No dia seguinte, Bela encontrou Hector logo cedo – após o café da manhã –, sentado em uma cadeira no salão principal. Ele estava lendo um livro, concentrado em cada palavra contida nele.
- Não sabia que gostava de ler - disse a jovem, chegando de surpresa.
O anfitrião voltou as atenções para sua hóspede.
- Eu gosto de fazer muitas coisas - respondeu de maneira amigável.
- Parece então que sei muito pouco sobre você - Bela atestou, serena.
- Posso dizer o mesmo, não tivemos muitas oportunidades de falar sobre nós.
"Na verdade tivemos, mas não estivemos seguros o suficiente pra falar mais sobre nós", ela pensou.
- Este seria um bom momento para nos conhecermos melhor, não acha? - Sugeriu a moça, pegando uma cadeira para sentar-se ao lado dele.
Hector desferiu um semblante preocupado. Foi uma atitude instintiva. Falar sobre ele não seria algo simples, principalmente pelo passado obscuro. Estaria ele preparado para enfim se abrir com alguém sobre acontecimentos antigos que o levaram a este estado? Estaria Bela preparada para ouvir situações absurdas e inacreditáveis?
- Por que você não começa então? - Propôs o anfitrião, tentando não externar sua inquietação.
Bela também se sentiu desconfortável. Falar sobre ela seria difícil, ainda mais sobre os acontecimentos recentes. Porém, ela precisava conhecer melhor a Fera, e, para que isso acontecesse, teria que permitir que ele a conhecesse também.
Era uma troca válida, apesar de difícil para ambos.
- Bem, vamos começar pelo básico. Você já sabe o meu nome. Quanto à idade, tenho dezenove anos - revelou. - Eu adoro andar a cavalo, não é à toa que tenho um corcel comigo - disse ela, orgulhosa ao lembrar de Angus, seu fiel amigo e companheiro. - Nunca fui do tipo muito sociável em Menestréia. Tinha poucos amigos. Sou bem caseira e não gosto muito de festas. Sempre gostei de coisas tranquilas e calmas, não faço o tipo agitada. E assim como você eu amo ler, principalmente livros de fantasia, onde a magia domina em reinos lendários com criaturas fantásticas e tramas envolventes. Acho que é isso - finalizou com uma das mãos coçando a cabeça, pensando se não esquecera de mais nada.
- Gosto muito de literatura fantástica também - admitiu Hector. - Há outros gêneros que muito me agradam, como romance e aventura. A verdade é que, independente do gênero, um livro bem escrito, como uma boa história, sempre será interessante para mim - concluiu com algumas risadas.
- Concordo plenamente com isso - anuiu Bela, surpresa em saber o quanto o anfitrião se interessava por leitura. Em geral, os homens de Menestréia não gostavam tanto de ler e gostavam menos ainda quando uma mulher se interessava por literatura.
- Diga-me, como você veio parar aqui no meu castelo? – Ele quis saber, dando um novo rumo à conversa. - Esse talvez seja o meu maior questionamento a respeito de você. Sua vida na capital era aparentemente boa demais para terminar em um lugar tão longínquo e isolado como este - observou.
A pergunta repentina pegou Bela despreparada. Neste primeiro momento, ela estava tentando se concentrar apenas em falar sobre sua personalidade e gostos, não queria chegar a um assunto tão delicado logo de cara, mas decidiu que responderia à indgação.
- Bem... - começou a moça, tentando encontrar as palavras certas. Havia insegurança em sua voz. O anfitrião percebeu e interveio para tranquiliza-la.
- Bela, se não quiser falar, eu vou entender. Existem coisas que não são convenientes dizer a qualquer um.
- Mas eu quero falar - argumentou a jovem, firme e decidida. - Confesso que no início eu queria esconder isso de você, mas agora eu quero que saiba o que aconteceu, é o mínimo que devo fazer por tudo de bom que você já me fez.
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O Monstro do Castelo
FantasiEste livro integra a série As Crônicas de Zordium, mas pode ser lido de maneira independente. Para não ter de casar com o desprezível príncipe Lucian, Bela decide fugir, mas acaba perseguida pelos Cavaleiros Reais do reino. Ela se vê em grandes apur...