Jungkook só quer entender porque seu namoro acabou. O mar, a areia, o vento - nenhum deles lhe trouxe a resposta. Vivendo em um trailer nos fundos da casa de sua única amiga, ele tenta seguir seus dias acinzentados e sem expectativa enfiado em livro...
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J U N G K O O K 28 de julho, 8:45pm
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Era a terceira ligação de Jungkook que Taehyung rejeitava.
Saber que não tinha a menor chance de consertar as coisas com seu ex-namorado só poderia ser descrito como um pesadelo. Pânico e a pior delas, a impotência.
Jungkook discou a sequência de números outra vez e pressionou o celular contra a orelha, desamparado, e então o arremessou para longe e o viu se espatifar na parede em vários pedaços.
Ótimo.
Respirou profundamente e saiu da cama para recolher os restos do que um dia fora um celular — encaixou as peças e encarou a tela rachada, rezando para que ainda estivesse funcionando e quando uma luz fraca iluminou seus olhos, seu coração se acalmou.
Tinha aquele celular há cinco anos, era seu melhor amigo, companheiro insubstituível e agora, com uma mancha verde esquisita no canto superior direito da tela, Jungkook refletiu. Aquele aparelho tinha sobrevivido a um impacto que o estilhaçou e que deixou uma rachadura que atravessava a tela de uma extremidade a outra e ainda assim estava lutando para se manter funcionando.
Porque ainda não era a hora de ele partir.
E se… Jungkook também pudesse sobreviver? Afinal, era somente o fim de um relacionamento e mesmo que esse término também tenha lhe deixado em mil pedaços, ele ainda era capaz de juntar todos os caquinhos e recomeçar.
Voltou para sua cama e puxou o cobertor até o nariz, buscando algum tipo de proteção enquanto esperava o celular reiniciar. Logo mais a frente estava um baú de madeira revestido de camurça marrom com suas iniciais gravadas na tampa, onde guardava sua pequena coleção de livros de Julio Verne, algumas revistas em quadrinhos e um exemplar de Flores do Mal.
Um é Arte, o outro, é o Amor. Para alcançardo juiz a graça Quando da impiedade devassa Nos vier o dia do terror.
Jungkook podia recitar o canto O Imprevisto sem titubear.
Seus pais nunca entenderam o gosto do garoto, afinal, quem aos nove anos lia Charles Baudelaire? Crianças nessa idade brincavam na rua ou comiam terra. Embora tal apreço por determinados autores e escritos o fizessem um rapaz de difícil diálogo, ele nunca soube onde encontrar outras pessoas que falassem sua língua. A maioria delas só conhecia Emily Bronte e o Morro dos Ventos Uivantes; cujo enredo se tornara obsoleto — mas há quem discorde.
