9 - Zoe

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Boa leitura ❤️📚


Eu estava animada. Depois de muito tempo e muita tristeza acumulada realmente estava animada de verdade. Desde o ano novo eu vinha me sentindo um tanto eufórica. Algumas coisas haviam mudado. Eu decidi esquecer toda a cena de Ryan e ele não havia me procurado desde então, o que já era ótimo por si só, uma dor de cabeça a menos.

Nancy estava mais esperta que nunca e era um orgulho. Mas o melhor de tudo foi receber elogios dos meus pais quando eles se despediram de mim.

— Eu e August tivemos uma breve conversa. Não posso deixar de dizer para você tomar cuidado, mas se alguém pode dobrar o homem, tenho certeza que pode ser você. Quanto a Ryan, terei uma conversa com Denny.

— Pai, parece que Ryan sempre vai ser um problema enquanto não cuidar de si mesmo.

— Outra coisa que seus pais estarão cientes. Eu amo você, querida. Estou orgulhoso. Você tem uma boa vida aqui.

Eu lhe dei um abraço longo antes dele ir para o carro. Minha mãe ficou para trás e me deu um olhar com um meio sorriso.

— Eu fiquei todos esses dias esperando que você fosse me contar o que está acontecendo entre você e o bonitão?

— Bonitão? — Ergui uma sobrancelha para ela.

— Bem, agradável sabemos que ele não é. Eu já sabia disso por conta de algumas reuniões do marketing do hospital. No ano novo não foi muito diferente, mas minha filha, eu vi como ele te olhou e depois eu vi como você olhou para ele na queima de fogos.

— Mãe, eu só estava feliz por ele ter cuidado de Nancy, é uma batalha infinita fazer ele enxergar que ama a filha.

— Oh, então vamos continuar fingindo que você não está só apaixonada pela bebê, mas pelo pai dela também?

— Mãe! Não é nada disso, August nunca me veria dessa forma. — Alisei minha camisa desviando o olhar.

— Mas você o vê dessa forma, não é?

Ela ergueu meu queixo e me olhou nos olhos. Eu nunca conseguia esconder nada dela e bastou eu desviar o olhar novamente para ela bater palma e me abraçar dizendo estar feliz por mim.

— Não fique animada, isso não irá pra frente. August é... Isso não vai acontecer, mãe. E eu vou ser profissional, eu sou babá de sua filha.

— Você é muito mais do que uma babá para aquela menina, Zoe, e sabe muito bem disso.

— Que seja, mas August está fora dos limites.

— Hmm, eu não posso concordar com você. Estou dizendo, eu vi o modo como ele olhou para você, sei pai me olha do mesmo jeito.

Balancei a cabeça não acreditando nenhum um pouco naquilo. Meu pai amava minha mãe de uma forma que não podia ser descrita. Ele a olhava com se ela fosse a única pessoa capaz de dobra-lo, a única capaz de carregar seu coração, a única que o fazia desejar. Quem os conhecia sabia que minha mãe era a única mulher na vida do meu pai e ele era o homem dela. Sem espaço para nada além do amor e paixão e devo dizer, desejo ardente. Eu por muitas vezes tive que me retirar de um ambiente quando os dois começavam a flertar. Era vergonhoso.

Então era totalmente impossível August me olhar daquela forma, minha mãe estava enganada. Eu já tinha tido o infeliz prazer de ver o tipo de mulher que August costumava se envolver, nada além de uma noite de sexo pelo que eu observava. Eu nunca seria uma dessas mulheres por motivos óbvios, elas eram as modelos siliconadas, cinturas finas, loiras de olhos claros e com inteligência zero. Já eu era a mulher negra de quadril largo, um diploma em medicina que havia largado tudo na vida para cuidar de uma linda menina ao qual o pai não queria admitir que se importava.

August poderia até ter algum interesse sexual, mas não era de seu feitio olhar para alguma mulher da forma como meu pai olhava para minha mãe. Ela estava vendo coisas. Era uma romântica incurável e eu precisava viver o mais dentro da realidade possível.

Mas não foi isso que aconteceu, todos os dias que se passaram as palavras delas se repetiram em minha cabeça de forma que eu ficava procurando o maldito olhar em August, alguma palavra, ação, qualquer coisa. Eu puxava conversa, tentava ser agradável e receptiva embora ele não ajudasse em nada.

Eu não tinha me arrependido de me abrir para ele, de contar o que perdi. Eu só me senti ainda melhor depois daquilo, como um peso tirado das minhas costas. Não esperava nada em troca, mas quem sabe, isso tivesse aberto alguma porta para August?
Maldita boca da minha mãe por me dizer aquele tipo de coisa e fazer minha cabeça, agora eu ficava desejando o que não podia ter. Nada havia mudado para August, ele só parecia estar mais estressado e fora de si. Isso ficou nítido quando ele chegou jogando sua bolsa no sofá, algo que ele nunca fazia, o homem era muito bem organizado.

Não por acaso a bolsa estava aberta e um cartão de aniversário caiu. Eu nunca teria mexido, mas ficou ali estampado em minha cara, as felicitações e a data de seu aniversário. Rapidamente me afastei daquilo e fui pegar Nancy que não precisava de atenção de péssimo humor de seu pai.
Por dias a data ficou em minha cabeça e resolvi então que faria uma pequena comemoração, o que me levou a comentar com Martha e Chloe quando tivemos um tempo juntas. Martha me disse que ele não gostava de comemoração então segui a deixa e mantive aquilo somente entre nós três. Seria algo divertido para Nancy e quem sabe August se sentiria relaxado e pudéssemos conversar?

Deus, eu estava mesmo planejando tudo aquilo? Achando que daria certo? O que isso faria de mim? Afinal August era meu chefe e eu estava buscando o amor dele pela filha, não por mim. Parecia não me importar quando passei boa parte da tarde decorando a sala de estar com balões e papéis decorativos, até comprei chapeuzinho para Nancy. Encomendei um belo bolo de chocolate com morango, o que descobri ser seu favorito depois que insisti em saber por ele.

Coloquei uma roupa em Nancy que dizia "Parabéns, papai" e deixei uma música baixinha tocando esperando que ele chegasse.

Ignorei o quão patética em poderia estar parecendo e mantive o foco em imaginar sua reação ao perceber que havia preparado aquilo para ele. O melhor de tudo era Nancy animada com toda a decoração, ela estava se divertindo tanto.

Assim que ouvi o barulho de chaves peguei Nancy no colo e fiquei em frente a sala esperando por ele. Não pude evitar meu sorriso e disse a Nancy para bater palmas assim que avistamos seu pai.

— Surpresa!

— Papapa!

Nancy gritou batendo palmas. August parou onde estava e olhou para nós, então pela sala e para o bolo no centro da mesa. Pelo contrair de seu maxilar eu soube que havia sido a pior ideia de todas.

— Que porcaria é essa?

Ela gritou em um tom frio, o que deixou até Nancy tensa. Ela se encolheu em meu colo enquanto August vinha até mim, me encarando nos olhos.

— Você me ouviu? Que porra você fez? O que é tudo isso?

— Eu... Eu descobri que era seu aniversário. Eu achei que seria divertido para você e Nancy?

— Divertido? Está me vendo sorrir? Me diga Zoe, o que te faz achar que eu quero você se importando com o que é divertido para mim e Theodora? O que te dá o direito de fazer da minha casa uma atração de circo? E que porra de música é essa? O que você acha que está fazendo caralho?

Ele terminou jogando a bolsa em alguma balões, estourando alguns e fazendo Nancy se assustar e começar a chorar.

— Ótimo, agora essa coisa está chorando. Por que não faz a única coisa para que eu te contratei e cuide dessa garota para que ela possa parar de enfernizar minha vida? Você acha que é capaz disso ou vai ter uma grande ideia e fazer uma festa disso também?

— Eu já entendi que você não gostou da surpresa. Eu sinto muito. Vou tirar tudo.

— Seria demais você achar que eu mesmo fosse jogar essa bagunça no lixo.

Eu me afastei magoada não querendo ouvir muito. Deixei Nancy na sala e fui guardar o bolo, tirando apenas um pedaço para dar um pouco a Nancy, sem exagerar no açúcar, enquanto eu acaba com a decoração que fiz com tanto carinho e que foi a pior ideia do século.

August estava bebendo dose após dose enquanto eu murchava os balões e ficava de olho em Nancy que ainda mantinha o chapeuzinho e comia do bolo. Tudo foi muito rápido para um saco de lixo, e quando eu menos esperava August parou na minha frente, seus olhos vermelhos como se ele tivesse chorado.

— Me responda uma coisa, Zoe. Quão feliz você ficaria se ganhasse uma festa de presente marcando a data em que perdeu sua filha?

— Não. Não diga isso. — Dei um passo atrás ciente que lágrimas estavam se formando em meus olhos. — Você não pode.

— Não posso? Em quem disse que você pode fazer tudo isso? Por que você achou que seria uma boa ideia? Quando foi que eu disse a você que éramos amigos, porra? É o pior dia da minha vida e você faz uma comemoração?

— Eu não sabia. Eu sinto muito.

— Não, todo mundo diz isso, mas não sente. Não tem a porra da ideia!

— August.

Me virei, assim como August quando ouvimos a voz de Nick. Ele olhava para nós dois com preocupação. August se virou para mim e sorriu. Era um sorriso malvado e frustrado. Ele continuou a andar na minha direção me fazendo andar para trás, me deixando encurralada na parede do corredor, uma mão em cada lado da minha cabeça.

— Você chamou a porra do meu irmão para a festa surpresa, Zoe? Que merda você tem na cabeça, hein?

— Eu não fiz. Eu...

— Você é a porra de um problema. É o que é. Desde o dia em que apareceu aqui, vem tentando me controlar, me mudar. Isso é por que não consegue mudar a si mesma? Eu não pedi para você fazer nada por mim, caralho. Eu não quero você me mudando. Você não me conhece!

— August, chega! Fique longe de Zoe.

— Fique longe você, porra! Quem te chamou para meu apartamento? Eu não quero você aqui. Saia.

— Zoe vem comigo, se afaste dela.

August olhou para mim e inclinou o rosto com um sorriso morto.

— Não. Eu vou ficar bem aqui. Eu acho que tenho uma festa para curtir. Não era isso que você queria, Zoe? Agora eu vou comemorar.

Ele se afastou do meu rosto apenas para virar o restante de seu uísque, em seguida jogou o copo contra a parede próxima a nós. Me encolhi e levantei o joelho o acertando entre as pernas no mesmo momento que Nick o puxou pelos ombros, os dois pareciam que iam entrar num conflito, então rapidamente peguei Nancy no colo para sairmos dali.

— Não! Pode deixar ela aí. Eu quero que você e esse maldito saiam da minha casa.

— August, você não está de bom humor. Vamos cuidar de Nancy. — Nick disse arrumando seu terno.

— Não queira ser o juiz de paz, Nicholas. Eu quero você e ela fora, a menina fica. Ou chamamos a polícia e resolvemos isso de outra forma.

Eu me encolhi, mas já havia escutado demais. August ainda tocava entre as pernas me olhando com raiva. Apesar de tudo eu sabia que ele nunca faria nada com Nancy. Ele só ficaria mais irritado se Nick continuasse ali. Eu deveria agir e acabar com tudo aquilo, afinal eu havia começado.

— Tudo bem, nós estamos saindo. Eu sei que você vai cuidar dela. Eu sinto muito, August. Me desculpe.

— Para o inferno com suas desculpas, Zoe!

Balancei a cabeça e deixei Nancy voltar a brincar, embora ela sentisse o clima e continuasse tensa. Peguei minha bolsa e saí do apartamento com Nick atrás de mim. Quando a porta do elevador se fechou eu desabei, chorando e sendo acolhida por Nick.

— Não é sua culpa, Zoe. É uma data difícil. É aniversário da morte de sua mãe também.

— Eu não sabia. Eu não fazia ideia. Quer dizer, sua mãe comentou algo, mas eu não sabia que era assim!

— Está tudo bem, você não tem culpa. Chloe está no carro, vocês poderão conversar. Eu vou voltar para buscar Nancy.

— Ela vai ficar bem, ele vai cuidar dela.

Nick não disse, mas eu sabia que ele pensava o contrário. Não importava, August não era nenhum animal, ele não deixaria a filha desamparada.

Eu continuei a chorar me sentindo tola por estar apaixonada por August quando tudo o que ele conhecia era destruição. O que havia de errado comigo? Sorte a minha que Chloe ficou comigo aquela noite. Me servindo dose após dose de tequila enquanto me ouvia desabafar sobre August e tudo o que havia acontecido na minha vida. Ela era a segunda pessoa que agora sabia sobre minha filha aqui em Nova York e mais uma vez um pouco do peso pareceu sair dos meus ombros, seja pela conversa ou pela bebida que me entorpecia.

No meio de nossas conversas, meu celular tocava com mensagens e ligações de August. Mas eu aceitei o conselho de Chloe e ignorei tudo, embora um pouco preocupada com Nancy, ainda desliguei o celular e continuei seguindo o plano de finalizar a garrafa de tequila sozinha já que Chloe não estava num momento em que podia beber. Ainda assim ela estava sendo ótima com o ombro amigo.


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A Filha Rejeitada do CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora