ACEITAMOS A derrota e atravessamos o corredor pelo caminho mais longo até o salão de flores, demoramos o quando pudemos, infelizmente apenas adiamos a reunião em poucos minutos.
Observei as nuvens desmancharem-se lentamente sob o céu azul, os pássaros voarem e as folhas caírem das árvores. Ninguém os ordenava. Ninguém poderia os mandar voar até que suas asas não suportassem mais, ninguém — a não ser que arrancassem — podia ordenar à folha da árvore que caísse.
Nunca tinha, honestamente, parado para pensar sobre liberdade ou sobre o relacionamento que tenho com meus pais. Mas visitar Calanthe afetou minha perspectiva. Eu não sabia se odiava ou se amava ver as coisas de outro jeito. Ver como Cristina falava com Clarine, ou como o seu caçula brincava solto nos jardins, como se deixava sujar de lama e grama e como nunca fora severamente repreendido por sua falta de modos. E mesmo assim, com essa "bagunça" na estrutura familiar, mesmo assim, Calanthe era o povo mais rico.
Descemos a escadaria, de novo, e senti minhas pernas bambearem. Apoiei-me em Castiel e entramos na sala.
O cheiro das flores era forte, quase como se tivesse cor e pintasse o cômodo, meu consolo era lembrar que aquele salão só existia porque Drystan amava flores, e gostaria de ter um lugar só para si, para que pudesse deitar quando estivesse cansado, um quarto florido para relaxar e observar cada pétala e fugir de cada abelha que invadia pelas janelas abertas, atraídas pelo mini jardim interno. Quando ele saiu do palácio e começou a fazer suas viagens pelo mundo, demorando meses e meses e ficando poucos dias em casa, esse lugar já não era mais seu. Drystan presenteou-me com seu quarto favorito.
Pedi que as jardineiras sempre cuidassem dos vasos de plantas e sempre trouxessem mais flores aqui, queria que o cômodo tivesse trepadeiras nas paredes e margaridas nos quadros, e que as pinturas representassem noites praianas, ou buquês de todos os tipos.
Pedi que este quarto fosse completamente cheio de flores e que o cheiro delas invadisse e perfumasse o palácio inteiro quando suas portas fossem abertas.
Voltei à minha amargura quando o cheiro de lavanda se sobrepôs aos outros perfumes das flores.
Eu havia proibido que trouxessem lavanda aqui.
Vi, nas mãos de minha mãe, um enorme buquê de lavandas e tulipas. Ela sorriu para mim quando percebeu que eu encarava as flores roxas dançarem com a brisa em seu colo. Invadira meu quarto e acabara de destruí-lo para mim.
Tirara a beleza das flores, tirara o que o quarto florido significava para mim... Tirara de mim meu pedaço físico de paz, matara-o unicamente por desamor.
— Gostou das flores, Alteza? — Franzi o cenho e procurei a voz que falara, haviam várias pessoas na sala, mas eu não lhes via o rostos, estavam borrados.
Era um homem aleatório, que nunca tinha visto na vida. O encarei até que a situação ficasse desconfortável e não falei nada. Não me movi.
— Sua... Sua mãe, Sua Majestade, a Rainha, disse que lavanda era sua flor favorita. — Ele sorriu e o brilho de seus olhos era quase adorável, eu poderia ter apreciado o gesto se não fosse o demônio em forma de mulher sentado em minha poltrona.
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A Coleção do Príncipe
Romance"Não tinha como me esconder dos olhos de minha mãe. Eles estavam por todos os lados. Eles viam todos os meus movimentos. Ela sabia onde eu estava." Princesa miserável, minúscula, ansiosa e surpreendentemente pobre. Após uma...