Capítulo 05

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– Lembra? Você prometeu e não foi! – Olivia ainda estava brava comigo por não ter ido a sua festa de formatura, mesmo que já tenha se passado uma semana.

– Eu tive que trabalhar Livie. – Já fez um tempo que não tenho paciência ou energia para discutir com as pessoas sobre qualquer coisa, se ela insiste em estar chateada então por mim tudo bem, já pedi desculpas e isso é tudo o que posso fazer.

– Esquece, você não se importa mesmo... – Ela me dá as costas e pisa fundo em direção ao seu quarto, adolescentes... Quando vão aprender que não são o centro das atenção? Que tem coisas que acabam sendo muito mais importantes do que uma festa de formatura.

Depois de passar na secretaria do curso, peguei o ônibus para o hospital, essa semana por sorte consegui descansar bem e almoçar, coisa que já não fazia a muito tempo, minha mae aproveitou sua folga hoje e fez um pequeno jantar para mim já que precisaria ficar até um pouco mais tarde. Coletei sangue de quase vinte e dois pacientes hoje, esterilizar alguns utensílios cirúrgicos e preparei pacientes para cirurgias, um dia cheio e corrido como a maioria dos outros.

Aos dezesseis anos quando estava saindo do ensino médio tive a certeza de que queria estudar enfermagem, não pela quantidade de dinheiro que ganharia futuramente se fosse um bom enfermeiro mas sim por sentir que era realmente aquilo que eu queria, é comum que os jovens não saibam o que querem saber mas eu soube quase que de primeira.

– Felix! – Mary, a enfermeira chefe, fala alto chamando a minha atenção. – Vivo tirando você do mundo da lua.

– Me desculpe. – Acabo rindo e deixo a prancheta que estava preenchendo do meu paciente sobre a mesinha. – Precisa de mim?

– Sim, deslocamento no pulso e ferimento no joelho na sala dezesseis.

Assisto confirmando e ando rapidamente pelo extenso corredor a minha frente e quando abro finalmente a cortina me deparo com a minha paciente chorando, estou quase certo de que conheço ela de algum lugar... Quando ela me vê enxuga os olhos rapidamente e arruma o cabelo para trás da orelha.

– Você de novo... – Ela diz enquanto analiso a sua ficha e arqueio instantaneamente a minha sobrancelha tentando me lembrar do seu rosto., ela percebe que não tenho ideia do que está falando e prossegue: Vim aqui na semana passada com o meu namorado, ele deslocou o dedão. – Ela desenha quando pronuncia a palavra "namorado" e eu esforço-me para entender a situação em que estava. Vejo muitos rostos diferentes todos os dias, quase nunca me lembro dos pacientes.

– Verdade, como está o dedo dele?

– Muito, muito, muito bem. – Ela olha para o pulso enquanto balançava as pernas sentada na maca.

– Como torceu o pulso? – Puxo o seu cotovelo para a minha direção e toco delicadamente sentindo o inchaço no local, ouço o seu grunhido de dor e olho para baixo vendo os seus olhos cheios de lágrimas.

– Uma briga boba. – Ela olha um pouco para cima encontrando os meus olhos mas logo desvia para a sua ficha médica percebendo que eu já estava olhando-a.

– Vou limpar o seu joelho e encaminha-lá você para o ortopedista, ok?

Ela assente e eu pego os equipamentos para limpar o seu joelho, me abaixo um pouco e começo o procedimento finalizando com gaze e esparadrapo.

– Pronto, você pode passar alguma pomada com neomicina por cima duas vezes ao dia para ajudar na cicatrização. – Me levanto e vejo ela concordar enquanto olha para o joelho. Ela parecia triste e abatida, o tom que usou para falar sobre o seu namorado e como o dedão dele estava melhor me deixou um pouco preocupado. Já atendi muitas mulheres e jovens vítimas de violência e a maioria delas não sabia que estava sendo violentada então eu sentava ao seu lado, mostrava um dos nossos panfletos que explicava como identificar o seu agressor e em seguida como superar aquilo com ajuda psicológica, muitas choravam e agradeciam por descobrir e saber que poderiam se livrar daquele tormento, outras diziam que era besteira e que eu não precisava me meter.

Peguei um dos panfletos de dentro da pequena gaveta e entreguei nas mãos dela que me olhou com os olhos bem abertos, não precisou de muito para que eu entendesse.

– Você não precisa passar por isso... – Digo enquanto ela ainda me olhava e em seguida os seu olhar desde para o panfleto.

– Obrigada, mas não é preciso. – Ela me devolve o panfleto com olhar de desprezo e eu pacientemente pego e deixo sobre a mesinha, essas situações são extremamente delicadas. Entrego a ela o encaminhamento para o ortopedista e ela sai andando quase fugindo de mim.

Fui chamado pelo alto-falante para a sala de cirurgia e o meu coração dispara, limpar os instrumentos cirúrgicos era uma coisa, auxiliar um cirurgião durante a cirurgia era outra completamente diferente e eu fiz isso apenas uma vez. Enquanto corro para a sala de cirurgia, Mary chega ao meu lado.

– Você vai se sair bem. – Ela diz enquanto amarra minha veste por trás.

– Porque não chamaram outro enfermeiro? Tem gente muito mais capacitado do que eu nesse hospital. – Digo e quando tento colocar as luvas percebo que minhas mãos estão trêmulas.

– Você é o único livre agora. – Mary da a volta e olha para as minhas mãos. – Tá tudo bem meu menino, você já fez isso antes e se saiu muito bem, lembra? Você estava tão pálido que achei que fosse desmaiar no dia. – Ela consegue me arrancar uma risada. Respiro fundo várias vezes antes de definitivamente entrar na sala de cirurgia.

Mary estava ao meu lado e o paciente a nossa frente, enquanto outro enfermeiro controlava o oxigênio e os batimentos cardíacos, Mary e eu tínhamos as mãos estendidas e esperávamos pelo cirurgião que acabará de se sentar em direção a cabeça do paciente. Dou graças a deus por não ter jantado ainda quando o procedimento começa, nunca, jamais quero estar em uma mesa de cirurgia e nunca quero ver nenhum familiar ou amigo meu nesta situação.

In the middle of the night | Felix | Stray Kids | Lee FelixOnde histórias criam vida. Descubra agora