Capítulo 9

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Como de costume, Toni levantou cedo. Quis ligar para Cheryl, mas achou que ia parecer uma adolescente ansiosa. Não sabia se era pra ir logo ou pra ir perto do almoço, então saiu de casa as nove e foi devagar até chegar ao apartamento dela. Anunciou na portaria e sua entrada foi autorizada. Cheryl a atendeu enquanto falava ao telefone. Piscou pra ela e fez sinal para que entrasse.
- Eu sei, já falei com eles que se não mudar a modelo a campanha não vai dar certo. Sabe como esse pessoal é né Archie? Querem do jeito deles e que dê resultado. Já dei a minha opinião, se não mudarem paciência. Vou fazer com que assinem um termo de compromisso... Sim... não tô ligando se a campanha decolar e eu ficar com cara de tacho. Eu simplesmente acho que não vai dar certo porque a modelo é feia e sem talento. Infelizmente a mídia não perdoa, o comercial ficou amador... Ta bom, amanhã a gente conversa... Sim, se eles não mudarem vai ser veiculado na terça de manhã. Ok, beijos.
Toni tinha ido para a varanda, estava distraída olhando a vista. Cheryl chegou por trás dela e passou o braço em sua cintura.

- Ei, bom dia. – beijou seus cabelos.
- Desculpa te atrapalhar no telefone.
- Não atrapalhou. Archie me ligou preocupado com uma campanha que fizemos de uma marca de lingerie. Não gostei da modelo, os donos insistiram em colocar a filha deles e não ficou legal.
- Ela é feia, pelo que você falou. Perdoe, mas não teve como não ouvir.
- Sem problemas, não é segredo na agência que eu achei ela feia. – riu. – Digamos que ela não segue os padrões e o mercado hoje em dia é cruel. Bom, fiz a minha parte, se não mudarem, vão arcar com o prejuízo.
- E você fala na cara deles que a campanha não vai dar certo?
- Claro! Com jeito né? Preciso dizer, senão eles colocam a culpa na agência. É sempre assim, vêm com a ideia mais banal e quer que a gente faça um milagre.
- Sei como é isso. Já tive cliente que pediu pratos que não combinavam com a época do ano e isso estragou totalmente a festa. No início eu aceitava, tinha pouca experiência com as pessoas. Depois passei a me impor e não acatar todas as ideias dos clientes. Quando dá errado, sempre sobra pra quem fez, não pra quem idealizou.
- Pois é. – Cheryl a abraçou mais forte. – Dormiu bem? – Mexeu nos cabelos dela.
- Sim, acordei cedo. Não consigo acordar tarde, mesmo cansada eu levanto, faço minhas coisinhas e até durmo de novo depois.
- Eu acordei pouco antes de você chegar. – Riu sem graça. – Tomei um banho e quando saía Archie me ligou.
- Dorminhoca. – Toni se virou e beijou-lhe os lábios.
- Muito, embora não me orgulhe desse defeito.
- Não é defeito, é uma característica. – Sorriu.
- Quer sair pra darmos uma volta?
- Está tão calor Cheryl! Confesso que se sairmos prefiro ir de carro.
- Ta bom, a gente passeia e depois almoça.
Saíram de carro e rodaram pela cidade, até que resolveram almoçar em Niterói.
- Não conhecia esse restaurante. – Cheryl falou olhando em volta.
- É, digamos que eu conheça muitos restaurantes, bistrôs, cafés e lanchonetes. O dono desse lugar já foi meu chefe também. É um dos responsáveis por eu ser quem sou.
Quando terminou de falar Antônio apareceu. 

- Toni! Que surpresa!
- Oi Antônio, quanto tempo! – Abraçou-o.
- Se soubesse que viria teria preparado algo especial.
- Que isso, tudo que faz já é especial. – Sorriu. – Essa é minha amiga Cheryl, a trouxe aqui para conhecer seu restaurante.
- Muito prazer. – Falaram.
- Não vou pedir nada, quero sua sugestão. – Toni falou.
- Então sentem e fiquem à vontade.
Antônio entrou para a cozinha e pediu que as servissem. A sugestão foi Kebab de Frango em Diana da de coentro. As duas almoçaram se deliciando.
- Nossa, ele é bom hein?
- Um mestre da culinária em minha opinião. – Toni comentou.
Depois de almoçarem foram até a cozinha conhecer a equipe e não teve um que não pediu um autógrafo de Toni. Cheryl se impressionou com aquilo. Dentro do carro ela falou empolgada.
- Meu Deus! Nunca namorei uma artista.
A chef teve que rir.
- Deixa de ser boba! Nem sou famosa. Quando tinha a idade deles eu também pedia autógrafo aos chefs que mais gostava, aliás, faço isso até hoje.
- Fala como se fosse uma velha, aquele pessoal é quase da sua idade. Se tiver alguém velho aqui sou eu.
- Trinta anos nas costas viu?
- Vou fazer trinta e seis e nem por isso fico dando uma de anciã.
Toni ria do jeito de falar da ruiva, realmente era divertido passar o dia com ela. Cheryl parou de graça e falou olhando para a chef.
- Desde que saímos do meu apartamento estou louca pra te dar um beijo, mas não tivemos oportunidade. Agora eu posso?
- Não vão nos ver? – Toni olhou em volta.
- Os vidros desse carro são tão escuros que não veem nem um urso polar aqui dentro. É só um beijo, não vou te agarrar.
Mas a promessa não se cumpriu. Entre um beijo e outro, Cheryl não se segurou, passeou suas mãos pelo corpo de Toni e ela não resistia. Aquele amasso só parou porque bateram no vidro. Toni se recompôs rapidamente e Cheryl baixou o vidro com a cara mais lavada.
- O que foi?
- A senhora tem um trocado?
- Garoto como soube que tinha gente dentro do carro? – A cara era de espanto.
- Pelos movimentos. – O menino respondeu com malícia. 

Medida CertaOnde histórias criam vida. Descubra agora