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Taehyung já tinha ido em todos os lugares da cidade em busca de Jiwoo e não a havia encontrado.

Ele se ousou checar até em um necrotério e recebeu uma péssima de notícia de que talvez tivessem a encontrado. Para um adolescente ter de entrar num local daquele, cheio de corpos e um péssimo cheiro de formol e carniça, ele estava mesmo desesperado. Passar pelos corpos estirados em mesas de metal como simples pedaços de carne afirmava que Taehyung não teria vocação nenhuma para médico, advogado criminalista ou policial.

Quase vomitando, o médico legista o levou para a bancada de um corpo que estava fazendo autópsia na hora. Por sorte, não era Jiwoo, mas as marcas perfuradas na pele da garota o atormentariam por dias.

Faltava pouco tempo para a cerimônia de formatura e nada de Jiwoo. O vibrar de seu celular anunciou uma nova mensagem; era Chaewon e dizia alguns dos lugares favoritos da amiga.

Chaewon pediu também para Taehyung rastreá-la pela localização do celular. Ele até tentou, mas ela tinha o desligado e ele não sabia mexer direito nas funcionalidades. À medida que chegava mais perto e não a encontrava, o coração apertava-se.

Ele não podia chorar nem contar aos pais... Não ainda.

Sua última tentativa era num lugar desconhecido. Fazia muito tempo que ele não ia ali e estava sob o comando das coordenadas mal dadas de Chaewon, que dizia que não tinha erro se as seguisse à risca. Passou pela mesma árvore por cinco vezes antes de entender que elas eram marcadas por tintas coloridas que demarcavam uma trilha. Passou pelo laguinho, pelas pedras, pela frente da floresta de conífera até chegar na pedra da Nix.

Taehyung soltou o ar de seus pulmões e apoiou as mãos nos joelhos, sentindo uma vontade inestimável de chorar, mas não de raiva ou frustração e sim, de alívio.

Jiwoo estava sentada na grande pedra, lá no alto, de costas para qualquer ataque que pudesse a pegar desprevenida. Ela ainda estava com o seu longo vestido preto colado e fios cintilantes pelas laterais, fora um casaco e a mochila que levou consigo. Ela parecia serena olhando para o nada, como se por dentro de seu corpo, a natureza a consolasse e a amparasse. Taehyung não sabia como explicar, mas aquele lugar era realmente mágico. Era como se um par de mãos lhe acolhesse num abraço apertado para mostrar que nada devia temer.

Não era todo lugar na Coreia do Sul que se transmitia tanta paz como aquela floresta e, em específico, a pedra.

Em passos comedidos e leves, Taehyung escalou pelas rupturas e fendas presentes na pedra, se sentando ao lado da irmã. Ele a olhou de soslaio e não quis comentar sobre os olhos inchados e a maquiagem borrada.

Jiwoo estava linda antes dele estragar tudo.

Taehyung tentou olhar na mesma direção que Jiwoo e não entendia o que ela via lá no fim. É, ela realmente parecia estar sendo acalentada internamente.

O irmão de Jiwoo abraçou os joelhos e engoliu a saliva para tomar coragem. Ele não era bom com as palavras, mas sempre gostava de lembrar do que sua mãe dizia: não precisa ser bom ou ruim nas palavras, quando vem do coração, sempre o que tem a dizer transmite magia.

— Você aprendeu tudo muito cedo, antes de mim, na verdade — iniciou Taehyung. Sua fala tinha um tom baixo e se misturava com o balançar das árvores e a água do lago. — A família inteira achava incrível você ter tantas habilidades com pouco mais de quatro anos. Eu queria ser inteligente assim, aprender as coisas por conta própria, ser incrível sem esforços, mas aí eu entendi que eu não podia ser como você porque essas eram as suas características e o que te tornava única. Eu comecei a fazer esportes por conta dos problemas respiratórios e porque eu sabia que não era bom em nada, e pelo menos se eu tivesse algo com o que ocupar a mente, seria menos ruim do que ter de saber que você sempre seria a melhor. Eu nunca pedi para ter toda a atenção, mas eu sei que fui um idiota porque todo esse tempo, eu meio que sabia que era o centro e estava muito confortável para mim não precisar dividir isso. Eu nunca fiz nada para mudar porque sempre fui egoísta e saber que eu tinha o conhecimento disso e não mudei o rumo das coisas me consome a cada dia. Para mim, você tinha aprendido a ficar para trás em alguns aspectos; você tinha as notas, a razão, e eu podia ocupar o espaço da emoção. Eu nunca me importei em pensar com a sua cabeça mesmo já estando no seu lugar porque não queria abdicar do que eu tinha.

Jiwoo limpou o nariz na manga do casaco, agora parecendo estar atenta ao que Taehyung dizia.

— Ninguém no mundo faria o que você fez por mim e a forma como eu agradeci foi péssima, tanto porque eu sabia e mesmo assim deixei porque a sua alegria me incomodava. Você dedicou o seu ano letivo a me ajudar mesmo que eu não te desse espaço nenhum para mostrar o quão boa era em suas coisas, e sabe, aquele trabalho...

— Me desculpe, eu fui imatura.

— Olha, você aguentou tudo isso por quase um ano, eu teria explodido e feito muito pior que inventar uma fobia por melancia... E vem cá, não tinha fobia melhor pra me agregar?!

— Tinha que ser algo ridículo para combinar com você.

— É, faz sentido — ele riu. — Acontece que eu nunca agradeci por tudo o que fez e nunca me importei com o que você é. Os dias que passou no acampamento foram os melhores da minha vida. Todos só pensavam em mim e hoje eu entendo que o meu egoísmo superou qualquer coisa que eu quisesse demonstrar além disso. Eu me lembro de quando voltou, no fim do verão. Você ainda tinha alguns arranhões e eu não me importei, eu não liguei para as noites que te ouvi chorando, eu não quis que seus problemas fossem maiores que a minha existência. Saber que você tentou abdicar de Sooyoung para superar esse amor e me fazer feliz foi demais pra mim. Você sempre foi a minha maior inspiração, Jiwoo. Eu sempre soube que nunca seria tão forte, doce e incrível como você. Eu nunca poderia fazer nada melhor para o mundo do que nadar uns dez metros e pronto. Nunca me senti confortável em saber que um dia, você seria forte de verdade... E sabe, você é a minha irmã mais velha, eu quero que seja a minha inspiração e não quero ser a pessoa que te puxa pra baixo. Hoje é o seu dia. Você almejou por anos receber aquele diploma, dançar no baile, beber ponche com Chaewon e passar a melhor noite de sua vida, e eu não quero ser o responsável por te impedir disso.

Jiwoo o olhou com um sorriso, limpando os borrões de seu rosto com a manga do casaco.

— Eu não queria te magoar e nunca me perdoaria se algo lhe tivesse acontecido. Você é a melhor coisa da minha vida independente de todas as brigas que já tivemos, okay?! — Jiwoo afirmou com a cabeça e o abraçou. — Agora eu acho melhor você se arrumar porque só temos quinze minutos para chegar ao IVE.

— Eu acho que não vou.

— Ah, você vai sim! Anda, vou te ajudar a se arrumar.

Jiwoo tirou da mochila um espelho e passou a arrumar o seu penteado enquanto Taehyung limpava parte da maquiagem borrada. Pelos últimos quinze minutos, os Kim tinham encontrado a sua forma exclusiva e singular de se desculparem e de dizer o mais singelo "eu te amo".

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