Entro na sala de aula observando Mr. Lotim escorado no balcão central com a testa brilhando de suor, por mais que seja cedo e os fios de cabelo grisalhos cada vez mais ralos, atrás dele em um contêiner transparente e selado está um beta que se debate e rosna contra as amarras e mordaça, para cada novo integrante na sala. Seus olhos azuis brilham contra a esclera preta, e o homem não tem nenhum machucado em sua pele pálida, apenas marcas de sangue ao redor da boca.
Caminho até uma das cadeiras afastadas me sentando e deitando meu rosto no mármore frio, ouvindo o cumprimento do nosso professor para os alunos que chegam. Um baque na porta de fechadura me faz levantar a cabeça, sabendo que a tortura vai começar.
- Bom dia, hoje vamos estudar as propriedades químicas presentes no material genético de um beta. Alguém pode me dizer porque sabemos que esse é um beta? - Pergunta inicialmente Lotim, e não demora até que Hellen erga a mão, balançando seus fios de cabelo com o ato, quase em uma pose de superioridade. Sem esperar a confirmação que pode falar a mesma começa a dizer com aquela estridente voz.
- A força de um beta é maior do que a de um ômega, e durante a captura deste os ômegas do grupo tentaram os defender, mostrando uma clara submissão hierárquica. Além de que os seus caninos são mais alongados do que os dos ômegas, mas menores do que os de um alfa, e as veias em seus olhos são mais escuras, assim como a íris é mais brilhante, e como já estudamos, quanto mais escuro e em maior quantidade mais poderoso o zumbi é. - Diz a mesma, finalizando seu monólogo.
As vezes me pergunto como pessoas como ela ainda estão vivas, e como alguém pode ser tão mesquinho e tolo achando que é superior na situação em que nos encontramos. O professor apenas concorda com a sua explicação e faz um esquema de pirâmide com as classes. Na base se encontra os ômegas, meio betas e no topo os alfas, o mesmo desenha uma seta apontando para cada classe e descrevendo suas características.
Assim que o mesmo deixa o canetão sobre o balcão a porta é escancarada e Trish aparece com a cara deslavada de sempre. Reviro meus olhos a vendo arrumar o cabelo ruivo apostando a minha vida que ela estava trepando.
- Bom dia senhorita Trisha, veio nos agraciar com a sua espetacular presença? - Pergunta ironicamente o homem a minha frente, me fazendo sorrir discretamente, já imaginado a resposta de Trish.
- Bom dia Mr. Lotim, estava de bom humor e vim o compartilhar com o senhor. Parece que anda precisando. - Responde a ruiva o olhando de cima a baixo antes de caminhar até mim e se sentar ao meu lado, me deixando no meio dela e Jay.
O homem apenas solta um suspiro antes de ignorar a fala de Trish e voltar a falar.
- A amatoxina é um são um subgrupo de pelo menos oito compostos tóxicos encontrados em vários géneros de cogumelos venenosos, e por mais que pareça inofensivo, uma porção de trinta gramas é capaz de matar um ser humano. Nas presas dos zumbis nos encontramos uma substância tóxica similar a essa, e de acordo com cada classe existe uma maior proporção do veneno. Os alfas obviamente detém a maior quantidade da toxina que é o que acreditamos ser o maior ponto para transformar alguém. Mas... quem pode me explicar o curioso fato de pessoas que foram mordidas e ainda sim não foram contaminadas?
Antes de qualquer pessoa possa se manifestar, Hellen torna a falar.
- Para a contaminação ser eficiente, o zumbi precisa injetar o veneno na corrente sanguínea da vítima, e não apenas morder, o veneno está depositando no interior das presas e o zumbi pode escolher transformar o humano ou não. - A mesma diz, e ao meu lado posso ouvir Trish a xingar em tom mediano.
O velho homem apenas concorda antes de continuar a aula, vez ou outra apontando para o beta dentro do contêiner, nos citando alguma informação.
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Apocalypse
Teen FictionA vida é uma merda, e Ava, uma sobrevivente do vírus X-18 sabe bem disso. O vírus X-18 nada mais é do que uma mutação que atinge o corpo humano após o veneno da mordida de um contaminado entrar em contato com o sangue de um dos não infectado, mas a...