10 - August

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Boa Leitura ❤️📚

Zoe estava me testando, desde o início, mas hoje ela extrapolou. Uma festa surpresa de aniversário? Ela achava que eu era uma criança? Definitivamente sim. Havia balões e chapéus espalhados por toda a sala de estar. Um bolo faltando algumas fatias estava guardado na geladeira, aquela coisa nunca acabaria se dependesse de mim.

Eu não comemorava aniversários, não desde que minha mãe morreu. Completava 41 anos agora. Já era ruim o suficiente dizer essa idade em voz alta. Mas como tudo o que Zoe fazia era me irritar, ela descobriu a data do meu aniversário e planejou essa festa. Contando com a presença querida do meu irmão Nicholas. Bem adorável, como pode imaginar. Nancy adorou é claro, a pestinha também adorava me irritar.

A noite acabou comigo gritando com Zoe sobre nunca mais agir daquele jeito, eu odiava aniversários com todas as minhas forças. Então ela foi embora chorando, não tinha certeza se me sentia mal por ela. Porém Nancy estava rindo para os balões restantes espalhados no chão e com um chapéu torto em sua cabeça, o elástico apertado em suas bochechas gorduchas.

Ela havia crescido, já estava conseguindo ficar em pé sozinha e algo contente queimava em meu peito, como orgulho. Eu não via a hora de me livrar dela no começo, mas não conseguia mais negar que adorava tê-la em meus braços dormindo toda noite. Ela se aconchegava em mim e várias vezes me acordava antes mesmo que o despertador tocasse, com beijos babados ou tapas de mãos gorduchas em minha cara. Era uma garotinha muito esperta desde o início. E, porra, eu sentia falta dessa fase.

Eu me perguntava como ela conseguia estar tão feliz assim, mal sabia o que acontecia no mundo ao redor dela. Mal sabia que sua mãe havia a abandonado e que o pai dela era egoísta a ponto de preferir deixá-la num orfanato. Não o fiz, mas foi por muito pouco. Tenho certeza que me arrependeria amargamente disso. Me arrependo de ter cogitado a ideia, de fato.

Algo chamou a atenção de Nancy na mesinha de centro, um pedaço de bolo num pratinho estava ali e ela logo se pôs de pé e tropeçou até o bolo, enfiando as mãos na massa e levando a boca. Zoe tinha dito para não dar o bolo para ela, era uma bomba de açúcar, mas a garotinha parecia tão feliz. Ela olhou pra mim sorrindo como se tivesse lido meus pensamentos e esticou as mãos em minha direção.

— Não. Fique aí. — Apontei um dedo e ela baixou as mãos fazendo um bico de choro.

Não me importei, as vezes precisamos deixar que aprendam, e chorar não faz mal. Peguei meu celular ponderando se mandava uma mensagem para Zoe. Será que ela voltaria no dia seguinte? Ela precisava. Distraído não percebi a pestinha se aproximando até que tocasse minha calça caríssima com suas mãos sujas de bolo.

— O que falei pra você? — Estiquei meus braços a deixando sentada no chão e olhei o estrago. — Olha só o que fez! Porra, Nancy!

Então, como eu esperava, ela abriu o berreiro. Não me importei, subi para meu quarto tirando a calça e jogando diretamente no lixo, nenhuma lavanderia iria consertar o estrago. Tirei a camisa e coloquei uma roupa mais confortável, camisa polo e jeans. Vesti um sapato também, se eu tivesse sorte, Zoe apareceria e ficaria com a garotinha para que eu fosse comemorar meu aniversário do único jeito que eu gostava, como sempre, com sexo. Estava descendo as escadas quando percebi o silêncio. Viram? Deixar que chorem é um aprendizado.

Mas ela não estava balbuciando em sua língua de bebês, nem estava brincando com os balões. Theodora estava deitada no chão as mãos ainda sujas, assim como sua roupa, e estava esperneando. Era terrível. Sua pele estava avermelhada mas seus lábios roxos, e seu rosto pálido.

— Nancy! Nancy, por favor.

A peguei no colo, ela abria e fechava a boca como se procurasse ar. Enfiei um dedo em sua boca, talvez ela pudesse ter engasgado com um pedaço de morango, mas não encontrei nada. Ela me olhava assustada e eu estava ficando apavorado, a virei dando batidas em suas costas como havia aprendido, mas nada adiantava. Eu não ficaria ali esperando o pior. Peguei minhas chaves e saí do apartamento correndo com ela em meus braços. O elevador estava parado. Deus estava de brincadeira com minha cara? Minha filha precisava de socorro. Fui para o hall do outro lado e consegui um elevador que prestasse, por sorte o hospital mais próximo era em um quarteirão e de carro eu chegaria em dois minutos... Ou não. Meu pneu estava furado, que porra era aquela? Um maldito caos.

A Filha Rejeitada do CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora