NINGUÉM OUSOU abrir a boca até chegarmos no quarto. Cassy abriu a porta e nós duas começamos a tossir. Estava completamente imundo. A poeira era tão densa que meus olhos ardiam e as lágrimas marcavam minhas bochechas.
— Vou pegar meus quinze reais de volta quando sairmos. Sem condições... Um cativeiro tem melhores condições.
— Já esteve num cativeiro? — Castiel a ignorou.
Ele entrou no cômodo e de imediato abriu as janelas, a poeira subiu mas logo o ar gélido entrou e ficou menos difícil respirar sem tossir.
Ana bateu os forros de cama na janela e avisou que estavam limpos. O quarto em si parecia que nunca tinha acomodado gente em toda sua existência.
Tinham duas camas, mas uma era de casal e a outra, de solteiro, pequena demais. Eu bati os travesseiros, que também estavam limpos (ou pareciam estar, não me atreveria a tirar a fronha para descobrir) e fiquei em pé, aguardando que falassem algo. Cassy fechou e trancou a porta, tirou a bolsa dos ombros e colocou-se aos pés da cama de casal.
— Estão com fome? — Ana perguntou e eu neguei, Castiel também negou. — Certo. — Ela levantou e bateu os forros da cama de casal, deitando-se e dando a entender que dormiria ali.
Eu não dormiria com ela então me apressei para deitar na outra.
Castiel virou-se, finalmente, e franziu a testa quando nos viu. Ana sorriu e eu virei de costas.
— Está com sono? — Ele perguntou para mim.
— Sim.
— E você? — Perguntou para Ana e ela solfeijou.
— Demais.
Nenhum de nós disse nada e quase voltou tudo a ser como no dia que entramos no carro com os dois gargalhando e eu me sentindo uma intrusa cinza no meio de tanta vida. Foi divertido e eu desejei ter aquilo de volta.
Ouvi o arrastar dos pés pesados dele, cedi a curiosidade e sentei, vi Ana deixando um espaço livre ao seu lado para que Castiel deitasse. Ele porém tirou a faca da bolsa e se aproximou. Sentei na cama, observando a cena.
— Cassy. — Chamei mas ele continuou andando até a cama de casal, aproximando a faca do colchão. — Castiel?
Ana ficou observando, tão atenta quanto eu.
— Quer dormir aqui? — Perguntei.
Parei de falar quando o observei cortar o colchão de casal em dois e tirar a metade da cama, colocando-o no chão, ao meu lado, não tinha mola e era uma espuma fina que afundava com qualquer peso.
— Acho que você não vai poder pegar os quinze. — Disse Ana, brincando e voltando a deitar.
— Troque de roupa. — Ele jogou um conjunto de duas peças em mim, uma blusa de mangas longas e bufantes de linho e um calça de tecido grosso, uma das poucas roupas do exterior que Dareen trouxe de uma de suas viagens. — Deve ser difícil correr de vestido. — Ele sorriu e se deitou de costas para mim.
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A Coleção do Príncipe
Romance"Não tinha como me esconder dos olhos de minha mãe. Eles estavam por todos os lados. Eles viam todos os meus movimentos. Ela sabia onde eu estava." Princesa miserável, minúscula, ansiosa e surpreendentemente pobre. Após uma...