Capítulo 14

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No café Betty a escutava pacientemente...
- Ficou com raiva. – Foi a última frase que disse ao contar o que tinha acontecido para a secretária.
- Ah jura que ela ficou brava?! Que mulher mal-humorada, não? – Debochou.
- Deixa de ser palhaça.
- Eu que sou a palhaça aqui? Talvez esteja enganada. – Saiu deixando a outra sozinha e de boca aberta.
- Ta ficando abusada essa mulher. – Falou entre dentes.
Betty se trancou em sua sala e ligou para a agência pedindo pra falar com Cheryl.
- Mulher ela ta pisando em ovos aqui. Toda preocupada.
- Ridícula aquela cena dos dois, achei aquilo uma infantilidade e não esperava isso dela. Quando penso que dou um passo pra frente, na verdade estou dando dois pra trás. Toni é imprevisível demais e muito, mas muito imatura. Parece outra pessoa com essas atitudes bestas.
- Ela fez pra implicar com você, tenho certeza disso.
- Quer implicar comigo? Então seja mais criativa, porque me provocar ciúme é golpe baixo. Tenho horror disso! Ela que fique com ele e suas massagens então. Vou viajar e não quero vê-la até voltar e se prepare, amanhã vou mandar o pessoal aí pra fazer a reforma da sala dela. Pegue tudo que puder e deixe na sua sala, depois que a dela estiver pronta eles vão reformar a sua também.
- Meu Deus! Vou comprar um calmante pra dar a ela então, a mulher vai enfartar.
Cheryl riu do outro lado da linha e desligou. Preparou tudo com a equipe que faria a reforma e deixou marcado para o dia seguinte. Toni passou o dia tentando falar com ela. Tentou de todas as formas, e-mail, celular, na agência e até um motoboy que deixou um envelope com uma pequena caixa para a publicitária.
- Meu Deus, olha o que estou fazendo! Nunca usei serviço de motoboy pra mandar cartinha pra namorada. Que coisa pavorosa! – Falou a chef pra si mesma.
- Pavoroso ou não, estou orgulhosa de tentar falar com ela e se empenhar em consertar o que fez. Significa que aí dentro ainda tem um coração e não uma pedra mineira. – Disse Betty entrando na sala. Pegou alguns envelopes e ia saindo.
- Aonde vai com isso? – Toni perguntou surpresa.
- Vou... vou levar pra dar uma revisada nessas notas, acho que não foi tudo pra contabilidade.
- Hum... – a chef olhou desconfiada.
Betty queria ajeitar tudo e iria aproveitar que Toni sairia mais cedo pra preparar tudo pra obra. Quando ela saiu, Betty acelerou a mudança. Não queria nem pensar no quão irritada ela ficaria, na verdade nem queria estar perto, mas não ia ter jeito.
Durante o jantar Toni tentou ligar para Cheryl, mas sem sucesso. Agora, já estava chateada e ao mesmo tempo preocupada com o sumiço da namorada. Quando voltava pra casa, já bem tarde é que recebeu uma mensagem no celular. Se pegou ansiosa para ler, normalmente não tinha esses rompantes, mas o que era normal em sua vida nos últimos meses? Era Cheryl avisando que viajaria no dia seguinte.
- Antecipou a viagem? Mas por quê? – se perguntou. Tentou ligar na mesma hora, mas deu desligado. Bufou de raiva e decidiu não pensar nela. O que foi em vão, pois passou a noite lembrando o que tinha feito de manhã e estava realmente arrependida.
Acordou como de costume só que dessa vez sem ter que aguentar o enjoado do fisioterapeuta. Foi para o escritório, mas achou que estivesse sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo. Sua sala estava uma bagunça total.

- Mas o que aconteceu aqui?
- Não sei, uma reforma. Estou horrorizada também. – Fingiu a secretária. – Quando cheguei esses moços estavam aqui quebrando tudo, tive tempo de tirar suas coisas e alguns móveis.
- Por que você deixou?! – Toni estava escandalizada.
- Ué, eles disseram que foi ordem sua, eu achei estranho também, você não falou nada. Eles trabalham em parceria com a Rio Quality.
- Isso é coisa de Cheryl! Eu disse a ela que iria pensar sobre essa reforma... reforma não, bagunça. Sacanagem o que ela fez, vou ligar agora pra ela e podem parar com essa confusão. – Gritou com os rapazes que já entravam com placas de gesso no local.
Como no dia anterior, ela não conseguiu falar com a namorada e aí se lembrou de que tinha viajado. Não teve outra alternativa a não ser aguentar aquela desordem em seu escritório. Ficou na sala de Betty por dois dias e no terceiro já estava irritada, pois havia tido um pequeno atraso e a sala seria entregue no terceiro dia. Toni nem foi trabalhar, pra não ter que dar de cara com ninguém, de tanto mau humor que estava.
Passou o final de semana sem notícias de Cheryl e sem ir ao café. Na segunda-feira, apareceu bem cedo e se surpreendeu: seu escritório estava lindo. Não podia negar, até porque seu rosto entregava.
- E não é que ficou bom? – Betty falou quase rindo da cara da chef.
- Tenho que admitir que o trabalho foi fantástico.

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