13 - Zoe

3.3K 275 20
                                    

Deixe seu voto ⭐ me ajuda aí, por favor.

Tenha uma boa Leitura 📚❤️


Apertei Nancy um pouco mais firme em meus braços enquanto a balançava de um lado para o outro fazendo com que adormecesse enquanto um soluço me tomava. Apenas a pior coisa do mundo tinha acontecido com Chloe. Eu soube aquela tarde, quando me ligaram pedindo que eu fosse até a delegacia e me fizeram perguntas. Eu não consegui falar com Nick e duvidava que ele quisesse receber alguém, mesmo assim mandei mensagens para que ele soubesse que não estava sozinho. Eu até liguei para meu pai procurando saber como ele poderia ajudar, ele tentaria entrar em contato com Nick.

Os pesadelos simplesmente não acabavam, eu tinha tido um encontro ótimo com minhas amigas de Sunnyvale, tudo orquestrado por Ryan, mas me sentia culpada. Ele estava se recuperando, já até tinha feito cirurgias de horas longas, mas ele ainda continuava a pensar que podíamos voltar e eu não ajudava a esquecer isso toda vez que tinha uma folga e o chamava para me encontrar, isso aconteceu pelo menos três vezes até o momento e acabei dormindo com ele em todas as vezes. Eu era uma cretina.

Sabia que estava brincando com seus sentimentos, por mais que dissesse a ele que nada aconteceria entre nós além do sexo, enquanto eu continuasse a dormir com ele, eu estava sendo uma cretina, não era certo com ele ou comigo, mas bem, eu precisava de uma válvula de escape. A cada dia eu queria August mais e mais, e eu não poderia ficar com ele, não depois de tudo. Eu sabia que ele me queria, ele tinha deixado isso claro mesmo sem dizer com todas as palavras.

Exceto pela noite passada. Fomos uma bagunça, gritamos um com o outro, eu estava me mordendo por ciúmes, sim eu queria ser a mulher no hotel o recebendo, eu queria muito estar no lugar de Mia. Eu estava verde de inveja. Eu não poderia culpa-lo, no entanto, ela era uma boa amiga e sempre foi assim, tão animada e aberta em dizer o que queria descaradamente, principalmente com homens. Eu mesma a encorajei a mandar mensagem para ele e ir em frente. Eu sabia que ele só estava dando mole para ela em sentido de me irritar, funcionou e não funcionou.

Eu poderia usar isso como desculpa para me afastar ainda dele. Eu não podia querê-lo, não com toda essa intensidade que corria em mim e ontem a noite foi um copo transbordando em nossas mãos. Eu decidi voltar meu caminho atrás e dizer a ele o porquê de eu estar recuando tanto e porque não daríamos certo. Foi quando o vi socar a parede de concreto, acabando com suas juntas, ele estava em um ataque de fúria e me assustou mais que tudo. Eu só consegui olhar para ele, travada na ponta da escada enquanto ele fugia como um gato assustado para seu escritório.

Eu passei a noite no meu quarto, trazendo Nancy comigo e ficando de porta trancada, foi realmente assustador. Então durante a tarde recebido a maldita ligação e depois de tantas perguntas, eles finalmente me disseram que Chloe havia sido levada na calada da noite durante um passeio na praia. Eles também me mostraram algumas fotos e pude reconhecer o cara do hotel de quando Chloe correu no meio da rua e encontramos com ele. Eu me lembro da sensação horrível que me percorreu quando ele sorriu para mim se apresentando. Eu fiquei na defensiva e acabei sendo sarcástica com ele, mas tudo em mim gritava para sair daquele lugar e foi exatamente isso que disse para os detetives.

Depois de ser liberada eu voltei para casa e mantive Nancy em meus braços o tempo todo enquanto chorava lamentando por Chloe e não querendo imaginar o que de pior ela estava passando. Me assustei quando a porta foi aberta, era August parecendo um fantasma de tão pálido. Ele me olhou e respirou com alívio, eu duvidava que ele soubesse que estava segurando a respiração. Ele veio direto para mim e pegou sua filha beijando sua cabeça de olhos fechados, ele sabia o que tinha acontecido com Chloe, era óbvio, o que só me fez chorar mais.

Era mais um dos motivos de que eu não podia ficar com ele, apesar de ele ter feito o que fez com minha amiga, ele ainda sentia algo por ela. Não era possível que ele não sentisse se ainda o afetava ouvir sobre ela estar com seu irmão, então ele não me queria por inteiro, eu nunca o teria por inteiro e eu sempre fui o tipo de mulher ciumenta que se entregava por inteiro num relacionamento e não esperava menos que isso.

Sem que eu esperasse, ele me puxou para o abraço, beijando minha cabeça e murmurando baixinho coisas que eu era incapaz de entender. Eu deixei que ficássemos ali abraçados, eu queria ser um pouco consolada e talvez ele também precisasse. Nos afastamos quando Nancy começou a se mexer acordando, ele sentou com ela no sofá e voltou a fazê-la dormir.

— Os detetives também falaram com você? — Perguntei.

— Eles fizeram. Eu não posso acreditar que isso está acontecendo. O que Nicholas deve estar passando...

Ele balançou a cabeça de olhos fechados, depois me encarou. Pude ver o movimento de sua garganta quando ele engoliu em seco.

— Você está bem?

— Preocupada, assustada. — Balancei a cabeça. — Não só com Chloe. Você se machucou ontem. — Apontei para sua mão, as juntas inchadas e vermelhas com pontos já roxos.

— Zoe, o que você viu ontem... Sinto muito. Eu estava tentando não estourar.

Respirei fundo e me arrisquei sentando ao seu lado, ele ficou tenso e me olhou com surpresa antes de relaxar.

— Você estava tão feroz, seus olhos eram... Outra coisa. Eu já vi isso em algumas crianças quando trabalhava. Já vi adultos nesse estado.

— Tenho certeza que você não sabe do que está falando. — Ele disse desviando o olhar.

Eu peguei em sua mão machucada decidindo contar a ele toda a teoria que formei em minha cabeça a noite passada quando não fui capaz de pregar os olhos. Juntei cada pedaço de memória que eu tinha, a conversa que escutei dele com Debbie, algumas coisas que Samuel me disse quando dei uma de intrometida perguntando de August para ele.

O rapaz já passou por muita coisa quando mais jovem. Uma coisa que crianças nunca deveriam ter passado. Não foi a melhor forma de crescer, ele teve que lidar com muito depois do acidente, antes mesmo disso tinha que lidar com certas explosões que não podia controlar. Chamaram de algo como um dos heróis da Marvel Comics, eu não me lembro bem, mas sei que foi um pesadelo para o menino August.

Acontece que tudo passou a fazer sentido e eu precisava de uma confirmação. Eu lidei com crianças explosivas antes e elas foram encaminhas para Billie na ala de psicologia e psiquiatria, o diagnóstico sempre o mesmo.

— É chamado TEI. Transtorno Explosivo Intermitente. Você não pode controlar essas explosões, as vezes nem mesmo tem um motivo para isso, e você se sente arrependido toda vez que acaba? É isso o que você tem August?

Ele continuou a encarar o chão por um tempo enquanto sua pele do pescoço ficava vermelha, sua mão que eu segurava apertou a minha antes dele soltar para esfregar os olhos. Ele praguejou antes de olhar para mim com descrença e vergonha, então assentiu e recostou no sofá.

— Fui diagnosticado quando tinha quase oito anos. Minha mãe não entendia por que eu era tão rabugento e destruía meus brinquedos sem mais nem menos e depois chorava por agir daquele jeito, ou por me machucar. Meu pai achava que era uma birra de criança e suas repreensões não me ajudavam em nada. Eu fiz terapia por um ano antes do terapeuta presenciar um episódio e me encaminhar para um médico especialista.

Eu peguei sua mão novamente e dessa vez ele entrelaçou nossos dedos, eu deixei apenas para que ele pudesse continuar sua história.

— Acontece que esse especialista ficava em Nevada, nós fizemos duas viagens até lá e então ele me diagnosticou. Começamos um tratamento, tendo que viajar até lá sempre. Eu tive um episódio na última consulta que fui, estava irritado por que era meu aniversário e minha mãe estava muito estressada com meu pai por que esse fodido mentiu sobre ter que estar trabalhando, mas estava entre as pernas de Martha, deixando eu e minha mãe, quando prometeu que estaria com a gente. Então o acidente aconteceu. Meu pai nunca acreditou que eu tivesse um problema realmente. Tudo foi ruim. Fim de história.

Ele não me olhou depois que terminou. Eu só podia olhar para ele imaginando por tudo que ele havia passado, tendo que lidar com esse transtorno, com o falecimento de sua mãe e com a traição de seu pai. Eu me perguntava se ele havia descoberto naquela época sobre o caso de seu pai, ou se foi anos depois. Eu podia ouvir em sua voz toda mágoa e rancor. Me colocando em seu lugar, por mais difícil que fosse imaginar meu pai traindo minha mãe e nos deixando sozinhas, eu sabia que não deveria ter sido fácil para ele. Isso teria me destruído. Eu não sei se seria como August é hoje, mas eu agora entendia por que ele queria distância de seu pai. Eu podia compreender perfeitamente.

E mesmo com tudo isso ele conseguia se tornar o violão da história. Quantas pessoas sabiam sobre seu transtorno? Seu círculo íntimo era pequeno demais, só envolvia duas pessoas, sua prima e o motorista de sua mãe. Sem contar os motoqueiros, eu duvidava que soubessem tanto sobre August. Por mais que ele tenha me contado essa história, não significa que ele confiava em mim como fazia com eles, e eu sabia que ainda havia mais história por trás de tudo.

Eu só queria saber como lidar com ele agora, como poderia ajudá-lo e ainda manter as coisas longe de sentimentos românticos entre nós. Seria melhor assim. Éramos duas pessoas quebradas, não daríamos certo e esse era só mais um motivo para juntar com os outros. Mas meu coração ainda pensava muito diferente, e minha mente estava quase perdendo a razão, ao que parecia.

— Sinto muito por tudo isso, August.

— Não diga isso. — Ele fechou os olhos balançando a cabeça. — Isso não é nada. Eu lidei com isso a vida toda. Mas você não pode descobrir isso sobre mim e então achar que é o motivo de eu ter sido quem fui. Eu sou um cara ruim, eu fiz coisas fora de mim e culpei essa merda, eu nem sei quando sou eu ou essa coisa, como quando eu dormi com sua amiga para te causar alguma reação, provavelmente te machucar. Eu machuquei Chloe. Deus... Eu fiz aquela atrocidade e olha só o que ela está passando agora, enquanto eu estou aqui. Droga de mundo fodido.

Ele largou minha mão para esfregar seus olhos novamente, eu não sabia se ele estava só frustrado ou afastando lágrimas que ele não queria me mostrar, seu pescoço estava menos vermelho e seus ombros caídos agora. Meu coração estava se partindo por ele e mesmo com seu aviso eu não poderia me ajudar. Eu acariciei seus cabelos e toquei em sua perna.

— Eu não estou chateada por você ter dormido com Mia. Eu sabia que você estava fazendo para me atingir. Quanto ao que houve com Chloe, eu não conhecia vocês quando aconteceu. Eu posso dizer que ela ficou traumatizada e quer esquecer a história. E se você não sabe se foi um episódio ou não quando isso aconteceu, é só se perguntar se você faria isso em plena consciência.

— Eu jamais faria. — Ele disse imediatamente me olhando como se quisesse que eu acreditasse.

Eu não sabia se conseguia então passei a mão em seu cabelo novamente. Era bom sentir os fios loiros entre meus dedos, estar próxima e poder ter esse gesto íntimo, me permitindo apenas esse momento antes de erguer o muro entre nós novamente.

— Você tem que lidar com isso August, aconteceu, não dá pra voltar atrás. Você precisa cuidar de você, para o bem de Nancy, ela não pode crescer num ambiente instável. Você precisa procurar um tratamento para que ela possa ficar bem, eu sei que as pessoas com esses transtorno não machucam as pessoas por querer, e que vocês não podem controlar muito, mas se fosse em um dia qualquer e você fizesse o mesmo que fez ontem, você poderia ter assustado Nancy, ou pior, ter acertado aquela cadeira nela.

— Eu não quero machucar minha filha. Nunca.

— Eu sei disso.

Ele balançou a cabeça e olhou para Nancy, nós dois ficamos olhando para a menina linda em seus braços e sorrindo, eu senti seu olhar para mim e levantei lentamente a cabeça para encontrar seu olhar. Ele estava tão perto, poucos centímetros nos separavam. Ele passou a encarar meus lábios e foi inevitável não passar a língua para molha-los. Isso lhe causou uma reação. Eu senti sua respiração em meu rosto e quando ele se inclinou para frente eu me afastei no último momento, fazendo com que nossos lábios se arrastassem como um pequeno sopro. Balancei a cabeça e me levantei passando as mãos suadas na minha calça.

— Zoe... — Ele começou com sua voz ferida.

— Não podemos August. Não podemos. Me deixe levá-la para a cama.

Fiz menção de pegá-la, mas ele se levantou negando.

— Eu tenho ela. Nós ficaremos bem.
Observei enquanto ele subia as escadas. Desde a noite passada eu havia visto dois lados inéditos de August. Em sua fúria total; o que achei que já havia presenciado antes, mas eu não fazia ideia de como poderia ser pior. E como ele estava chateado agora; muito diferente de quando Nancy foi para o hospital, mas um homem derrotado por seu recusado. Eu o recusei, eu me odiava por deixá-lo assim, mas eu ainda tinha para mim que estava fazendo a coisa certa em nos afastar.

Como eu disse éramos duas pessoas quebradas, tínhamos que nos consertar primeiro se quiséssemos uma chance para nós. Eu só não sabia como dar esse passo, eu já havia passado por muito para chegar onde estava depois de tudo que me aconteceu. E quanto a August, eu não sabia se ele estava disposto a passar por todos os seus demônios. Era uma carga difícil de carregar, eu podia entende-lo. E eu ainda assim não sabia se era a mulher que ajudaria ele a enfrentar tudo aquilo.

A Filha Rejeitada do CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora