Capítulo 07

1.7K 204 206
                                    

Janeanne esperou com que eu fosse liberado do hospital para que pudéssemos jantar juntos, por sorte o universo conspirou ao meu favor e eu saí às oito e meia da noite.

– Você tem horário para voltar? – Pergunto para quebrar o imenso iceberg que se formou entre nós desde que saímos do hospital, ela caminhava tranquila ao meu lado com as mãos enfiadas nos bolsos e eu me pergunto como ela está aguentando a dor de um pulso torcido.

– Eu tenho a minha chave, só não posso fazer muito barulho quando chegar. – Posso ver um pequeno sorriso nascendo em seus lábios. – Como você decidiu que queria ser enfermeiro?

– Eu simplesmente soube. – Dou de ombros e enfio as mãos nos bolsos. – Já era algo que eu pensava mas quando sai do ensino médio tive a certeza. E você? Estuda, trabalha?

– Estudou, estou terminando o meu curso de Design Gráfico... Contra a vontade dos meus pais é claro, por eles eu seria dentista ou advogada.

– Então você é a filha rebelde?

– Eu sou filha única então acho que sim. – Ela rir.

Entramos no restaurante e fazemos os nossos pedidos, Janeanne estava um pouco receosa na hora de pedir mas eu a convidei então eu pagaria.

O que eu estava pensando quando chamei uma garota para sair? Não tenho nenhuma experiência em relacionamentos, a última vez que sai com alguém foi três anos atrás e não chegou nem perto de um dia dar em namoro, simplesmente não tenho jeito para isso. Minha língua seca, eu começo a suar, minhas mãos tremem e eu chego a pensar que se pudesse ter um super poder seria o teletransporte.

– Ainda acho que poderia pedir outro prato, um mais barato quem sabe?

– Eu convidei você, não precisa se preocupar com isso.

E mais uma vez o assunto se encerra e ficamos em silêncio olhando para as poucas pessoas que comiam no lugar, droga, por que ela não fala algo ou me pergunta algo? Minha perna treme debaixo da mesa e eu sinto meu corpo pegar fogo. Eu sou tão inseguro, desde que saímos do hospital eu só penso em como ela deve me achar um idiota e por isso aceitou jantar comigo, eu não sou um cara musculoso, não sou alto e muito menos atraente, e o pior é tudo... Tenho sardas, ela deve me achar um esquisitão de primeira.

– Você tá bem? – Ela finalmente diz algo puxando assunto e eu me amaldiçoo mentalmente por querer que ela faça isso. – Você tá suando...

– Estou com calor, viemos caminhando e acho que o ar-condicionado daqui não deve funcionar muito bem.

– Sério? Eu estou morrendo de frio... – Eu sou um idiota. – Sua bochecha está doendo?

Somente quando ela toca no assunto em meu lembro que alguns minutos atrás fui socado pelo seu namorado.

– Não muito, nada que um saco de ervilha congelada não resolva. – Tento sorrir para disfarçar o meu constragimentos e logo o garçom aparece com os nossos pratos. – Isso parece bom, eu quase não tenho a oportunidade de ter um jantar de verdade sabia?

– Sério? Por causa do seu trabalho?

– Aham. – Enfio um pedaço de carne na boca. – As vezes é comum eu estar entrando no banho e alguém do hospital me ligar, sabe o que é engraçado? – Ela nega. – Eu sou estagiário.

– Tá brincando? Eles podem fazer isso?

– Não podem até eu estar 100% formado mas eu não me importo muito, gosto de como eles precisam de mim. – Vejo Janeanne pingar limão no seu peixe e em seguida colocar a mão no olho. – Você tá bem? Quer lavar o rosto?

– Não... Au. – Ela joga a cabeça para trás e pisca. – Já vai passar, eu sou tão idiota. – E do nada, ela começa a rir, mas a rir tanto que eu sem querer presto atenção em seus seios chacoalhando enquanto isso. Eu vou pro inferno.

– Não mais do que eu, disso eu tenho certeza. No ensino fundamental eu preparei alguns sanduíches para a minha turma e tudo isso por que eu queria que uma garota idiota gostasse de mim, sabe o que ela disse? – Ela nega parecendo engolir pregos e eu prossigo: Que jamais comeria comida de baixa qualidade.

– As crianças são cruéis, mas tenho certeza que ela se arrepender de ter tratado você assim, afinal era só uma criança.

– Só uma criança que me rendeu longos anos de terapia... – Murmuro a frase baixo mas tenho certeza de que ela pode me ouvir. – Como você era na escola?

– Eu era popular, tinha muitos amigos. – Os seus olhos percorrem a extensão do garfo em sua mão e seu sorriso é acompanhado de um longo suspiro, parecia estar triste. – Mas as pessoas mudam quando saem do colegial.

– As vezes acho que conheço você de algum lugar. – Os meus olhos se apertam na tentativa de relembrar o seu rosto mas tudo o que eu consigo e deixá-la tensa.

– O meu rosto é bem comum.

– Eu não acho...

Enquanto terminávamos o jantar falamos um pouco sobre música e como o novo álbum da Adele era deprimente, Janeanne não concordou comigo, disse que precisaria de muitos neurônios para entender a verdadeira arte por trás daquilo tudo e eu acredito. Quem me dera ter um carro para levá-la para casa agora.

– Vou chamar um táxi para você. – Quando paramos ao lado do ponto de ônibus, estendo a mão para o primeiro carro que vejo e me viro para Janeanne para me despedir.

– Muito obrigada pela noite de hoje, fazia um tempo que eu não sabia o que era sair para jantar.

– Não precisa agradecer. – Ela me olha por um tempo até que eu decido dar um beijo em sua bochecha e ela acaba fazendo o mesmo, milímetros dos nossos lábios se tocam sem querer e o meu corpo treme. Fingimos que aquilo não aconteceu e ela entra no carro acenando para mim em seguida. – Tenha uma boa noite Janeanne.

– Você também, Felix. – Algo na maneira com que ela pronúncia o meu nome me faz querer correr atrás daquele táxi e pedir para que ela fique mais um pouco, mas então lembro-me de como viemos parar em um jantar.

In the middle of the night | Felix | Stray Kids | Lee FelixOnde histórias criam vida. Descubra agora