Capítulo 03

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A frase confirmou o que Bela já sabia.

- Me desculpe por ter entrado em seu castelo sem convite, e também pela comida – ela coçou os antebraços e fez uma breve pausa antes de continuar –, eu estava com muita fome e frio.

- Não se preocupe quanto a isso - o anfitrião respondeu ainda parado na entrada. - Eu ouvi tudo o que disse; você será bem-vinda aqui.

"Então porque não respondeu antes?", a jovem pensou, curiosa em saber o porquê do misterioso homem ter ficado em silêncio assim que chegara à mesa de jantar.

- Isso é sério? - A pergunta saiu por impulso. Bela não imaginava que ele aceitasse seu pedido tão facilmente. Isso ficou explícito em seu tom de voz, que denunciou receio, mas também alívio.

- Sim – o anfitrião falou em tom neutro. - Você poderá ficar aqui o tempo que quiser.

"Está bom demais para ser verdade", ela pensou, ainda desconfiada.

"Mas era isso que você queria."

"Só não imaginei que seria tão fácil."

"Você não tem para onde ir. Aceite a oferta"

Bela travou uma batalha silenciosa em sua mente. Ela queria o abrigo, é verdade, mas esperava um pouco mais de resistência do anfitrião; questionamentos, desconfiança, prudência. Afinal, é isso que se faz quando uma desconhecida surge de repente em sua casa, entra sem pedir e ainda come da sua comida, certo?

Mas o anfitrião não fez nada disso.

"Sério, você queria que ele dificultasse as coisas para você? Aceite a oferta."

"Se ele aceitou tão facilmente é por que tem alguma intenção implícita. Você ainda não viu seu rosto."

"Ah, então vá em frente e recuse a oferta depois de você mesma ter pedido. Será muito coerente."

- Não importa se foi fácil - Bela sussurrou baixinho para si.

A proposta era tão boa que não podia ser recusada.

- Muito obrigada. Serei eternamente grata – agradeceu por fim.

Até então, tudo o que a jovem pôde vislumbrar do dono do castelo era sua silhueta. Não conseguia ver nada do rosto, nem mesmo as roupas que vestia. Apesar disso, somente pela silhueta já era possível perceber que se tratava de um homem alto e robusto.

Aproveitando a boa hospitalidade do misterioso anfitrião, Bela resolveu fazer mais um pedido.

- Se você puder arrumar algum lugar para meu corcel Angus, eu também agradeceria. Ele está no vestíbulo já que do lado de fora  está muito frio. Prometo que não lhe pedirei mais nada.

- Seu cavalo já foi levado para os estábulos, que ficam nos arredores do castelo. Ele será bem alimentado e cuidado, não se preocupe.

"Nossa, que rápido".

- Ele mostrou alguma resistência?

- Não, foi bastante obediente. Deve ter entendido que eu estava lá para ajudar.

Bela acreditou no anfitrião. Até porque, se o garanhão tivesse resistido, certamente teria ouvido os relinchos. Angus não era um cavalo comum; veio de uma terra distante e possuía algumas singularidades. Conhecendo essas singularidades e atrelando-as com o contexto atual, a jovem teve certeza de que ele estava bem.

- Muito obrigada – disse levando uma das mãos até o peito.

O anfitrião não respondeu e muito menos se mexeu. Ficou simplesmente ali, parado, e Bela não soube dizer o motivo. A impressão que teve era de que o homem estava lhe observando e isso gerou um grande desconforto nela.

O Monstro do CasteloOnde histórias criam vida. Descubra agora