Trinta e Cinco

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   Está me matando ficar longe de Jungkook. Ele é tudo o que eu consigo pensar, mas não quero que ele me veja assim. Fraco. Assustado. Não consigo nem lutar. Pensei que eu tinha passado por tudo isso, voltado à minha vida normal depois de mais de um ano do acontecido. Mas os pesadelos estão de volta. Eu não consigo dormir e o maldito Namjoon não vai me dar mais pílulas.

   Ele sabe que eu o tenho evitado. Estou arruinando a única coisa boa que eu conquistei, porque tenho medo de fechar os olhos e ver o rosto dele. Ele me assombra. Assombra-me pelo que eu fiz a ele, mas eu mereço.

   Eu estou do outro lado do centro de treinamento, ouvindo um esporro de Namjoon, pela centésima vez, quando ele entra. Eu não a estou esperando, eu não ouço a porta abrir ou o som de sua voz, mas, de alguma forma, sinto a sua presença. Eu viro e olho para ele. Nossos olhos se encontram como ímãs. Porra, ele é lindo. Eu o amo naqueles malditos ternos que ele usa. Seu rosto está apreensivo no começo, como se ele não tivesse certeza de que, se aparecesse sem avisar, seria bem-vindo. Jesus, eu fiz isso com ele. Eu o fiz sentir que ele pode não ser bem-vindo. Que total idiota eu sou.

   Ele sorri para mim do outro lado do centro e eu não posso deixar de sentir o primeiro vislumbre de luz do dia. Eu vejo quando ele se aproxima mais e vejo o rosto dele vacilar quando ele dá uma boa olhada em mim. Eu pareço uma merda. Eu não me barbeio desde antes da luta e meus olhos estão escuros das noites sem dormir. Eu tenho certeza que eu estive usando a mesma camisa por, pelo menos, trinta e seis horas.

  — Oi. — Vejo a preocupação em seus olhos quando ele se aproxima e fala.

  — Oi.

  — Pensei que, se eu avisasse, você poderia me dizer para não vir. — Ele sorri para mim, apreensivo, e isso me faz querer estender a mão e beijá-lo com tanta força que ele nunca mais vai duvidar de que eu o quero perto de mim. Mas eu não o faço. Em vez disso, fico como um idiota e não digo nada e apenas aceno com a cabeça, como se pudesse compreender o que realmente está acontecendo naquela linda cabeça dele.

  — Namjoon, você se importa se eu roubá-lo um pouco? — Ele se vira para o filho da puta que estava me atacando há um minuto atrás, que agora é só sorrisos para ele.

 — Claro que você pode levá-lo. Você pode mantê-lo pelo tempo que for, em minha opinião. — A segunda parte é murmurada baixinho enquanto Namjoon vai embora, mas nós dois ouvimos.

  — Podemos ir lá em cima e conversar? — Sua voz é baixa, doce.

   Concordo com a cabeça e mostro o caminho. Eu puxo para baixo o portão do elevador para o meu loft e de repente somos apenas nós dois e o elevador parece pequeno. Ele cheira tão bem. Tudo nele é bom, ao contrário de mim. Eu me odeio por querê-lo tanto, mesmo que ele mereça algo melhor.

   Jungkook coloca a bolsa no balcão da cozinha e leva apenas alguns minutos antes de se virar para me encarar. Mas quando isso acontece, ele parece nervoso.

  — Eu quero que você fale comigo. Você não me deixa entrar. — Sua voz é instável, mas, quando eu olho, consigo ver o esforço que seu corpo está fazendo para se manter firme.

  — Eu não quero falar, Jungkook. — O que ele quer que eu diga? Que eu preciso de tempo para resolver os demônios em minha cabeça? Os demônios que eu mereço que me assombrem cada hora de cada dia para o resto da minha vida?

   Ele dá dois passos em minha direção, parando na minha frente. — Eu posso ajudar... e há terapia de luto... e grupos para ajudar as pessoas a passarem por coisas como esta.

   Minha resposta é um riso sarcástico e eu posso ver imediatamente que é areação errada. O rosto de Jungkook muda rapidamente de preocupado para chateado. Ele cruza os braços na frente do peito e parece que está pronta para uma luta.

  — Você acha que é engraçado eu querer te ajudar?

  — Não, eu acho que é engraçado você achar que pode me ajudar.

  — Eu posso ajudar. Mas você tem que me deixar.

  — Jungkook, corra enquanto você tem chance. Você não pode me consertar. Eu não sou algum projeto que você pode assumir como caridade. Você vai ficar melhor com alguém que seja mais parecido com você.

   Ele arregala os olhos. — Mais como eu? O que isso significa? Yugyeom? É isso que você está me dizendo, que eu deveria voltar para alguém como Yugyeom? — Sua voz está cada vez mais alta a cada resposta.

   A menção do nome de Yugyeom pelos lábios de Jungkook me parece mais dura doque qualquer golpe físico. O pensamento daquele carinha bonito em qualquer lugar perto do meu Jungkook me deixa espumando. Eu estou com raiva. Irritado em apenas ouvi-lo dizer as palavras. Mas talvez seja realmente onde ele pertence.

  — Você quer Yugyeom, Jungkook? — Só de falar as palavras me sinto doente.

  — Eu quero você. Eu quero ajudá-lo, porra!

  — Você não pode me ajudar, Jungkook. Eu estou quebrado. Eu matei um homem. Com minhas próprias mãos, eu tirei a vida de outra pessoa. Só um monstro faz isso. Um monstro que vai apodrecer no inferno. É onde eu pertenço, porra! 

  — Foi um acidente! — Nós estamos gritando um com o outro agora, com toda a força de nossos pulmões, cada um tentando fazer com que o nosso ponto de vista seja aceito, gritando cada vez mais alto.

  — Foi a minha mão que o matou. Isso não é um acidente, é assassinato. E os assassinos são irrecuperáveis.

   Jungkook olha para mim e está pálido como um fantasma. Por um segundo, eu acho que ele poderia desmaiar.

  — Você realmente acha que não há perdão para o que aconteceu? — Ele já não está gritando, sua voz é baixa e quebra no meio da frase.

  — O perdão de quem, Jungkook? A única pessoa que poderia me conceder a absolvição está morta.

   Lágrimas escorrem pelo seu rosto enquanto ele corre para fora do meu loft e puxa a porta do elevador para baixo. Eu vejo quando ele freneticamente pressiona o botão para fugir. Ele está desesperado para ficar longe de mim, e eu não o culpo nem um pouco.





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Cap surpresa 🤭

Qualquer erro me avisem, por favor. Beijos.

O Destruidor de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora