End

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O luto é caracterizado por cinco estados.

A negação.

Meus joelhos tremem e meu corpo entra em colapso, a dor de meu âmago me faz cair ao seu lado, e ergo meus dedos em um frenesi, tocando seu rosto, isso não pode ser real. Não passa de um equívoco, minha mente é tão tola que quer me convencer que seu peito está mexendo, mesmo que a minha mão sobre seu abdômen não oscile nem por um segundo.

Raiva.

Porque comigo? Porque com ele? Porque com Ume? Fecho meus olhos com força e escondo meu rosto contra os joelhos, rente ao meu peito. Enrosco meus dedos em meu cabelo, e bato com as mãos em punho contra as têmporas, a minha garganta se fecha e é como se um punho invisível começasse a envolver meu pescoço, todo meu corpo parece queimar de indicação e puro ódio, como se eu estivesse mergulhada em óleo fervente.

Barganha.

Mesmo trêmula envolvo seus dedos tão gelidos e extensos comparados aos meus, os levo a minha boca, roçando meus lábios trêmulos nos nós ensanguentados de sua mão. Começo a orar um terço implorando que seja mentira, peço para qualquer divindade existente para que o traga de volta. Não o tire de mim, eu juro que dou qualquer coisa em troca, apenas o devolva para mim.

Depressão.

Me sinto estremesser antes de cair em choro, pela primeira vez em anos as lágrimas escorrem pelo meu rosto, com tanto frenesi que embaça toda a minha visão, e aproximo meu corpo do seu, o abraçando e pousando meu rosto contra seu peito, que não se mexe mais.

Minha mão fica sobre seu estômago e meu corpo tem pequenos espasmos trêmulos que percorrem minha espinha e me deixam arrepiada, de uma forma nada boa, como ele me fazia me sentir.

Aceitação.

Meu corpo aceita, aceita que esse peito não vai mais se mover em longas e calmas respirações e que meus olhos jamais vão conseguir contemplar seu sorriso outra vez. A verdade é uma facada impiedosa que se crava profundamente em meu peito, deixando um gosto amargo na boca.

Minhas lágrimas se secam e meus punhos se fecham sobre seu peito imóvel, minha boca permanece entreaberta em um grito mudo de plena agonia, enquanto minha mente se relembra de uma cena similar, de dias atrás, que parece pertencer a outra vida. Doces lembranças.

As mãos de 001 percorrem minhas costas nuas, e um arrepio passa pela minha pele, pelo contraste da sua gélida com a minha cálida. Fecho meus olhos com a mão espalmada no centro do seu peito e o movimento quase inexistente me faz me aconchegar mais, gemendo baixo ao sentir o mamilo dolorido de meu seio tocar na lateral de seu corpo.

- Sabe... você é muito importante para mim. - As palavras deixam minha boca quase em um sussurro, ele apenas ergue os olhos, as escleras pretas parecendo quase cinzas de tão claras, como se eu fosse o brilho que ele precisa para viver.

- Você também é importante para mim. - Sua voz me faz sorrir, e abaixo meu rosto para seu peito novamente, achando que ele terminou, mas ao contrário do que eu imagino, ele continua. - Des da primeira vez que te vi, eu soube que você era diferente. Não amei você apenas por ser minha companheira, mas sim porque você... é você. Faz sentido?

Sorrio com total compreensão, uma vez que eu nunca o identificaria como companheiro por ser humana, mas que mesmo assim me apaixonei por ele. Não aquele amor tolo dos filmes que eu costumava assistir, não a paixão a primeira vista, mas eu me apaixonei por quem ele se mostrou ser, pelo cuidado em suas ações. Pelo globo de neve, pelo balanço no parque, pela leitura do livro até que eu dormisse, pelos abraços apertados nas noites em que a preocupação me sufoca. É impressionante como algumas pessoas têm o dom de carregar toda a calmaria do mundo em seus braços, e que mesmo em pouco tempo, você consiga ser totalmente inundada por essa paz.

ApocalypseOnde histórias criam vida. Descubra agora