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ㅡ Ninguém nunca nos salvou, lembra? ㅡ O mesmo barulho irritante soa, um som oco, grave, do tipo que te assombra. Os passos contra o assoalho de madeira escuro eram frenéticos, como saltos batendo no chão repetidamente, eles andavam de um lado para o outro, todos resmungando a mesma coisa: "onde está?"
ㅡ Então por quê você acha que vão te salvar dessa vez? ㅡ Minhas mãos estavam presas, amarradas juntas ao encosto da cadeira com uma corda poliamida grossa que queimava meus pulsos e minhas mãos, meus tornozelos estavam presos e morder meu lábio ao ponto de sangrar era a única coisa que me impedia de gemer de dor.
"Onde está?" A mesma pergunta, uma mão segura o meu rosto apertando fortemente minhas bochechas, um barulho alto do gatilho soa e logo sinto a peça gelada em minha testa.
ㅡ Entendeu agora, uma pessoa não precisa morrer para te abandonar, ele já te abandonou muitas vezes. E essa foi uma delas ㅡ Eu não me via, eu sentia as mesmas sensações de antes o medo, pavor, mas não via meu rosto com uma arma apontada para minha cabeça, não via meu lábio sangrando enquanto uma mão aperta meu rosto, não me via chorar.
Mas por quê eu me via na minha própria frente? Atrás de um daqueles homens, parada, uma versão mais velha que a minha amarrada, com braços cruzados e sangue no rosto. Por que essa minha versão não chorava tanto quanto eu? Por que ela não se importa com tudo que passou antes? Com quase ser morta?
ㅡ Eu não me importo porque eu desisti, e isso significa que você vai também. ㅡ Identifico sua voz, cansada, uma feição sem expressão, a voz se repetia tantas vezes na minha mente que posso jurar que ela estava repetindo, tantas e tantas vezes que começo a sentir uma dor maior que a do desespero de estar amarrada.
Abro os olhos e prendo a respiração, encaro o teto do quarto e meu cérebro roda com todas as últimas informações. Guadalupe, Cruz, ouro, roubar.
ㅡ Não... Não foi isso! ㅡ O timbre masculino corta o silêncio, levo um susto com a voz de JJ alta ao meu lado e me sento na cama mais assustada do que antes.
JJ estava deitado de lado, virado totalmente para mim enquanto sua mão embaixo do travesseiro tremia, seu rosto sacudia lentamente, seus lábios tremiam, sua testa estava iluminada por conta do suor enquanto uma lágrima escapava do canto do seu olho e escorria por seu pescoço.
ㅡ Ela não me deixou... não foi minha culpa ㅡ Engulo seco, ele também estava tendo um pesadelo.
ㅡ Ei, JJ. ㅡ Apoio a mão em seu ombro, limpo a lágrima que ainda escorria pela sua pele ㅡ Amor, acorda ㅡ Mexo em seu rosto, mordo a parte de dentro da bochecha quando seu rosto se contorce, ele aperta mais os olhos fechados e inclina a cabeça como se estivesse tentando se preparar ou desviar de algo.
