhão até lá.

Betty escutava atentamente.

- Se puder, quero que faça uma compra desses itens aqui. – Estendeu o papel.
A secretária pegou e viu que se tratava de itens de higiene, fraldas, alimentos não perecíveis e leite em pó.

- Pode deixar que providencio agora. – Saiu sorrindo. – É, ela não é tão ranzinza assim. – Falou pra si mesma.

Em questão de uma hora estava tudo acertado, o caminhão sairia do Rio no dia seguinte de manhã.

Toni almoçou no café mesmo, preferiu comer uma salada. Betty saiu com Cristina, mas voltou rápido. As duas entraram no café e avistaram a chef ainda almoçando.

- Isso aí, foi as forras no final de semana e agora tem que segurar a boca. – Cristina brincou.
- Ei Cris! Como vai? – Se levantou pra cumprimentá-la.
- Bem, graças a Deus.
- Senta gente. Já estou terminando.
- Sem pressa, almoçamos no shopping, Cristina queria trocar um presente de Natal.
- Minha família é assim, nunca dá presente, quando dá é do tamanho errado. – Riu.

Cristina era mais alta que Betty, não era gorda, mas tinha o corpo mais forte. Cabelos loiros e estava sempre bem-humorada. Toni pensava que era por isso que Betty não largava dela, era impossível brigar com Cristina. Depois que almoçaram as três subiram para o escritório e quando estavam entrando um funcionário falou antes que abrissem a porta.

- Toni, um rapaz veio pra entregar uma encomenda pra você. Como não queria te incomodar na hora de seu almoço, eu autorizei e o acompanhei a entrar na sua sala, está em cima da mesa.
- Ok, obrigada.

A sala de Betty era conjugada com a de Toni, porém separada por uma parede de vidro, ambas as salas com cortina, pra dar privacidade às duas. A chef abriu a porta sem expectativa nenhuma sobre o que era. Em cima da mesa estava uma caixa muito bem embrulhada com um laço verde. - Nossa! Presente de Natal atrasado! – Betty brincou.
- É seu? – A chef perguntou.
- Não.
- Ué, de quem será? – Abriu o laço e destampou a caixa. Dentro havia uma orquídea com um cartão e ao lado outra caixinha e dentro dela um relógio lindíssimo de ouro branco com uma pulseira de couro.
- Que linda! Adoro orquídeas! Quem mandou?

Toni abriu o cartão e leu a mensagem: Desejo que seu ano comece com muito trabalho, bons negócios e mais conquistas. E que tudo venha acompanhado desse lindo sorriso que tens. Obrigada pela companhia, gostaria de tê-la ao meu lado novamente. Pode me dar essa honra?

- Mas que coisa... – balançou a cabeça negativamente.
- Quem mandou? Me deixa ver!
- Toma. – Toni jogou o cartão na mesa. – É da Cheryl.
- O que!?!? Como assim? Me conta isso direito! – Betty estava perplexa.
- Nos encontramos por acaso na praia e aí choveu, ela estava a pé e eu de carro. Fomos até minha casa e lá ceamos, depois ela foi embora e só.

Betty lia o cartão e embaixo em uma letra pequena estava a frase: Desculpe pelo beijo, mas foi irresistível! – Leu para Toni. – Ah sim e esse beijo foi o que?

- O que?
- Não leu todo o cartão? – Tentava segurar o riso.

Toni pegou o cartão de volta e viu a frase bem embaixo. Teve vontade de matar Cheryl.

- É, rolou um beijo, forçado e depois ela se desculpou.
- Tô vendo, mas pelo visto foi um pedido de desculpa esfarrapado. – Riu.
- Pare de rir! Não aconteceu nada demais e nem vai acontecer.
- Incrível! Metade das mulheres lésbicas da cidade querem ter um caso com Cheryl Blossom... – Cristina falou.
- E a outra metade já teve. – Toni completou a frase. – Não serei a estatística dela.
- Nunca poderia imaginar que teria alguma coisa com ela. – Betty falou.
- Não tenho nada com ela!

Medida CertaOnde histórias criam vida. Descubra agora