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Sooyoung voltava do banho já vestida com seu pijama de dormir, algo confortável e quente para apaziguar tamanho frio que fazia naquela noite.

Jiwoo já estava devidamente vestida, enfiando o celular ao bolso e carregando sua bolsinha para ir para casa, para o espanto de Sooyoung. Em sua cabeça, elas jantariam juntas e Kim dormiria consigo, mas não era bem isso que aconteceria.

— Não vai dormir aqui?! — perguntou desanimada.

— Não, eu saí sem avisar e não pedi aos meus pais para que pudesse dormir fora. E também, só deixariam se fosse na casa da Chaewon.

— Então deixe pelo menos eu te levar em casa.

— Não é muito longe e eu consigo ir sozinha, fique em casa — Sooyoung se sentou ao lado da menor e a segurou pela nuca, aproximando o rosto bem devagar para beijá-la. — Podemos marcar um outro programa...

— Tipo o quê?!

— Cinema, lanche e boliche.

— Uh, eu fico enjoada no boliche, pode ser cinema, boliche e lanche, nessa ordem?! — Jiwoo fez que sim com a cabeça. — Ótimo, em que dia?!

Quando Jiwoo ia responder, ouviu-se uma intensa discussão no andar de baixo. Sooyoung se levantou da cama e espiou pela fresta no chão que direcionava a escada ao andar inferior.

— Algum problema?! — perguntou Jiwoo.

— Posso estar enganada, mas... Acho que é o seu pai — disse Sooyoung, assustada.

Jiwoo saltou da cama e passou na frente da maior, descendo as escadas com pressa e segurando o óculos para que não caísse da face. Como uma verdadeira culpada, Jiwoo se colocou atrás do alto Mr. Ha que tentava conter Mr. Kim de entrar de vez em sua casa, balançando o indicador a puro nervosismo.

Quando avistou Jiwoo, Mr. Kim semicerrou os olhos e apenas apontou para a porta, fazendo-a se retirar da casa de Sooyoung. Jiwoo olhou para trás, local em que Sooyoung estava e balançava a mão para ela ir pra casa e evitar maiores problemas. Do jeito que Ha era e se soubesse que Kim saíra sem os pais saberem, com certeza a faria dar meia volta para casa assim que se encontraram no parque.

Jiwoo saiu da casa dos Ha como um furacão, batendo firme os pés e segurando a alça da bolsa para que ela não caísse mo meio do caminho. O pai a seguia com a chave do carro em mãos e passou a chamá-la para a parar.

— Você ficou doida, Jiwoo?! — a garota parou de andar e girou em torno de si para encarar o pai. — Temos um trato, sair sem permissão apenas para a casa de Chaewon, fora isso, tem de nos pedir, e só à luz do dia.

— Taehyung sai até de madrugada e você nunca fala nada, por que comigo tem que ser diferente?!

— Porque são situações diferentes.

— São situações diferentes ou é porque ele é seu filho predileto?! O filho homem que você tanto quis?! — Mr. Kim permaneceu calado, de ombros caídos por cima do corpo. — Foi o que pensei.

Jiwoo voltou a caminhar, ainda ouvindo os passos firmes do pai correndo atrás de si. Ela foi contida pelo segurar de seu braço, que a fez virar bruscamente, tentando esconder suas lágrimas.

Kim Jiwoo não era alguém de muitas brigas, por isso, ela preferia ter apenas uma amiga. Chaewon era engraçada e carismática, o que facilitava a relação das duas. Em todas as discussões que era envolvida, Jiwoo não conseguia falar, sempre engasgava e acabava chorando por medo de falar algo incoerente ou desagradável.

Da última vez, ela se retirou da sala pois o nervosismo foi tanto que ela chegou a vomitar. Não seria diferente em uma situação envolvendo o seu pai, logo o seu pai, um advogado.

— Entre no carro — foi o que ele disse.

Jiwoo se desvencilhou e entrou no carro, no banco do passageiro, colocando o cinto e deitando a cabeça na janela. Enfiou os fones nos ouvidos com força e colocou para tocar One in a Million. Era uma música com um pesar melancólico do seu grupo predileto que, mas valia a pena para formar todo o clima dramático.

O caminho foi totalmente em silêncio e, assim que chegou em casa, retirou os sapatos e atravessou a sala sem prestar esclarecimentos para a mãe ou o irmão. Bateu a porta do quarto com tamanha força que os assustou. Jiwoo sempre foi uma boa filha; obediente, educada, gentil e dócil. Os pais nunca precisaram se desgastar com ela como acontecia com Taehyung, e ver as suas atitudes atuais era estranho e novo.

Arremessando os pertences na cama, Jiwoo se escondeu embaixo da escrivaninha, como fazia quando criança e possuía algum medo. Ela não olhava para nada; não piscava, não pensava, só respirava. Era como se seu cérebro tivesse entrado em stand by para descansar.

A porta foi aberta bem devagar e pelo tom das aspiradas, constatou que era o pai.

Bingo!

Mr. Kim viu os pés calçados a meias de abacaxi e se encostou na mesa, olhando para a janela do quarto que era conhecida por ser invadida com frequência por Chaewon. Mr. Kim ganhava coragem para falar com a filha, já que o comportamento atual era novo para ele.

— Quando a sua mãe ficou grávida, nós ficamos muito felizes em saber que eram gêmeos. Era o nosso sonho, bem, mais dela do que meu, mas ainda assim, era nosso. Com o passar das semanas, a barriga dela desceu, e a gente foi informado que era uma gravidez de risco. Sua mãe precisou sair do emprego e eu tinha que me desdobrar para pagar as contas.

Mr. Kim falava de um passado não tão distante com bastante melancolia.

— No dia em que a bolsa estourou, ganhamos de combo uma hemorragia interna. Eu me lembro que saí em alta velocidade, ganhei três multas, que consegui reverter depois, tudo isso para chegarmos em tempo no hospital. A sua mãe repetia por diversas vezes para salvar os seus filhos, para não se importarem com ela... E eu apelava para salvar os três mesmo depois de ter ouvido que um dos bebês podia falecer durante o parto junto à mãe.

Jiwoo se encolheu ainda mais embaixo da mesa.

— Estávamos beirando a madrugada quando você nasceu. Era tão pequena, rosinha, com as bochechas bem grandes, e de olhos bem abertos. Você não chorou; respirava, piscava, todos os exames apontaram como uma criança saudável, mas você simplesmente não chorou. Até pensamos que poderia ter algum problema na fala ou auditivo, mas não. Taehyung foi um escândalo, ele gritava estridentemente, quase nos ensurdecendo, foi um horror! — ele arrancou de Jiwoo uma gargalhada, constatando que estava a ganhando novamente. — Você tinha nascido mostrando que seria alguém forte, mas eu sabia que demoraria para perceber isso, então escolhi a missão de cuidar de ti como a minha princesinha. Não é fácil para mim entender que está crescendo. Sabe, eu tive um dia péssimo hoje, e chegar em casa e ver o seu irmão atordoado sem saber onde estava quase me fez ter um infarto.

— Vocês sempre trataram Taehyung diferente.

— Porque você sempre nos mostrou independência.

— Eu tive de aprender a ser independente por conta disso.

— Jiwoo, nós não os tratamos diferentes.

— Mas a partir do momento que cria um escândalo porque eu fiz algo que ele faz com frequência então sim, é um tratamento diferenciado.

— Você entende que para mim, essas atitudes vindas de você são novas?! Taehyung sempre foi rebelde e usamos dessas estratégias para controlá-lo. Você não. Você sempre foi obediente e nunca nos deu trabalho. Eu fiquei desesperado. Nós podemos conversar, ver o que faremos sobre suas saídas além de estar com Chaewon, mas por favor, nunca mais saia sem sinalizar. Eu já passei pelo quase sentimento de perda, não quero que ele se concretize.

Jiwoo espiou para fora da mesinha, observando o pai sorridente à espera de que saísse do seu esconderijo. A garota se levantou e o abraçou, praticamente sumindo em seus braços.

— Sooyoung é a sua nova amiga?!

— Errr... Sim?!

— Hum... É bom que faça amizade com a futura namorada do seu irmão, não quero conflitos de cunhadas!

Jiwoo sorriu mas por dentro zombava da inocência do pai porque com certeza se Sooyoung entrasse naquela casa, não seria apresentada como namorada de Taehyung.

Ela seria apresentada como a sua.

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