15 - Zoe

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Sentei ao seu lado e pressionei o saco de gelo em sua pele avermelhada e machucada, ele franziu o cenho e sibilou de dor, mas continuou quieto observando a filha.

— Isso foi ele dando as boas vindas?

— Isso foi ele dando algo que mereci. Eu contei tudo para ele, sobre Chloe.

— Entendi.

Ele desviou seu olhar para mim e só consegui encarar seus lábios rosados. Eles se moveram, mas não estava exatamente ali para compreender. Eu estava pensando no sonho quente que tive com sua boca em meu corpo, o que era totalmente errado.

— Desculpe. O que você disse?

— Você e Ryan estão juntos?

— August...

— Eu só quero saber se você está bem com ele.

— Nos éramos amigos de infância, crescemos juntos, podemos não estar casados, mas conseguimos manter a amizade. Ele está se recuperando tanto quanto eu, é bom que finalmente conseguimos nos ajudar.

Eu não sabia como explicar para August o que estava acontecendo de verdade entre mim e Ryan, em parte eu disse a verdade. Estávamos nos ajudando, nos curando, mas nos também estávamos dormindo juntos e eu ainda me sentia como se estivesse usando Ryan. Ele havia parado de falar sobre voltarmos, talvez estivesse finalmente compreendendo que não aconteceria mais, então eu não menti totalmente para August.

Por outro lado, eu já não aguentava mais lutar contra o que sentia por August, ficava cada vez mais forte e nós, literalmente, não estávamos fazendo nada. Ele estava respeitando meu espaço, e eu estava tentando encontrar um modo de fazê-lo se ajudar. O que ele havia revelado para mim algumas noites atrás era uma bomba, eu imaginei que ele tivesse algum problema para tratar, ninguém era tão estressado e amargurado assim por nada, mas o que ele me contou... consegui compreender o porquê de tanto rancor por seu pai. Eu queria ajudar ele de alguma forma, ao menos colocar ele no caminho para ajudar a si próprio.

— Atlas nunca me olhou daquele jeito, mesmo em minha adolescência, quando eu fiz muita merda... O que eu fiz vai me perseguir a vida toda, Zoe. E eu não consigo entender porque é que Chloe está onde está agora, e nada de fodido aconteceu comigo depois daquilo, pelo contrário, ganhei uma filha maravilhosa, e você está aqui cuidando dela.

— Você conseguiu esse pessoal para ajudá-la, isso deve dizer alguma coisa.

Tentei amenizar sua dor, era muito perceptível a forma como ele estava arrependido. Chloe decidiu esquecer todo o ocorrido quando soube que não conseguiria provar nada e seguir sua vida. Eu a admirava demais por ela conseguir ser tão forte, fazer o que muitas mulheres em seu lugar jamais conseguiriam, e mesmo que seja um ato imperdoável, eu gostaria que August parasse de se martirizar por isso, ele poderia aprender com isso e seguir sua vida decidindo ser uma pessoa melhor a cada dia, mas assim como outros traumas de seu passado isso estava atrasando-o.

— Talvez você devesse buscar ajuda profissional August.

— Zoe...

— Você precisa cuidar de tudo dentro da sua cabeça. O que eu disse meses atrás permanece, você não pode viver duas vidas assim, você não pode guardar tanto rancor e raiva de tudo e todos. Você mais que tudo não pode continuar vivendo ignorando o problema que tem. Se não está convencido por você mesmo, pense em Nancy e em como cuidar de você mesmo vai ser benéfico para ela.

Ele me olhou por um tempo, então suspirou e balançou a cabeça como se tivesse aceitado meu conselho, mas eu sabia que ele estava fazendo isso mais para mim não ter que continuar falando sobre isso, do que como se ele fosse realmente procurar uma ajuda.
Nancy riu de seu desenho e ele sorriu pegando-a em seus braços e começando a brincar com ela, enchendo-a de beijos como ela gostava.

— Então, como você vai ajudar a trazer Chloe de volta?

— Eu não vou estar lá. Vai ser mais difícil para Nicholas e eu preciso cuidar da empresa. Precisam de muito planejamento, eu só quero facilitar um pouco para o meu irmão. Ninguém deveria passar pelo que ele está passando.

— Você está fazendo algo bom.
Ele olhou para mim e deu de ombros como se aquilo não fosse nada, mas percebi seus ombros relaxarem um pouco mais.

                                   ~

Um bom tempo se passou dede que conheci Atlas. Nancy estava crescendo, August estava cada vez mais doce e apegado a filha. Meus pais tinham parado de me ligar a todo momento pedindo que eu voltasse para Califórnia, eles estavam apavorados que acontecesse comigo o que aconteceu com Chloe. Ainda não tinham conseguido encontra-la, mas estavam perto. Sempre que August tinha notícias ele me informava, eu estava morrendo de saudades e pedindo a Deus que ajudasse sempre, por tudo o que ela estivesse passando.

Hoje eu estava com Nancy em casa, lavando roupa e organizando o que eu sempre deixava para depois. Ryan também estava aqui, era bom vê-lo com Nancy, ela se divertia bastante com ele e vice-versa.

— Amor, ela acabou de dizer Ryan, você escutou?

Fui até a sala onde eles estavam e fiquei olhando para os dois enquanto Nancy repetia o nome de Ryan uma vez atrás da outra. Ele sorriu e veio ate mim, enrolado um dos meus cachos no dedo, então inclinou o rosto me fazendo olhar em seus olhos.

— Viu como foi natural? Eu te chamei como sempre fiz quando éramos casados, você nem estranhou. Nós somos bons juntos, querida. Nos de uma chance.

— Por favor Ryan. Não volte para isso, nós somos só amigos.

— É por isso que você não está querendo mais dormir comigo?

Baixei a cabeça antes de suspirar e assentir olhando para ele novamente.

— Não podemos mais misturar as coisas, eu não posso mais usar você.

— Eu não me senti nada usado.

— Acredite, eu fiz. Eu sinto que só confundi você ainda mais, te dei esperança de algo que não vai acontecer. Eu queria apenas me livrar de certa tensão sexual, e eu sabia como você era bom de cama, mas eu não posso mais fazer isso. Não quando você sempre vai ficar querendo me provar que somos bons juntos, me pedindo para voltar. Nós fomos bons juntos Ryan, mas não vai acontecer novamente.

Ele deu alguns passos para trás me olhando como se não acreditasse que eu fosse capaz de quebrar seu coração, porém eu nunca disse a ele que nos seríamos uma possibilidade novamente, posso ter sido errada em dormir com ele todo esse tempo, mas nunca lhe dei esperança de algo mais. Eu tinha pensado muito sobre o que vinha fazendo, eu já tinha aceitado meus erros e estava lidando e aprendendo com isso.

— Aquele cara tem alguma coisa a ver com isso?

— Que cara?

— O pai da menina!

Me assustei quando ele gritou e Nancy fez o mesmo olhando para nós apertando seu gatinho de pelúcia.

— É melhor você ir agora, Ryan.

— Eu não acredito que você pode escolher ele a mim, ele nunca vai respeitar você ou te tratar como você merece. Ele vai continuar te dando a responsabilidade de cuidar da filha dele, te ajudando a acreditar nessa ideia patética de que você e só uma babá.

— Eu estou falando sério, você precisa sair agora. Não vou ficar escutando essas coisas.

— Você está fazendo isso por que acha que é o melhor para mim, certo?

— Sim. — disse com toda a sinceridade do mundo.

— Então deixe-me devolver o favor. Eu amo você, Zoe. Eu sinto muito pelo que aconteceu com Ayla, eu sei como dói, perdemos nossa filha. Mas você não pode substituí-la cuidando de Nancy.

Eu não tive reação, simplesmente fiquei o encarando sentindo as lágrimas virem. Eu puxei o ar pelo nariz e apontei para a porta. Fiquei observando enquanto ele saía do meu apartamento, dessa vez decidida que ele nunca mais voltaria, pois só sabia me machucar com o mesmo assunto. Eu não estava querendo substituir minha filha, nunca foi o que quis, mas Nancy precisava de cuidados, ela precisava de amor, ela tinha seu pai agora para isso e eu fiquei muito feliz que ele tenha começado a valorizar o que tinha e eu gostaria que Nancy me visse como sua melhor amiga, eu queria estar lá para tudo o que ela precisasse, e se um dia ela me visse como mãe eu seria muito feliz, mas nunca a induzi a isso, ou continuei com esse trabalho nessa intenção, mesmo sentindo o que sentia por August.

Eu planejava cuidar de outras crianças, quando ela fosse mais velha, quando precisasse menos de mim, mas ela ainda era um bebê, ainda precisava de atenção o tempo todo, eu não iria permitir que Ryan dissesse tais coisas, ele não podia imaginar como era nossa relação, ele não podia entender como era minha ligação com Nancy. Eu nunca desrespeitaria a memória da minha filha, eu nunca pensaria em colocar outra criança em seu lugar. Ryan estava louco por pensar dessa forma e não importava se ele falou aquilo na hora da raiva, ele voltou a me magoar cutucando a mesma ferida.

— Zozo.

Olhei para Nancy e abri um sorriso indo até ela, colocando-a em meu colo e colocando seu cabelo atrás da orelha.

— Você sempre vai ser minha menininha, Nancy. Eu ficaria honrada se um dia você me visse como mamãe.

— Momae?

Ela inclinou a cabeça confusa com a palavra nova. Eu só pude sorrir e deixar uma lágrima escorrer enquanto a abraçava, por que ela era a menina mais fofa do mundo.

— Sim, Nancy, mamãe. Nós podemos falar sobre isso quando você for mais velha.

Eu sabia que poderíamos nunca ter essa conversa, mas então Nancy começou a cantarolar a nova palavra que aprendeu como ela fazia com tudo. Ela ficou um bom tempo repetindo a palavra enquanto eu terminava de lavar a roupa, até minha campainha tocar. Estranhei quando vi quem era pelo olho mágico. August estava acompanhado de seu advogado, aquilo não podia significar algo bom.

— Está tudo bem? — Perguntei assim que abri a porta olhando para os dois.

— Precisamos ir para casa. — August disse passando por mim a procura de Nancy. — Você se lembra de Edgar Green?

— Boa tarde, Zoe.

Eu dei um sorriso contido enquanto dava espaço para o Dr. Green entrar, algo nele continuava me incomodando e piorou quando ele mediu minha casa de cima a baixo. Eu fui até Nancy e August, mas parei assim que vi a bebê mostrar ao pai que aprendeu uma nova palavra. Ele se virou para mim lentamente com uma sobrancelha arqueada.

— Você ensinou isso para ela? Porquê?

— Não. Não foi assim, apenas estava falando e ela repetiu.

— Você com certeza seria melhor do que a mulher que se acha no direito de voltar para a vida dela depois que a abandonou.

— O que? — Eu senti meu corpo inteiro congelar.

— Green já está resolvendo isso. Isis entrou em contato comigo há alguns dias, ela vai continuar longe, como ela quis desde o início.

— Mas ela está vindo para ficar com Nancy?

— Ela não vai conseguir nem chegar perto da sombra da minha filha, certo Green?

— Totalmente, Grayson.

Olhei para o advogado querendo sentir confiança no que ele estava dizendo. Ele encontrou meu olhar e não desviou. August confiava no homem, meu pai havia dito para mim que ele era o melhor no que fazia. Eu só não entendia por que a mãe de Nancy queria voltar para sua vida, eu achei que ela havia sido clara quando disse que não queria fazer parte da vida da minha menina. Eu não a conhecia, mas não queria nunca ter essa mulher na minha frente, pois não saberia como iria me controlar.

— Há mais uma coisa, Zoe.

— O que? — Me virei para August esperando que ele não me desse uma péssima noticia.

— Encontraram, Chloe. Estão trabalhando no resgate dela agora.

Me faltou ar, então consegui soltar um suspiro de alívio, o aperto no meu peito indo embora. Finalmente minha amiga estaria sendo tirada do inferno. Assim que me recuperei da grande notícia, arrumei minhas coisas para voltar ao apartamento de August com Nancy. Ele tinha tirado o restante do dia para trabalhar de casa e se manter em contato com Atlas. Na noite em que resolveram invadir o lugar que Chloe estava, não dormimos, eu fiz um chá para nós e ficamos sentados na sala de estar em silêncio esperando que o telefone tocasse, o que estava sendo uma espera angustiante.

— Eu... estou procurando alguém para me ajudar.  — August disse após colocar em um filme que não prestaríamos atenção. — Você estava certa sobre o que falou, não quero que Nancy cresça com uma bagunça como pai.

— Você esta fazendo um bom trabalho. Ela vai se orgulhar de você por se cuidar.

— Ela vai me odiar um dia. Ela vai saber que eu não queria ter ela e que eu a neguei... se não fosse você, Zoe... Quando ela souber disso será que ela vai mesmo se orgulhar de mim?

— Eu acho que o que vai pesar mais para ela é a forma como você passou a enxerga-la e fazer tudo por ela. Os pais podem errar, August, o que vale é como você conserta esses erros.

Eu esperava estar certa sobre o que estava falando. Ele pareceu ficar bem com aquilo e eu me sentei um pouco mais próxima. Eu não queria que ele me interpretasse mau, mas ainda tínhamos que conversar sobre a palavra que Nancy não parava de repetir.

— August, sobre Nancy ficar falando mamãe... ela vai aprender uma nova palavra e logo vai esquecer isso. Eu não quis confundir a cabecinha dela.

— Zoe, eu sinceramente não vejo problema nisso, a não ser, é claro, que você não se sinta confortável. Você é a coisa mais próxima de uma mãe que Theodora pode ter.

Baixei a cabeça deixando aquelas palavras entrarem em meu coração, mesmo assim era algo difícil de levar, eu não queria mesmo que Nancy ficasse magoada no futuro, eu ainda não tinha esquecido o que aconteceu no shopping, eu e o pai dela não tínhamos uma relação, ela ficaria toda confusa quando crescesse.

— Eu não sei...

— Eu conversei com Debbie sobre Theodora se algo acontecesse comigo, ela é a única na minha família que eu confio para cuidar da minha filha como eu gostaria que fosse, mas eu andei pensando que... eu vejo você e Nancy, vocês têm uma ligação. Eu gostaria que ficasse claro que quero você como responsável por ela, eu só preciso do seu consentimento antes de começar a papelada.

— Espera, o que?

Eu estava totalmente confusa com o que ele estava dizendo. Ele queria que eu assumisse a guarda de Nancy caso algo acontecesse com ele? Por que ele faria isso e por que estaria pensando numa coisa dessas?

— August, você não pode brincar com uma coisa dessas.

— Eu não estou brincando. Depois que Isis entrou em contato novamente eu resolvi trabalhar nesse assunto, ela não tem o direito de exigir nada com Nancy depois de tê-la abandonado. Minha filha vai fazer um ano em um mês, você está com ela desde quando ela tinha três meses. Debbie é da família, ama minha filha, ela também é minha opção, mas eu gostaria de pensar que Theodora estaria com alguém que a conhece completamente.

— Tá bem, mas isso é algo muito sério. E nada vai acontecer com você August, você não deveria pensar nessas coisas.

— Tudo pode acontecer, Zoe. Eu perdi minha mãe quando ainda era muito jovem, ainda tinha meu pai como meu responsável, mas ele realmente não queria estar nisso. Atlas esteve lá por mim e era um desconhecido, eu não quero que Nancy fique sozinha.

— Sua família nunca deixaria sua filha sozinha.

— Mas você é a única que eu confio a vida da minha filha além de Debbie.

Nós ficamos nos encarando, olhando nos olhos um do outro, totalmente hipnotizados enquanto aquela conversa estava se enraizando em nossos pensamentos. Eu estava bastante emocionada por ele ter escolhido a mim, era uma honra e eu sabia que nunca me arrependeria de ficar com Nancy caso algo acontecesse com ele, mas eu também não queria pensar nesse tipo de coisa sobre August. Ele estaria aqui, sempre, e sua filha cresceria ao lado dele e eu poderia estar com ela também, como eu disse poderíamos ser melhores amigas.

— Tudo bem, é claro que eu aceito isso, eu só não gosto de pensar na ideia de algo acontecendo com você, e eu nunca seria capaz de sair do lado de Nancy.

— Eu sei, é por isso que você é perfeita para nós.

Ele disse aquilo num tom sussurrado sem deixar de olhar para mim. E senti meu corpo aquecendo, só ele era capaz de me deixar assim. Eu me remexi no sofá e peguei minha xícara de chá para conseguir desviar meu olhar.

— Então, você está pronto para me contar como Atlas faz parte da sua vida?

August inclinou o rosto e deu um sorrisinho sem graça enquanto cruzava as pernas deixando os pés sobre a mesinha de centro, um braço estava estendido no encosto no sofá e o outro relaxado enquanto ele segurava o controle remoto, sua camisa branca fina, mesmo que folgada deixava o contorno de seu abdômen aparente, e calça de pijama estava baixa o bastante para eu ver o contorno do V em seu quadril. Eu rapidamente desviei meu olhar, mas ele já tinha pego eu analisando seu corpo.

— Vamos fazer um acordo, Zoe. Quando você não estiver com Ryan, nós poderemos falar sobre o meu passado.

— Isso é um jogo sujo. O que eu estar com Ryan tem haver com tudo isso? — Me inclinei para frente, em desafio.

— Por que quando eu falar sobre o meu passado, você precisa saber que estaria confiando plenamente em você e que não vou deixar você se afastar. Eu vou estar em sua vida, eu vou permitir que você entre na minha e eu não vejo isso acontecendo se for pra você querer me deixar. Então quando você cair na real, e mandar Ryan pastar, você pode vir até mim e então você saberá sobre Atlas.

Eu não sabia o que dizer. Eu só conseguia ficar olhando para ele enquanto minha cabeça viajava com pensamentos de nós juntos no futuro, com ele me permitindo entrar e conhecer cada centímetro de sua alma enquanto ele conhecia a minha. Então eu percebi que não queria nada mais que aquilo, eu queria conhecer August, saber mais porque ele criou essa muralha em volta de si. E ele estava disposto a me deixar entrar, eu tinha que dar o próximo passo agora. E mesmo que o próximo passo significasse cair em um precipício eu estava ali, seguindo em linha reta e me arriscando cair.

— Eu não estou mais com Ryan.

— Eu sei que ele estava em seu apartamento antes de chegarmos, Zoe. Eu não estava brincando com o que acabei de dizer.

— Ok, é estranho que você saiba que ele estava lá, mas foi isso, ele estava indo embora de vez. Eu terminei tudo, seja lá o que estávamos tendo.

August ficou olhando para mim como se quisesse ter certeza de que eu não estava brincando, ele virou-se para mim e encheu o peito de ar antes de erguer levemente o canto do lábio e balançar a cabeça, seu rosto sendo agraciado por animação. E eu podia compreender. Eu estava dando uma chance para ele, para nós. Eu tinha acabado de concordar que entraria na vida dele e que não sairia a menos que ele deixasse. E não havia uma parte em mim que estava se arrependendo disso.

As vezes as pessoas apenas sabem como completar outra. Eu estava ferida e em recuperação, e August estava no caminho para isso. Nossos traumas poderiam ser completamente diferentes, mas estaríamos ali um pelo outro a partir dali. Eu estava pronta para as dificuldades que August viesse a enfrentar, assim como eu tive meus pais para me apoiar, ele teria a mim. O importante era ele não estar sozinho. Eu sabia que podia me machucar no caminho, mas eu seria forte o bastante para nós dois.

— Muito bem, Zoe. Infelizmente essa não é uma conversa que podemos ter nesse momento, nós vamos precisar de uma bebida mais forte que chá. Mas eu tenho um pedido?

— Qual?

— Eu gostaria de ter você em meus braços essa noite, queria ter você perto de mim antes de começar e me abrir e mostrar o monstro do meu passado, eu queria ter um momento de paz com você.

— Eu não vou sair daqui August, nem antes nem depois que você conseguir me contar tudo.

— Mas eu quero o gostinho do que vira depois, apenas para manter a esperança de há uma luz no fim do túnel e que quando eu sair do tormento do passado eu vou ter você perto de mim.

Meu peito apertou com suas palavras, eu podia compreende-lo muito bem e nunca seria capaz de negar aquilo, até porque era tudo o que eu queria para aquela noite. Nós poderíamos deixar aquela conversa para um outro dia, essa noite nós poderíamos ser somente nós.

— Tudo bem, mas você precisa colocar um filme melhor.

Ele sorriu e eu me aproximei dele, deitando a cabeça em seu ombro enquanto ele nos deixava confortável e colocava um outro filme. Sua mão esquerda ficou deslizando para cima e para baixo e eu podia sentir seu peito vibrando quando ele ria em uma cena de filme, eu podia sentir o cheiro de seu perfume ainda em sua pele mesmo depois do banho e eu não podia pedir nada melhor que aquilo para aquela noite.

Pela manhã recebemos a notícia de que Chloe estava no hospital e Luna tinha nascido. August me abraçou quando chorei aliviada, eu estava patética, soluçando e tendo que enxugar o nariz o tempo todo, então ele trouxe Nancy para mim e abraçou nós duas. Ele tirou o dia de folga e resolveu nos levar para a Fábrica, ficamos falando com o clube por uma hora antes dele pegar em minha mão e me levar até sua moto. August nos levou novamente para a colina onde tínhamos vista da cidade. Eu fiquei sentada na grama enquanto ele estava de costas para mim, braços cruzados fazendo com que a jaqueta de couro delineasse bem os músculos de suas costas.

Eu sabia que ele estava se preparando, que não deveria ser fácil então eu lhe dei tempo. Quando ele finalmente sentou ao meu lado e respirou fundo eu sabia que ele estava abrindo o primeiro cadeado dos portões de sua muralha.

Capítulo surpreende ein??
Estejam preparados para os próximos capítulos. Vamos nos aprofundar no passado de August.

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A Filha Rejeitada do CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora