No sábado de manhã, ambas estavam na expectativa. Cheryl queria ir logo para casa de Toni, mas achou ridículo chegar muito cedo, seria bandeira demais. Já a chef andava de um lado pra outro pensando no que preparar para a sua convidada. Como gostava de peixe, resolveu seguir a intuição. Por fim cozinhar a distraiu e quando temperava o linguado o interfone tocou. Foi correndo atender.
- Entrega de uma garrafa de vinho.
- Opa, é aqui mesmo. – abriu se sentindo animada.
Cheryl entrou e logo ela a recebeu na porta com um sorriso.
- Bom dia.
- Cheguei muito cedo? – Vinha com capacete em uma das mãos e uma pequena mochila nas costas.
- Não, chegou na hora. Estava temperando seu almoço, aliás, nosso.A ruiva gostou de ouvir aquilo.
- Quer esperar na sala ou ir pra cozinha comigo?
- Ah, prefiro vê-la cozinhar.
- Está animada pra andar de moto hein?
- Adoro andar de moto, um dia eu pego a estrada e vou pro sul.
- Nossa que longe! – Toni brincou.
Seguiram pra cozinha e Toni preparou a frigideira pra dourar o peixe.
- Vai dar uma fumacinha, mas não assusta. – Jogou as postas de peixe e depois o azeite e um molho que Cheryl não soube dizer o que era.
- Gosto de dourar porque fica crocante por fora e macio por dentro.
- Que peixe é?
- Calma, me deixa terminar.
Pacientemente a publicitária esperou com os olhos atentos aos movimentos de Toni. Ela foi colocando o peixe e por cima um molho. Depois fez uma salada bem rapidinha e serviu com arroz simples.
- O arroz é opcional, não precisa comer se não quiser.
- Estou com fome, vou comer tudo. – Riu.
- Essa é minha tática, deixar os convidados com fome pra impressionar na hora de servir. Se ficar bom ou não, eles vão gostar do mesmo jeito.
- Você não precisa disso. O que vamos comer?
- Linguado com molho de limão e cogumelos.
- Hum. – Cheryl fez uma cara de cobiça pra cima dos pratos.
- Eu gosto de peixe, então arrisquei.
Serviram-se e almoçaram batendo papo. Era disso que Cheryl sentia falta e só podia ficar grata. Não era só a presença de Toni, mas a delicadeza em chamá-la pra almoçar.- Se pudesse, faria isso todos os dias. – A ruiva falou mais pra si mesma.
- O que disse?
- Pensei alto, mas posso repetir. Se pudesse faria isso todos os dias da minha vidinha. – falou franzindo o nariz.
- Vidinha? Sua vida é ótima, do jeito que falou parece até que não gosta dela.
- Gosto em partes, adoro meu trabalho, amo o que faço e é aquele discurso profissional que você já deve conhecer. Mas quando se trata da vida pessoal, é vazia, muitos contatos, poucos amigos. Não sou chegada à rotina, mas gosto de dividir o dia a dia. Entendeu?
- Não. – Toni a olhava com certa curiosidade.
- Archie sempre me repreende por nunca ficar com uma pessoa por muito tempo. O problema é que as mulheres com quem namorei são vazias, previsíveis, fúteis e essas coisas a gente enjoa muito fácil. Por isso sempre terminei, sempre dei a desculpa do "não é você, sou eu". – Fez a chef rir. – Eu quero ter alguém pra discutir comigo, me contrariar, alguém que pense e me faça até raiva às vezes.
- Uma mulher de personalidade então.
- Por aí... não precisa ser turrona ou mal humorada, do contra. Alguém que eu possa conversar.
- E não serve uma amiga?
- Serve, mas e a paixão? O amor? A vida a dois que deve ser uma delícia.
- Você diz deve ser, então nunca experimentou?
- Sinceramente? Não, o máximo que já namorei até hoje foram dois anos e no final a coisa estava periclitante. – Brincou.
Toni ligou o som e deixou tocar as músicas dos cd's que Cheryl havia lhe dado.
- Gosta mesmo do Ed Sheeran, não?
- Em especial dessa música. – no momento tocava Give Me Love e como sempre, quando escutava, Toni se sentia invadida pela letra e melodia.
Cheryl escutava atentamente e olhava pra ela, que agora retirava os pratos da mesa e ia levando pra cozinha. Naquele momento um sentimento de proteção tomou conta dela. Não sabia se era por ouvir a música e se deixar emocionar ou se era algo de fato acontecendo. Queria pegar Toni e abraçá-la.
- Você quer comer a sobremesa agora? – Perguntou tirando a ruiva de seus pensamentos. Reparou que Cheryl tinha os olhos marejados, mas preferiu ser discreta e não perguntar nada.
- Agora não, quero sentar naquele sofá confortável e conversar com você.
Toni olhou pra ela, achou que veria algum sinal de audácia ou malícia, mas não. Somente terminou de retirar as coisas da mesa e foi pra sala.
- Sempre que come você tem que recolher as coisas e deixar tudo arrumado? – Cheryl pareceu curiosa.
- É um costume que adquiri em casa. Confesso que nem sempre acho bom, mas não consigo perdê-lo. Minha mãe é uma exímia dona de casa. Gosta de tudo muito limpo e impecavelmente arrumado. – Riu. – Cresci ouvindo que não podia entrar de sapatos em casa, que não era pra sentar na cama, não colocar copo nos móveis. No fim das contas eu mesma criei o hábito de deixar tudo arrumado.
- Mas não é ligada nessas coisas?
- Não. – Ela riu. – Só na cozinha. Minha roupa de ontem, por exemplo, está lá jogada na cadeira do meu quarto.
- Ainda bem, achei que era uma lunática.
- Sou muito organizada, gosto de ter tudo à mão, porque ganho tempo com isso.
- Ta certa. Eu sou meio bagunceira.
- Sério? Nem parece, você tem cara de ser enjoada.
- Que isso! Me acham tão legal. – Cheryl fingiu mágoa.
- Você é legal, mas parece ser exigente.
- Sou, mas confesso que me atrapalho no quesito organização. Penso rápido demais e às vezes nem eu consigo me acompanhar. Você disse que sou legal. Acha mesmo isso?
- Acho. – A chef sorriu timidamente.
- Que mais você acha? – Cheryl tentava uma aproximação. Foi chegando mais perto.
- Te acho inteligente.
- Hum... – fez uma cara pensativa e foi chegando mais perto.
- Engraçada.
Mais perto.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Medida Certa
Fiksi PenggemarToni tem seu coração completamente protegido atrás de um parede de puro concreto e aqueles que tentarem se aproximar dele serão friamente desencorajados! Porem Cheryl não vai desistir facilmente.. Esta fic é uma adaptação. Todos os direitos reservad...