ACORDEI COM o maldito soar de um sino perto dos meus ouvidos horas depois.
Minha cabeça doía e quando abri os olhos a primeira coisa que vi foi a bolinha branca que eu tinha pego e que declarava minha derrota no sorteio do jantar da noite passada. Franzi a testa e demorei para raciocinar pois não lembrava de ter dormido com a bolinha ao meu lado, não questionei nem pensei muito, minhas memórias estão misturadas e confusas, eu poderia facilmente ter dormido com um tigre do meu lado e não me recordaria.
O som do sino ficava cada vez mais alto e estridente, e era estressante, era irritante e horrível!
Aperreada dei um salto da cama, sentando-me e contendo um grito da dor lancinante em meu abdome, a dor ainda estava muito viva e recente e eu percebi que não tinha sido um pesadelo, as coisas realmente tinham acontecido.
Quando abri os olhos dei de cara com a minha mãe com a testa franzida. Ela estava vestida com um de seus vestidos de baile de veludo vermelho, a boca pintada e as bochechas rosadas combinavam com aquele tom de sangue que dava um pouco de vida ao rosto branco.
— Precisava gritar? — O tom irritadiço da voz dela matou o pouco do bom humor que me restava.
— Que horas são? — Massageei o pescoço que também doía.
— Andou brigando?
— Que horas são? — Repeti, irritada.
Ela sorriu com a medida certa de deboche e desprezo para ser quase impossível dizer se estava sendo má ou não.
— Cinco. — Franzi a testa e vi nas mãos dela os dois sinos que usara para me acordar de maneira nada gentil. — Você, Princesa Daryia, precisa levantar. Não vou nem perguntar o motivo desse seu estado deplorável!
Passei a mão pelo rosto e o senti inchado, porém, menos inchado do que estava ontem. Esperei meus olhos se acostumarem à claridade e a vista desembaçar.
— Mas por que tão cedo?
— Eu lhe digo depois, levante-se logo. — Ela me puxou pelo braço até fora da cama e me arrastou para o salão de maquiagens, eu tive de conter as lágrimas de dor que borravam a minha visão e apenas a segui.
Não tive tempo de vestir outra coisa e andei metade dos corredores do palácio com a camisola de seda que costumava usar para dormir, por sorte o tecido não era transparente e o ferimento em minha barriga ainda estava com o curativo, mas doía muito e meu andar acabava ficando estranho, se mamãe perguntasse o que foi, eu não poderia lhe responder.
O salão estava vazio, apenas Kalyn e a cabelereira de minha mãe, que até hoje não sei o nome, estavam no salão. Meus olhos ainda pesavam de sono e tive a sorte de não ter ficado com marcas roxas evidentes em meu rosto ou pescoço depois das pancadas que recebi. Estava confusa e bêbada de sono, apenas seguia minha mãe nos rodopios que ela dava e esperava que isso não a deixasse irritada, na verdade, esperava passar despercebida por ela.
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A Coleção do Príncipe
Romance"Não tinha como me esconder dos olhos de minha mãe. Eles estavam por todos os lados. Eles viam todos os meus movimentos. Ela sabia onde eu estava." Princesa miserável, minúscula, ansiosa e surpreendentemente pobre. Após uma...