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Lili bebeu a segunda taça de vinho e se sentou em frente à mesa grande que
fora arrumada do lado de fora. O jantar era um bufê completo. Normalmente,
seria oferecido pelos pais da noiva, mas, como eles não podiam estar presentes, todo o clã Sprouse estava pagando aquela festa.

Algumas tendas de comida estavam espalhadas pela lateral do jardim. A
mesa principal, para os convidados diretamente envolvidos na cerimônia, era comprida e estava ornada com flores tropicais e diferentes tipos de vela. Tudo era tão romântico que partia o coração de Lili.

Vovó se sentou ao lado de Lili e olhou para a taça de vinho.

— Quantas você já bebeu?

— O suficiente. — Lili suspirou.

— Hum. — Vovó abriu a grande bolsa e pegou um envelope pardo. — O pastor me deu permissão para que vocês assinassem separadamente, já que
estão de birra.

Lili olhou para a habilitação de casamento.

— Não era para a gente preencher isso amanhã?

— Argh. — Vovó a calou com um gesto. — É só mais um detalhe com o qual
não precisaremos nos preocupar amanhã. Assine aqui. — Ela puxou apenas a ponta do papel, de maneira que a maior parte continuava coberta.

O que era ótimo, na opinião de Lili, pois ela não queria ver o lugar destinado à assinatura de Cole. Os dois tinham perdido a cabeça. Lili nem conseguia lembrar o motivo por que estava tão brava com ele. Se parasse para pensar, veria que não era raiva. Na verdade, sentia-se completamente humilhada e rejeitada.

Ele fez com que ela se apaixonasse.
E ela se apaixonou. Muito. Depois do casamento, eles seguiriam caminhos diferentes, e ela ficaria jogada no sofá, desempregada, lamentando o fato de que o único cara que já tinha amado na vida não retribuía o sentimento. Ou apenas não a queria o bastante para tentar amá-la.

Lili assinou o papel depressa e devolveu a caneta a vovó.

— Ora, ora. — Vovó deu tapinhas nas costas de Lili. — Vai ficar tudo bem.
Confie na sua avó.

— Só tem um problema. — Lili se inclinou para perto de vovó e sussurrou: — Você não é minha avó.

O sorriso no rosto de vovó se alargou só um pouquinho, antes de voltar ao
normal.

— Ora, mas é claro que sou! Você se lembra de quando eu lhe disse que iria
estragar a vida de Cole?

Lili não estava muito a fim de falar sobre Cole. Ela assentiu, mas tentou fingir que não estava interessada.

— A vida de meu neto já estava estragada. — Vovó deu tapinhas na mão de Lili. — Foi estragada na hora em que ele a viu naquele vestido de casamento. Eu comprei o vestido, sabia?

— O quê? — exclamou Lili, e sua voz saiu aguda, chamando a atenção dos
convidados ao redor da mesa, que aguardavam o primeiro prato. Ela tossiu e se escondeu por trás dos cabelos escuros. — Diga que isso é brincadeira, vovó!

— Ops. — Vovó deu de ombros. — Achei que tivesse gostado. Ficou lindo em você. Maravilhoso. — Ela se serviu de uma taça de vinho e fechou os olhos
enquanto tomava um longo gole, então botou a taça de volta na mesa. — Além
disso, pode ser que você precise de um, qualquer dia desses.

— Sei. — Lili lutou para esconder as lágrimas. — Acho que tudo é possível.

— Ah, mas é mesmo! — respondeu vovó. — Sabia que eu sempre quis ser
uma fada madrinha?

— Oi?

— A maioria das garotas quer ser a princesa da história. Eu quero ser a fada madrinha.

Será que vovó estava bêbada? Tão cedo?

— Está certo. — Lili a olhou de soslaio. — Bem, você só precisa de uma
varinha e de um pouco de mágica... aí, tudo é possível.

— Já tenho uma varinha, e todas as avós são mágicas. — Ela deu de ombros. — Fale mais sobre Jace.

— Ele é... — Lili olhou para a mesa. Ele estava com o cabelo loiro penteado
para trás, revelando olhos verdes perfeitos e um rosto escultural. — Legal.

Vovó caiu na gargalhada.

— Ah, querida! Aquele homem é muitas coisas. “Legal” não seria a palavra
que eu escolheria para descrevê-lo. É muito sexy, isso sim. Um deus entre os
mortais.

— Vovó! — resmungou Lili. — Fale baixo.

— Bem. — Vovó ergueu as mãos. — Só estou dizendo que aquele homem faria uma mulher derreter só com o olhar. — Como se tivesse ouvido, Jace olhou para vovó e deu uma piscadela. — Meu bom Deus! Acho que acabei de ter um
mini-infarto.

— Sério? — Lili segurou o braço de vovó, em pânico.

— Bem. — Vovó piscou de volta para Jace. — Se isso foi um infarto, quero
outro.

Lili sentiu o rosto corar.

— Ele não mexe com você? — perguntou a mulher.

Lili engasgou com o vinho e começou a tossir como louca enquanto vovó dava tapas fortes em suas costas.

— Minha querida, beba mais devagar! Vai acabar manchando esse vestido
amarelo lindo.

— Sim, foi culpa do vinho... —resmungou Lili. — E não do seu comentário.

— Ué! — Vovó se inclinou para mais perto e suspirou. — Como é que vocês,
jovens, dizem hoje em dia? Ele deixa você com te...

— Vovó! — ralhou Lili. — Pare, pare com isso! — Ela cobriu o rosto com as
mãos, envergonhada. — Ele é um cara legal, mas não... — Lili estava prestes a dizer “não é Cole”, quando o próprio chegou e se sentou do outro lado da mesa.

Seus olhos a traíram e absorveram cada detalhe daquele corpo perfeito. Cole se
inclinou para a frente, sobre a mesa, e seus antebraços roçaram nas flores espalhadas ao redor do prato. Ah, como ela queria ser uma daquelas flores!

— Entendi — respondeu vovó, em voz baixa. — Ele não é o meu neto.

— Quê? — Lili tirou os olhos de Cole e começou a apertar as mãos no colo.

— Jace — explicou vovó. — O cara poderia ser um ator melhor que o Marlon Brando, e ainda assim você o olharia como se ele não passasse de um figurante.

— Marlon Brando? Figurante? — Lili deu um sorriso tenso, mas não olhou
para vovó.

— Perto do único que você realmente quer. — Vovó colocou uma das mãos
nas de Lili, para acalmá-la. Alguns anéis de diamante brilharam em seus dedos.

— O meu neto. Você está apaixonada por ele.

— Eu... — Mas ela não conseguia negar. Então, em vez disso, olhou nos olhos
de vovó e pediu: — Por favor, não conte isso a ele.

Afastando-se, vovó bufou.

— Querida, se ele ainda não sabe, é um idiota. Se bem que ele é homem... —
Ela olhou para o neto e jogou as mãos para cima. — Ele parece infeliz. Deve ser por causa da falta de sexo.

E lá se ia a pressão estabilizada de Lili. Vovó tinha mesmo dito “sexo” outra
vez? À mesa de jantar?

Desta vez, suas palavras atraíram a atenção de Dylan e Camila, que a
olharam como se implorassem: Por favor, chega de momentos constrangedores.

O pastor Jim se engasgou com o vinho, e a mesa ficou em silêncio. Sem saber o que fazer, Lili olhou para vovó.

— Estávamos conversando sobre Petunia.

Ah, não. Petunia se enrijeceu, do outro lado da mesa, e estreitou os olhos para
vovó, como se a mulher fosse cria de Satã.

— Eu não uso essas palavras vulgares.

— Não, só tricota e lê romances eróticos.

— Ei, eu nunca...

— Não adianta negar. — Vovó girou a taça de vinho. — Já vi os livros. Você
não é tão puritana quanto tenta parecer, irmãzinha.

Petunia comprimiu os lábios e olhou para as outras pessoas à mesa.

— Ela obviamente está bêbada.

— Conte, o capitão Jack já voltou para casa com sua escrava? Ainda não cheguei nessa parte do livro, mas tenho que admitir que estou morrendo de
curiosidade para saber se eles vão...

— Vovó — chamou Dylan, em tom de aviso.

Ela deu de ombros.

— Eu ia dizer “se apaixonar”.

— Até parece — murmurou Cole, do outro lado da mesa.

Petunia olhou irritada para vovó.

— Você é uma meretriz.

— Pelo menos eu não disfarço... Cadê o seu chicote, Petunia?

Lili arregalou os olhos.
Mathew deu uma risadinha.

— Pessoal, vamos acalmar os ânimos. Estamos aqui para celebrar...

— Deve estar com seus sapatos de salto vermelhos, sua diaba tatuada! —
gritou Petunia.

— Ah, adoro aqueles sapatos! — comentou vovó.

— Vejam, o jantar será servido! — avisou Melanie, com a voz aguda. — Pessoal, é hora de comer! — Ela bateu palmas e começou a empilhar no prato a comida que o pessoal do bufê trazia.

— Ostras. — Vovó apontou para um dos baldes. — Pode comer, Dylan. Vai precisar disso para amanhã à noite.
O noivo soltou um palavrão e olhou para o céu.

— E eu estava me controlando tão bem...

— Se isto é você se controlando, eu sou uma freira. — Vovó deu uma piscadela enquanto Dylan gemia e se afastava de Camila.

— Ora, vejam! — Mel apontou para o meio da mesa. — Estamos sem vinho.

— Vou pegar umas garrafas! — gritou Dylan, levantando-se e agarrando o
braço de Camila.

Com toda a calma, vovó enfiou a mão na bolsa e tirou uma coleira que parecia muito com o tipo usado para treinar cachorros por meio de pequenos choques.

— Sente-se, Dylan.

Reclamando, ele se sentou.

— Hã, eu vou. — Lili se levantou.

— Eu também — disse Jace. — Você pode acabar se perdendo naquela adega.

— Oh, meu herói — respondeu Lili, seca. Mas ele não pareceu se importar.
Estava com os olhos fixos em vovó.

Assentiu uma vez e olhou de volta para Lili.

— Pronta? — Ele ofereceu o braço a Lili, ignorando o olhar indagativo que
ela lhe lançava.

Os dois caminharam em silêncio até a casa.



continua...

THE CHALLENGE. (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora