Capítulo 22

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Olharam-se como se estivessem num sonho, ou talvez pesadelo pra Toni. Ariana sempre teve um corpo bonito, os olhos expressivos. Costumava dizer que não era bonita, mas tinha charme e sabia muito bem usá-lo. 

- Quanto tempo? – Ariana perguntou.
- Pois é... – Toni queria sair correndo dali ao mesmo tempo em que queria mostrar tudo que tinha conquistado na vida e esfregar na cara dela.
- Te vi na televisão, você está morando no Rio agora?
"Agora?!" – pensou a chef.
- Moro aqui há anos, depois que saí de casa.
- Está sozinha? Por que não vamos jantar colocamos o papo em dia?
Toni teve vontade de dar um soco na cara dela, depois de anos, de abandoná-la e traí-la, agora queria colocar o papo em dia. Era muita cara de pau.
- Não posso, estou ocupada, só vim comprar um remédio.
- Se sente mal, o que aconteceu? – A mulher tocou o braço dela tentando ser gentil.
Toni se esquivou num gesto brusco e fechou o cenho.
- Não encosta em mim. Me dá licença, preciso ir.
Pagou o remédio e saiu sem pegar o troco. Entrou no prédio ainda tendo o cuidado para que a outra não a visse, não queria ninguém atrás incomodando. Seu coração disparou e suas mãos estavam trêmulas. Sabia que se um dia visse sua ex se sentiria assim. Respirou fundo e aos poucos foi voltando ao normal. Não queria entrar no apartamento daquele jeito. Cheryl ia perceber logo de cara. Antes de subir pro quarto lavou o rosto no lavabo. Quando entrou, viu a ruiva deitada de lado, abraçada num travesseiro. Colocou a mão na testa dela e percebeu que estava bem quente.
- Ei querida, trouxe o remédio. – Entregou o copo com água e um comprimido. – Comprei um termômetro, não sabia se você tinha. – deu a ela pra medir a temperatura.
Cheryl já estava visivelmente abatida. Toni ficou penalizada e de certa forma se sentia culpada, afinal ela estava assim por conta de um pneu furado.
- Tá vendo, por causa de um pneu você ficou assim.
- Poderia ser por qualquer coisa, não deixaria você na mão.
- Se tivéssemos chamado o seguro, você não estava gripada.
- É bom que assim eu ganho colo. – fez um bico pra dramatizar.
- Ah, você ganha colo sempre.
Toni se ajeitou na cama e fez Cheryl deitar com a cabeça em seu peito. Instantes depois tirou o termômetro e realmente ela estava com muita febre.
- Até que a febre ta alta viu? Está com trinta e nove. O remédio vai ajudar. Está sentindo mais alguma coisa? Quer que eu faça algo pra você comer? Não quis comer o pão.
- Não, sinto só dor no corpo mesmo. Eu quero só colo, isso vai me fazer bem. – Falou fechando os olhos e abraçando a mais nova.
Toni beijou o topo da cabeça dela e ficou fazendo carinho em suas costas até que Cheryl acabou dormindo. Ficou pensando no encontro com Ariana, qual seria a chance de encontrar com ela de novo? Não sabia se torcia pra isso acontecer ou se rezava pra não vê-la outra vez. O sentimento de vingança que tinha no coração havia diminuído depois que encontrara Cheryl. Antes, quando estava só, nenhum dia se passava sem que ela se lembrasse da ex, com ódio, rancor, sentimentos ruins misturados numa vontade de esfregar toda sua trajetória na cara dela. Nem se deu conta de que tudo isso havia dado lugar para o amor. Olhou pelo vidro da porta, a chuva tinha diminuído e agora caía uma garoa, que esfriou ainda mais o tempo. Dormiu abraçada a ela, num sono tranquilo, seguro e era muito bom.
De madrugada Cheryl se remexeu, parecia sonhar com alguma coisa. Toni pôs a mão na testa dela e estava bem quente.
- Ei, amor, acorda... Está sonhando. – era a primeira vez que a chamava de amor.
Cheryl se assustou e abriu os olhos. Sentia calor apesar do frio.
- Vem tomar banho, você está muito quente. – Toni chamou. – Toma o remédio de novo.
A ruiva não questionou nem falou nada, fez o que ela mandou e entrou para o banho. Deixou uma água morna cair. Toni também tirou a roupa e ficou com ela.
- Vai acabar gripando. – Cheryl advertiu.
- Se for preciso pra cuidar de você, tudo bem. – Sorriu.
Ficaram abraçadas um bom tempo, até que Cheryl quis sair. Sentiu a febre ir baixando e o sono voltando. Lembrou de ter escutado Toni chamá-la de amor, mas bem poderia estar delirando. Afinal, estava com febre. Deitou e se cobriu deixando os braços para fora. Podia estar o frio que fosse, mas ela sempre dormia assim.
- Não vai se cobrir?
- Gosto de sentir os braços mais fresquinhos.
- Ai meu Deus. – Toni riu. – Então dorme. – Beijou o rosto dela e novamente ficou mexendo em seus cabelos até sentir que ela dormira.
Amanheceu e elas continuaram dormindo. Foi Toni quem acordou primeiro e logo mediu a temperatura de Cheryl, estava mais baixa, somente num estado febril. Ela dormia tranquila, então não quis acordá-la. Decidiu preparar um café da manhã bem completo, se é que Cheryl teria alguma coisa na geladeira.

Medida CertaOnde histórias criam vida. Descubra agora