Capítulo 28

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O dia não poderia estar mais propício para o que irei fazer. Uma tempestade inunda a cidade deixando os parques, lojas e ruas desertas, uma ventania zumbi me deixando arrepiada dos pés a cabeça, parece uma cidade fantasma!

Essas ultimas semanas foram tão turbulentas que acabei esquecendo dos meus direitos da saída do salão e se depender da dona Malu irei receber no dia de São Nunca!

Estaciono em frente ao salão. Não tem jeito, vou ter que rever a fera.

Entro a passos lentos, não quero chamar atenção.

O ambiente continua o mesmo, todo branco e preto com o chão impecavelmente limpo, porém bem mais vazio, na verdade só havia uma cliente em tempo de espera das mechas.

Dona Malu está atrás do caixa com uma calculadora. Coloco as chaves e o celular em cima do caixa e dou um “Bom dia”.

- Oi, pensei que não viria! – Dona Malu diz sem tirar os olhos dos seus papeis.

- Na verdade fiquei esperando sua ligação, como não aconteceu... – Digo levantando as sobrancelhas.

- Eu andei um pouco doente estes últimos dias! – Doente? O que será que ela tem? – Você sabe que sempre tive problemas na coluna e depois que você saiu, minha carga de serviço aumentou, prejudicando ainda mais as vértebras! – Coitada! Fiquei com raiva pelo que ela fez comigo e o vexame que sempre me fez passar, mas jamais desejei algum mal a ela.

- E o que você vai fazer agora? – Pergunto em uma tentativa simpática.

- Não sei ainda Larissa. – Diz ela com pesar. – Estou aqui fazendo umas contas e.... pensando seriamente em me aposentar! – Levanta seus olhos rasos d’água por cima do óculos.

Sinto pena dela aliás, ela montou este salão e trabalhou desde muito nova para ergue-lo e agora ser obrigada a parar.

- Sinto muito. – Mordo o lado de dentro da bochecha.

- Não sinta. Sempre fui muito dura com você, na verdade fui uma megera. – Ri sem vontade. – Mas em fim, não quero tomar seu tempo com problemas. Toma aqui. – Ela me entrega um pacote amarelo.

- Fiz tudo conforme a contabilidade pediu. Confira por favor!

Abro o pacote e confiro as notas com os valores marcados. Percebo que algo está errado.

- Dona Malu. Tem dinheiro a mais...Na verdade muito mais, quase o dobro. – Começo a separar a parte que não me pertence, mas Dona Malu coloca sua mão em cima da minha.

- Não Lari! Coloquei a mais de propósito. Não se leva nada desta vida! É uma forma de te recompensar por todo o mal que lhe fiz, sei que isto não é certo, que certas coisas ditas não se apagam, mas não vejo outra forma!

- Mas Dona Malu, eu não..

- Aceite de bom grado... Por favor! – Ela me interrompe. –  Passei minha vida neste salão, você me ajudou muito, foi quase uma filha para mim, na verdade uma boa filha, eu é que fui uma mãe megera! – Diz acarinhando minha mão.

Não sei o que dizer e nem como reagir. Então uma idéia me veio a mente, hoje estaria praticamente de folga com toda esta chuva a obra ficaria parada.

- Ok! Aceito somente se você permitir que eu termine aquelas mechas! – Aponto para senhora que aguardava sentada em uma das poltronas. – Adoro matizar!! – Bato palminha sorridente para quebrar o clima melancólico. Ela sorri de uma maneira que não vejo há muito tempo.

- A casa é sua!  - Aponta ela.

Passo o dia todo atendendo as clientes e para todas explicava que eu não tinha voltado a trabalhar ali, era somente um bônus, ao dizer isto piscava para Dona Malu que sorria verdadeiramente.

QUE A SORTE ESTEJA AO SEU LADOOnde histórias criam vida. Descubra agora