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Desde muito novos, as atenções sempre foram voltadas para Taehyung.

Ele era o filho atlético, cuidadoso, popular, amoroso, bonito e forte. Nos natais em família, todos queriam saber como ele estava nas competições, em que olimpíada começaria profissionalmente, o que faria quando ganhasse o ouro olímpico. Taehyung sempre deu mais trabalho. Começou ao nascimento; ele era o bebê que tinha chances de morrer, e quase morreu pelos médicos demorarem para o fazer respirar.

Enquanto Jiwoo precisava se esforçar ao máximo para ter o mínimo de atenção, Taehyung só tinha de piscar para todos aplaudirem.

Jiwoo não tinha muitos amigos, era apenas Chaewon, a menina engraçada que vendia nuggets com o pai. Ela nunca se importou em ter apenas uma amiga mas sim, em ter que se sobressair em tudo para ser melhor que o irmão e mesmo assim não ser reconhecida.

Por diversas vezes, Jiwoo levou a culpa por algo que nunca fizera, apenas porque Taehyung tinha de ser enaltecido a todo tempo. Prender-se à música foi o melhor a se fazer mesmo que ninguém visse o quão grande era o seu talento.

Tudo mudou depois do acampamento, quando enfim pôde conhecer Ha Sooyoung com outros olhos. Ela se lembrava como se tivesse acontecido ontem. Chaewon tinha ido para Daegu com o pai para visitarem uns familiares e os pais a enfiaram no acampamento de verão com a desculpa de que seria bom para fazer amizades.

Jiwoo sabia que eles queriam se dedicar a Taehyung e em suas competições de verão, mas ela fantasiou que seria bom.

O chalé que Jiwoo ficara era composto por duas meninas de colégio religioso que de santas não tinham nada. Elas aprontavam com Kim desde a sua chegada e tudo começou quando no meio da madrugada, elas viram-na lendo por debaixo das cobertas em seu celular, o que não era permitido.

Ninguém sabia como Jiwoo tinha conseguido levar o celular para o acampamento, mas as santinhas enviadas pelo Diabo dariam um jeito nisso.

Levaram Jiwoo pela floresta escura e deserta para fazerem um trote. Empurraram a garota e se aproveitaram de falsas palavras cristãs para darem-na uma surra, esta que seria para a purificação e limpeza de sua alma. Elas viram o que Jiwoo lia, era um conto lésbico e erótico, e como o tom de voz da garota mais alta emitia, o mal tinha de ser cortado pela raiz. Por aquelas mesmas bandas caminhava Sooyoung.

Ela conseguiu um rolo de baseado com as garotas de um outro chalé e estava perambulando noite afora com o rolinho nos dedos. Foi a sua presença que espantou as falsas cristãs, e com sua ajuda, Jiwoo conseguiu se recuperar e mudar de chalé.

Não foi confirmado o motivo das agressões para os superiores, mas as duas garotas foram expulsas. Jiwoo passava noites em claro conversando com Sooyoung até que decidiu experimentar do mesmo que ela tragava. Era a sua primeira vez fumando e sentir a fumaça por seus pulmões a fez tossir. Depois, se acostumou estranhamente com o relaxamento que vinha logo em seguida. Tragaram cerca de quatro, dois para cada, e foi quando a tontura fez Jiwoo avançar o sinal e beijar Sooyoung.

Naquela mesma noite, as garotas do acampamento fizeram um luau, com fogueira e marshmallows para serem tostados. De portas trancadas, Jiwoo sentia a pele cálida e desnuda de Sooyoung contraída à sua, com seus grunhidos ecoando pelo quarto. Jiwoo nunca sentira nada parecido. Não era a sua primeira vez, ela conheceu uma garota nas férias que passou na Ilha de Jeju, mas isso era outra história para outra narração.

Cada um de seus movimentos eram precisos e era incrível como o prazer compartilhado as saciava e, ao mesmo tempo, fazia-as pedir mais. Por quase a noite toda, Jiwoo sentira Sooyoung e vice-versa. O que tinha acontecido no acampamento, tinha ficado no acampamento... A menos que Jiwoo tivesse intensificado os seus sentimentos pela Ha e ela se tornasse cada vez mais presente em sua vida.

Ela queria que Sooyoung tivesse alguém mais real, sem tantos problemas ou dificuldades, que pudesse sair de mãos dadas sem medo de que alguém as visse e contasse aos seus pais. Ela queria tirar Sooyoung de sua cabeça para que a própria fosse feliz, mas de nada adiantou, nem mesmo tentar jogá-la para Taehyung.

Jiwoo recebeu as mensagens de Sooyoung por volta das 3:50 da tarde, e diziam o seguinte:

@soosoosooyoung:
eu já sei de tudo, e eu não quero te julgar, mas agora me
senti vendida. se queria esquecer de mim, fazia um esforço, mas me jogar
para o idiota do seu irmão foi o cúmulo.
sabe que não gosto de meninos, e você achou
o quê?! que eu não ia descobrir assim
que começássemos a ficar, que ele não
era como as mensagens delicadas que
me mandava?!
jiwoo, eu seria tola em dizer que
não desconfiava, mas não imaginei que
você fosse aprovar isso. eu não sei o
que pensar sobre isso, então me dá um
tempo pelo menos para absorver e entender tudo isso.

Apesar disso, Jiwoo não visualizou. Ela estava ocupada demais vestindo o seu vestido preto e se arrumando para o baile quando o seu irmão invadiu o quarto, furioso. Ele segurava papéis e ainda estava com as roupas confortáveis que usava depois das competições.

— Ai, calma, o professor Zhong vai lhe dar outra chance.

— Não, ele não vai. Você não sabe como foi humilhante ouvi-lo dizer que eu deveria fazer uma terapia e que tinha reprovado. Você podia ter jogado ovo na minha cabeça, me passado maquiagem ou desenhando um pênis com caneta permanente na minha testa, e você escolheu destruir a única coisa que me faltava para me livrar de toda essa merda. Jiwoo, você é um peso na minha vida, seria muito melhor se você não existisse.

Ele gritava e só então Jiwoo teve noção do que havia feito. Ela podia ter feito aquilo com qualquer outro professor, menos com Zhong, obviamente ele nunca aceitaria e reprovaria Taehyung , que foi o que aconteceu.

Apesar disso, as palavras de Taehyung pareciam muito mais do que apenas uma briga idiota de irmãos. Ele tinha mexido com todas as suas inseguranças e brincava com elas como se fossem algo irrelevantes e medíocres.

— Você estragou a minha vida, Jiwoo. Agora eu não poderei ir para universidade, não adiantou de merda nenhuma ter praticado tanto... E Sooyoung... Você sabia que ela nunca ficaria comigo, vocês estavam juntas e me deixaram ser idiota. Você é uma pessoa horrível e egoísta!

— Egoísta?! Você quer falar sobre egoísmo?! Logo você?! — Jiwoo riu pela irritação. — Você sabe o que é viver uma vida inteira na sombra de outra pessoa?! Você sabe o que é a todo tempo tentar se mostrar especial e não conseguir?! Eu passei anos da minha vida nessa merda, sempre tentando ser uma filha melhor para que prestassem atenção em mim. Eu sempre tirei as melhores notas, sempre fui obediente, fiz tudo correto e nunca tive retorno algum. Nada que eu faço é bom o suficiente porque você sempre está um passo a frente de mim. Você não faz ideia do que é acordar todos os dias e saber que é insuficiente, que ninguém nunca vai te admirar e que sempre vai ser a irmã da estrela da natação. Você não sabe o que é ser um nada, uma ninguém porque tudo o que faz nunca é o bastante. Quer saber o que aconteceu no acampamento?! Me bateram por descobrirem que eu era lésbica, está surpreso?! Claro que sim, você nunca percebeu mesmo tendo a porra de um pôster imenso da Jihyo na cabeceira da minha cama. Sim, eu transei com Sooyoung mais de uma vez e essas foram as únicas vezes que eu me senti especial para alguém. Eu sinto inveja de você, eu queria ser a filha preferida, admirada e que recebe maior atenção. Eu queria ser tudo isso mas eu não sou porque como você mesmo disse, eu nem deveria existir e, para mim, eu não existo. Eu sou só um estorvo na vida de todos que estando ou não presente, nunca vão notar a diferença. Eu passei a porra do ano inteiro fazendo de tudo para você, e para quê?! Isso não me ajudou em nada. Eu não durmo direito há meses, quase fui pega por te passar respostas de prova e para quê?! Para você continuar sendo o melhor, o incrível e perfeito Taehyung. Pela primeira vez na vida, você sentiu o que é perder o que tanto queria. Eu sinto isso todos os dias desde que nasci porque sei que sou uma fracassada e não serei nada além do empecilho na merda da vida de todos.

Jiwoo se virou e jogou dentro da mochila alguns de seus pertences, colocando as alças pelos ombros e limpando as bochechas vermelhas pelo choro.

— Mas você tem toda razão, a vida de todo mundo seria muito melhor se eu sumisse. Então fique à vontade para viver a sua vida perfeita porque não vai mais existir uma Jiwoo para atrapalhar o seu caminho.

— Jiwoo, espera.

— Não vai ser difícil de me esquecer, você nunca lembrou de mim mesmo.

E saindo do quarto, Jiwoo iria para qualquer lugar que lhe desse um pouco de paz, sendo numa floresta silenciosa ou numa rodoviária barulhenta.

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