Eu queria acreditar que o meu passado não me segue como uma sombra em um dia ensolarado e da qual eu não consigo fugir. Eu tenho uma vida boa. Eu sou inteligente, tenho um bom trabalho, pernas longas, coxas bonitas, e já me disseram, mais de uma vez, que o cara com quem eu saio é um ótimo partido. Então por que é que, quando eu olho ao redor, procurando por Yugyeom no restaurante lotado, parte de mim espera que ele tenha se levantado e ido embora? Quem, aos vinte e sete anos de idade, deseja levar um bolo? Aquele que vai continuar caminhando pela vida no piloto automático, a não ser que circunstâncias em minha vida perfeita forcem uma mudança. A perfeição é altamente superestimada. Eu sou um personagem na minha história, passando pelos capítulos da minha vida como se fossem escritos por uma pessoa imaginária, quando eu deveria ser o autor.
Eu sou assim há muito tempo. Faço escolhas responsáveis. Minha vida é honesta e organizada e minha frequência cardíaca permanece constante. Gosto das coisas assim na maior parte do tempo. Eu deveria ter orgulho da forma como conduzo a minha vida. Mas a verdade é que, muitas vezes, sinto como se eu estivesse sufocando na minha vidinha superficial.
Yugyeom chama a minha atenção, levantando a mão, e indica uma mesa no canto do restaurante. A mesma mesa que sentamos quase sempre. À mesma hora, no mesmo lugar, toda semana, semana após semana. Eu vejo duas garotas sentadas no bar, perto de mim, olhando para Yugyeom e rindo. Seus queixos caem quando elas percebem que ele está acenando para mim e nem sequer as notou. Abro o meu melhor sorriso falso quando Yugyeom, sempre um cavalheiro, levanta-se quando eu chego à mesa. Ele me beija no rosto e envolve o braço ao redor da minha cintura com um toque familiar.
— Desculpe, estou um pouco atrasado — faço meu discurso ensaiado, enquanto sento em meu lugar.
— Não tem problema, eu também acabei de chegar — Yugyeom responde, e eu sei que é mentira. Kim Yugyeom nunca se atrasa. Tenho certeza de que ele chegou aqui quinze minutos mais cedo e, como eu estou vinte minutos atrasado, ele está esperando há, provavelmente, mais de meia hora, mas ele jamais reclamaria.
— Você aceita uma bebida? — o atencioso garçom sorri para Yugyeom, apesar de seu discurso ser dirigido a mim. Se eu fosse do tipo possessivo, seu flerte explícito provavelmente me irritaria. Mas eu não sou. Possessividade e ciúmes seriam reações emocionais, algo que eu passei anos trabalhando para conter.
— Eu quero uma vodka cranberry. Diet, por favor. — Olho para Yugyeom e noto que seu copo já está vazio. Eu sorrio por dentro, pensando em como eu conheço esse homem bem. Ele havia tomado a única dose de bebida que ele se permitia beber, uma vodca com tônica. Aquela dose habitual durava meia hora e então ele mudava para água.
— Só água para mim, obrigado — Yugyeom sorri para o garçom e ele brilha com sua atenção. Kim Yugyeom é um homem bonito. Você teria que ser cego para não enxergar a sua beleza. Alto, olhos castanhos, cabelo preto perfeitamente arrumado, e sempre vestido como se tivesse acabado de sair de um ensaio da revista GQ. Seus dentes são brancos, perfeitamente retos e deslumbrantes em seu sorriso perfeito. Ele vem de uma família respeitável e, com apenas vinte e sete anos, já é sócio da firma de advocacia de seu pai. Então por que, nesse momento, enquanto ele fala, eu vejo seus lábios se moverem, mas eu não consigo ouvir uma palavra do que ele está dizendo?
— Jungkook, você está bem? — Yugyeom percebe a minha distância e sei que a preocupação em sua voz é genuína. Ele realmente é um ótimo cara, um bom partido, como dizem.
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O Destruidor de Corações
أدب الهواةNão importava que o árbitro tivesse considerado que aquele tinha sido um golpe limpo. Park Jimin nunca mais seria o mesmo. Jungkook tem uma boa vida. Um trabalho que ele ama, um apartamento grande, e o cara que ele está namorando há pouco mais de do...