Hector se ajeitou na cadeira, visivelmente desconfortável. Bela percebeu que falar do passado era tão duro para ela quanto para o dono do castelo. Eles tinham muito em comum nesse aspecto.
- Bem, começando pelo básico, além de ler eu gosto de tocar piano - começou Hector.
- É, ontem eu percebi muito bem isso - observou a moça em tom divertido.
A Fera deu uma rápida risada antes de continuar.
- Eu gostava muito de andar a cavalo quando era menor, pena que atualmente seja impossível eu fazer isso.
Bela tentou formar uma imagem de Hector criança montando a cavalo. Tentou imaginar de várias maneiras, mas não conseguiu. Não via possibilidades dele montar em um garanhão nessa forma tão... bestial.
- Você sempre viveu aqui nesse castelo? - Ela quis saber
- Não, quando era menor vivia na capital - revelou o anfitrião, um pouco receoso.
A moça o fitou, descrente.
- Menestréia? Isso é sério?
- Sim, muito sério.
- Mas eu nunca o vi - questionou Bela.
- É uma longa e complicada história - ele se limitou a dizer.
Hector percebeu que sua hóspede esperava por uma explicação plausível para o que ele acabara de revelar. Porém, tudo o que fez foi ficar em silêncio, tentando reunir coragem para contar sua história.
Bela notou o incômodo do anfitrião. Por conta disso, decidiu explorar assuntos menos dolorosos.
- Você diz que viveu em Menestréia quando era menor. Isso me fez pensar em um detalhe, você nunca me disse sua idade.
- Tenho 25 anos - A Fera respondeu, extremamente aliviada por mudar de assunto.
Bela se surpreendeu com a revelação, esperava que aquela criatura fosse bem mais velha. Pensou que ele, talvez, tivesse 35 ou 40 anos, mas 25 estava fora de qualquer palpite. Ele já não era tão jovem, mas certmente não era tão velho.
- Se você já esteve na capital, provavelmente conheceu o príncipe Lucian - ela salientou.
- Sim.
- Sua expressão denunciou isso no momento que mencionei o nome dele enquanto contava a minha história.
Bela cruzou os braços e cerrou os olhos para Hector.
- Eu imagino – O anfitrião falou desviando o olhar.
- E ainda assim agiu como se não o conhecesse.
- É uma longa e complicada história.
- Você se sente a vontade para conta-la a? - A moça inquiriu curiosa, mas também com cautela. Estava claro que ele não sabia como e por onde começar
- Nunca falei dela com ninguém em todos esses anos. É uma história bem confusa e estranha. Uma traição de quem eu menos esperava - lamentou Hector, colocando uma das patas sobre a face, exasperado. Bela se sentiu mal por vê-lo tão angustiado.
"Eu não posso pressiona-lo. Preciso fazer com que ele se sinta a vontade para falar".
- E este castelo, quem construiu?
- Foram os descendentes dos meus pais adotivos, há muito tempo.
- Adotivos? - Bela franziu a testa.
- Eu fui abandonado logo ao nascer na frente do orfanato central de Menestréia. Ao menos foi isso que me contaram quando já tinha idade suficiente para entender as coisas - explicou. - Nunca soube quem foram meus pais de verdade – O anfitrião agora tinha expressão triste no rosto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Monstro do Castelo
FantasyEste livro integra a série As Crônicas de Zordium, mas pode ser lido de maneira independente. Para não ter de casar com o desprezível príncipe Lucian, Bela decide fugir, mas acaba perseguida pelos Cavaleiros Reais do reino. Ela se vê em grandes apur...