LEVEI A MÃO ao rosto e uma brisa quente aqueceu-me por inteiro. Ouvi o farfalhar de árvores e uma música doce e gentil tocava ao fundo, era a melodia de uma harpa.
Olhei para baixo e encarei meus pés, tive pena de pisotear a grama.
— Venha, criança. — A voz não era nada parecida com a de Fayola e me perguntei se Ana sabia mesmo a respeito de quem ela falara, aquela voz era masculina.
Andei ainda maravilhada com a beleza do lugar, apenas segui a música, mas o som sumia quando eu me aproximava. Era como se eu não conseguisse tomar uma decisão racional, eu só obedecia.
— Vejo que é uma princesa. — Olhei para trás e a voz foi direto à minha nuca. — Se não o é, então tem a classe e a elegância de uma. — Me empertiguei e foi difícil não me afastar.
Olhei para trás e vi um homem alto, seus cabelos estavam presos com uma fita de cetim verde, a cor de seus cabelos era tão obscura que pareciam puxar para si todo o brilho à sua volta. Os olhos eram acinzentados com um toque sutil de azul.
— Sou, sim. — Falei depois do silêncio me trair.
Ele tinha nostalgia e doçura no olhar. O homem deu as costas para mim e vi um floco de neve bordado na parte de trás do terno elegante cor de vinho que usava, idêntico ao de Fayola.
— Venha comigo. — Ele ia seguindo para a frente, onde a música sumia quando eu me aproximava, mas não fui capaz de segui-lo. Meus pés pareciam ter se fincado no solo e não fui capaz de me mover.
Ele percebeu que não o segui e virou, ficando frente à frente a mim. Sua pele era tão branca que o fazia parecer um ser etéreo, talvez um defunto. O homem não falou nada e, novamente, não fui capaz de dizer se ele me julgava em silêncio ou se aguardava pacientemente que eu abrisse a boca.
Mas desta vez, diferentemente da primeira, eu não consegui falar.
— Está tudo bem. — Ele sorriu e se aproximou, estendendo a mão. — Não machuco quem não me machuca.
Encarei a palma do rapaz e usei de toda a coragem reunida em meu corpo para segurá-la.
— Você me lembra minha noiva. — Falou o homem, amigavelmente, enquanto me guiava até... Até o lugar que pretendia me levar, seja lá qual fosse ou onde era. — Ela também não é uma mulher de muitas palavras. — Ele riu.
Pigarreei.
Por algum motivo não senti medo, fosse a música ou a forma como o homem falava, era um lugar pacífico demais, sentia-me anestesiada.
— A que devo a honra da visita da realeza? — Nos aproximamos de um gazebo.
Um gazebo.
Por que um gazebo?
Observei os detalhes do lugar, embora belíssimo e totalmente delicado algo naquele pequeno lugar me contava histórias. Talvez fossem as flores amassadas, ou as trepadeiras que desciam pelas pilastras, ou o enorme palácio atrás que parecia vazio e vívido ao mesmo tempo. Tive a impressão de estar nos jardins dos fundos, de estar muito longe de casa.
— Sua mente é muito curiosa. — Encolhi, ele tinha tanta falta de presença que esqueci-me que estava ao meu lado. — Aqui é o palácio de Vilaryn.
— Vilaryn? — Franzi o cenho, esse lugar nunca tivera sido citado em mapa algum.
— Sim. — Engoli em seco.
Era o que me faltava, enlouquecer completamente.
As portas de ouro abriram-se e entramos em um enorme salão de danças. Era o maior que eu já tinha visto, maior até mesmo que o de Calanthe, incomparavelmente mais bonito. O homem soltou minha mão e andou na minha frente, eu o segui conforme atravessávamos o cheiroso lugar.
— Onde, exatamente, estou? — Ele arqueou uma das sobrancelhas.
— Você demorou para perguntar. — Ele riu. — Há muitas coisas que você não conhece. — Nossos passos não eram ouvidos, tive a impressão que algo silenciava qualquer barulho dali. — Há muitos mundos e universos distantes.
— Então existe magia? — Entramos em outro salão, este porém, era menos convidativo e o homem não parecia muito feliz em entrar ali.
— Eu não sei dizer se é magia... — Ele pigarreou. — Mas certamente é alguma coisa.
Tudo ali inspirava vida, absolutamente tudo.
No salão haviam duas escadas, parecidas com as de Calanthe. Elas se encontravam no topo do segundo andar, onde as janelas panorâmicas permitiam que a luz do sol clareasse e esquentasse o lugar. O homem subiu as escadas e eu o segui, sentindo como se cada passo que eu desse fosse falso, meu corpo parecia leve.
Passamos por uma sala enorme de livros e vi, perto da lareira, uma mulher sentada em um enorme sofá cor de sangue. Ela lia um livro sobre botânica e tirava pétalas de flor dos próprios cabelos. Eu estava anestesiada demais, como se não conseguisse pensar, não estranhei nada e nenhum de meus pensamentos se externalizou em expressões faciais, continuei seguindo o anfitrião.
Ele andava muito rápido e quase tive de correr para acompanhá-lo.
Paramos em frente a uma porta igualmente de ouro e ela se abriu sozinha. O homem entrou primeiro e parou, foi quando percebi que eu deveria entrar também e fiz o mesmo.
Era um enorme escritório. Estantes de livros do teto ao chão davam ao lugar uma aparência séria e estranhamente confortável. No centro do cômodo apenas uma mesa de madeira comum e uma poltrona.
Uma porta lateral, uma porta secreta, na verdade, abriu-se nas estantes e uma mulher de cabelos lisos, curtos e brancos saiu. Ela tinha os olhos negros como a noite e seus lábios levemente vermelhos. Ela franziu a testa e tirou os livros de suas mãos, colocando-os na mesa do centro da sala.
— Você viajou de novo? — Perguntou ela ao homem ao meu lado e sentou-se em cima da mesa, tirando flocos de neve da própria roupa.
— Não, Key abriu a porta.
— Vejo que é uma princesa.
Encolhi novamente, estava assim tão estampado em mim?
— Está, está sim. — Arregalei os olhos. — É como se estivesse escrito "princesa" na sua testa. — Ele sorriu e senti meu estômago revirar, no entanto, não senti nenhum músculo de meu rosto se mover.
— Qual é o seu nome? — Perguntou a mulher e percebi que os cabelos não eram curtos, só estavam presos.
— Da... — Forcei uma tosse. — Márcia... Fã de gatos. — Ana ainda me pagaria.
— O nome dele é Klyo. — Ela apontou para o rapaz. — O meu é Winter, alguns, porém, chamam-me de Kompidine.
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A Coleção do Príncipe
Romance"Não tinha como me esconder dos olhos de minha mãe. Eles estavam por todos os lados. Eles viam todos os meus movimentos. Ela sabia onde eu estava." Princesa miserável, minúscula, ansiosa e surpreendentemente pobre. Após uma...