O olhar de Cole por pouco não era capaz de abrir um buraco na parte de trás da cabeça de Lili. Felizmente, toda vez que ela se virava, não era o Cole de sempre que via, mas sua versão suada e inchada — o que destruía a imagem de encarnação do sexo que sempre tivera dele.
Ela acenou.
Ele estreitou os olhos e se sacudiu violentamente no assento — mais uma vez. Lili suspirou e se virou para olhar por cima do ombro direito, na direção do assento da irmã. Notou que Tess dormia feliz. Será que ela perdera o barraco?
Era sem dúvida a pior irmã do mundo!
— Mais vinho. — Vovó Rosy entregou a Lili o copo vazio. Mas o que ela faria com aquilo?
Uma comissária de bordo apareceu do nada e o encheu até a borda. Como
alguém conseguia aquele tipo de atendimento em um voo tão curto? Eles nem estavam na primeira classe!
Sem dizer nada, Vovó Rosy pegou o copo plástico das mãos de Lili e
tomou um longo gole. Cada milímetro da borda estava coberto de batom
vermelho, indicando que o objeto pertencia a ela e a mais ninguém. Parecia haver mais batom ali que em todos os estandes da Sephora.
— Então, Lili. Sei que Cole é um bundão...
Lili soltou uma risada curta. Vovó Rosy poderia ser sua parceira de voo sempre que quisesse.
— Mas... — A velha senhora interrompeu a frase para outro gole de vinho. — É o meu bundão.
Lili quase engasgou, de tanto que riu.
— Não, calma... — Vovó deu um longo suspiro. — Não quis dizer que ele é
meu... Ele é bundão por ele mesmo. Mas foi muito mimado por mim quando criança. O garoto tinha medo de tudo, sabe?
— Ah, é mesmo? — Lili fingiu desinteresse, apesar de a revelação ter feito seu coração bater com força. — Não sabia.
— Ah, querida!
Vovó riu. — Ele tinha medo da própria sombra, quando garoto! Dormiu na
cama dos pais até os seis anos!
Coitados dos pais de Cole.
— De qualquer modo... — Vovó deu mais um gole no vinho. As joias que
usava no pulso tiniam quando ela gesticulava ao falar. — É meu trabalho, minha missão, fazer o melhor por ele. Ajudá-lo no percurso, fazer dele o homem que deveria ser, antes que seja tarde demais.
— A senhora está doente? — sussurrou Lili, sentindo o coração apertado.
— Eu? — Vovó deu uma risada. — Ah, querida! Deus ainda não me quer do
lado dele! Ele me contou isso hoje mesmo, pela manhã.
Então vovó tinha conversado com Deus. Lili se perguntou se a conversa significava que ela também estava tentando salvar a alma de Cole.
— Então... — Lili soltou o ar e esfregou as mãos nas calças. — Qual é o plano?
— Ah. — Vovó esvaziou o copo tal qual faria uma estrela do rock e o
devolveu a Lili. — Isso é fácil. Já o deserdei. Cole conta apenas com o que tem na poupança. Também o demiti. Embora ele ainda não saiba.
— Hum.
— Que gracinha. — Vovó deu tapinhas na perna de Lili. — Percebi que você
ficou preocupada com ele. Não fique. Depois disso, Cole vai pôr os pés no chão. Em uma situação difícil, os bundões sempre caem em pé. — Ela hesitou. — Ou será que são os gatos? — A velha senhora sacudiu a cabeça com o dedo no queixo, confusa. — Bem, de qualquer jeito... ele vai ficar bem.
— Então é para o bem de Cole que você está arruinando a vida dele? —
perguntou Lili.
— Isso mesmo.
Vovó curvou o tronco para a frente, e os seios vistosos extravasaram um pouco do longo decote em V. Como ela conseguia manter um corpo daqueles?
Sério. Vovó Rosy era simplesmente incrível.
— Todo o mundo, todo o mundo mesmo, merece ter a vida arruinada — disse vovó, sorrindo e colocando uma das mãos perfeitamente feitas no braço de Lili. — Isso mantém as pessoas agradecidas. Vou arruinar a vida de Cole, e, no fim, ele vai ficar agradecido, feliz, satisfeito e... — Ela olhou para trás. — Não com essa aparência pior que o pecado. Ah, bom Deus! Aquele rapaz era lindo! Agora usa um negócio no cabelo, faz limpeza de pele e... — Vovó deu de ombros. — Ruína e imundice. Ele terá os dois. Quando eu terminar, Cole nem vai saber o que
aconteceu a ele. E, se isso não funcionar... — Fascinada, Lili mal podia esperar para ouvir que pérola de sabedoria sairia da boca de vovó Rosy em seguida. — Bem, sempre tem o seminário religioso.
— A senhora o mandaria para um seminário religioso?
— Mas é claro que não! — Vovó levou uma das mãos ao peito, ofendida. —
Ele que se ofereceria para ir, para me deixar feliz e poder novamente contar
com as minhas boas graças. E com as graças de Deus, que não podemos nos
esquecer d’Ele! Já faz anos que Cole O irrita. Que Deus abençoe esse coração
galinha!
— Ah, acho que a senhora não deveria dizer “galinha” e “Deus” na mesma
frase.
— Besteira! — Vovó fez um gesto de indiferença. — Estou exausta. Vou
descansar os olhos. Boa noite.
Parecia que a conversa tinha terminado. Ou isso, ou as três taças de vinho tinham derrubado vovó, que em questão de segundos começou a roncar.
{...}
O avião pousou vinte minutos depois, encerrando o voo mais apavorante e estranho da vida de Lili.
No instante em que o aviso de AFIVELAR OS CINTOS apagou, Char pulou do assento. Vovó acordou e bocejou.
— Já chegamos?
— Já. — Lili estava tentando não ser mal-educada, mas só pensava em
deixar aquele pesadelo para trás. Voltou o mais rápido que pôde para seu assento original, onde Tess esperava pacientemente.
— Precisamos ir agora mesmo! — ordenou Lili. — Pegue nossas coisas.
Não queremos que vovó Rosy pense que...
— Lili! — gritou uma voz feminina familiar. — Lili! Preciso de ajuda!
Em pânico, Lili foi direto até vovó, passando inclusive por cima de outros
assentos. A velha senhora esperava serenamente em seu assento.
— O que foi? É o coração? Está passando mal? Está...
— Minhas malas estão pesadas, e acho que bebi demais.
O que era a constatação do século. Vovó Rosy tinha bebido três taças de vinho em menos de vinte minutos. Na última vez que bebeu tanto assim, Lili
acabou com a cara enfiada em uma cama de cachorro, ao lado de um labrador chamado Lúcifer, que com certeza se aproveitara dela durante a noite, a julgar por todo o pelo que havia em sua boca.
— Pode carregar para mim? — Vovó Rosy deu um sorriso tão doce que ela
não teve escolha.
E foi assim que, uma hora depois, Lili estava na área de restituição de bagagens ao lado de Tess, de vovó e de um Cole bastante inchado.
continua...
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THE CHALLENGE. (Concluída)
Romans"Como vai? Quer dizer, faz tanto tempo!" Na verdade, fazia onze meses, uma semana e cinco dias. Mas quem é que estava contando? Não ela. Cole Sprouse é rico demais, bonito demais e arrogante demais: qualidades que, anos antes, fizeram Lili Reinhart...
