Me arrependo de ter o procurado no momento em que me sento ao seu lado, no parapeito da sacada. O contorno firme de seu maxilar me faz morder a parte interna da bochecha, e leva o meu tolo estômago a se contrair. Limpo a garganta olhando para o chão, observando as ruas escuras em comparação a iluminação do hotel, lá embaixo os carros abandonados parecem de brinquedo e os poucos deles que consigo ver, são semelhantes a bonecos de tão pequenos.
- Queria pedir desculpas pelo que eu falei ontem. - Sussuro com a cabeça baixa, constrangida e sem coragem para fitar seus olhos. - Eu... Só... me desculpe. É tudo novo para mim. - Dou a mais esfarrapada das desculpas, totalmente nervosa. Ele em resposta apenas acena com a cabeça, como se estivesse aceitando minhas palavras, e ainda nervosa eu me pronuncio novamente. - Você não vai dizer nada?
- Posso esquecer as palavras que você me disse, até posso esquecer as coisas que você me fez, mas não posso sarar os sentimentos que você feriu. - O mesmo responde me fazendo engolir a seco, entreabro meus lábios, pronta para me defender, mas ele continua, antes que eu o faça. - O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor. Essa é uma frase que ouvi, tudo isso também é novo para mim, por incrível que pareça eu não pedi uma companheira. Mas eu aceito suas desculpas. - O tapa verbal faz meu corpo latejar e se contrair. Merda.
Ainda em choque eu o vejo se levantar e me dar as costas, andando até a porta de saída. Mortificada cruzo meus braços, emburrada.
O barulho da porta se fechando é o que realmente me faz ter certeza que ele foi embora, a decepção por eu ter imaginado outra situação cresce em meu peito. Um grunhido escapa de minha boca e me nego a ficar aqui, perdendo meu tempo. Me ponho de pé e começo a caminhar até o quarto onde estou, e assim que fecho a porta, minhas mãos param sobre a mobília de madeira, fecho meus olhos por um longo momento ponderando se devo bloquear a porta ou não, até me descidir e me deitar na cama.
Foco minha atenção no teto do quarto, iluminado apenas pelo brilho do abajur sobre a cabeceira da cama, e meu olhar se detém em uma porta no canto direito, perto do closet, já havia tentado abrir a mesma, todavia ela está trancada, me deixando curiosa sobre o que tem do outro lado. Suspiro saindo de meu devaneio. Ergo minha mão desligando o mesmo e mordo meu lábio inferior me deitando de lado e observando a escuridão da noite, sem conseguir acreditar que cada palavra dele reverbera em minha mente. Mais que merda.
[...]
Um dia inteiro. Ele não fala comigo dês da noite anterior. Filho da puta. Indignada fecho minhas feições, sentada em um dos bancos ao canto do lobby, em uma espécie de bar, enquanto observo ele e Ume conversando do outro lado do salão. Harper que está atrás do balcão, preparando algum tipo de drink me olha pela oitava vez com uma cara de riso.
A loira me entrega um copo com um conteúdo azul, que cheira a pura vodka e laranja, mordo o canudo antes de dar um gole na bebida e tossir pelo forte gosto de álcool na boca.
- Harper, quer me matar? - Exclamo rindo, e batendo no peito sentindo minha garganta latejar pela bebida.
A mesma ri, se sentando ao meu lado e pelo canto dos olhos mira a atenção em 001 e Ume, e sem conseguir, foco minha atenção nos dois que parecem tão íntimos, sendo surpreendida quando a mulher toca descaradamente seu peito.
- Será que eles não perceberam que estão em público? - Resmungo de mal humor, tomando mais da bebida.
- Será que você não percebe que está morrendo de ciúmes? - A loira pergunta de forma retórica, e olho de cara feia para a mesma, fazendo um biquinho emburrada em seguida.
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Apocalypse
Teen FictionA vida é uma merda, e Ava, uma sobrevivente do vírus X-18 sabe bem disso. O vírus X-18 nada mais é do que uma mutação que atinge o corpo humano após o veneno da mordida de um contaminado entrar em contato com o sangue de um dos não infectado, mas a...