Capítulo Onze

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O ESCURO do quarto foi substituído pelo calor aconchegante do sol quando as cortinas se abriram, pontualmente, às sete da manhã

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O ESCURO do quarto foi substituído pelo calor aconchegante do sol quando as cortinas se abriram, pontualmente, às sete da manhã.

Ana estava arrumando minha roupa para o desjejum — como chamavam em Calanthe — com a família real, mas ela parecia descontente e estressada. Era cautelosa nas coisas que estava fazendo e não me cumprimentou nem mudou a expressão quando se deu conta de que eu já havia acordado.

Fechou as portas do quarto e abriu as janelas, deixando a brisa refrescante da manhã entrar. Bocejei.

— Aconteceu algo? — Ela arqueou as sobrancelhas, quase descrente.

— Você dormiu e não abriu a boca! — Ela jogou o vestido verde claro na cama e cruzou os braços, apoiou-se em uma das pernas e bateu os pés. — O que de tão ruim o príncipe pode ter feito pra você dançar loucamente a noite inteira e ir dormir sem nem mesmo se despedir? Sem nem me fazer saber que você tinha saído!

Sorri, sem graça.

— Não é algo que lhe interesse. — Passei a mão no rosto, sentindo minha alma voltar para o corpo.

— Sem essa! — Sentei na cama enquanto ela arrumava os pentes e presilhas na penteadeira. — Você falou que me contaria antes de dormir, agora que está acordada irá contar!

Suspirei e fui até ela, Ana puxou a cadeira da penteadeira, onde sentei, considerei contar para que ela tivesse pena de meus cabelos e não os puxasse para descontar a raiva.

— O príncipe só é um idiota. Nada além disso. — Falei sem entender direito, eu não tinha obrigação nenhuma de contá-la qualquer detalhes de minha vida pessoal.

Ela começou a trançar mechas finas do meu cabelo.

— Duvido que tenha sido apenas isso.

Ana prendeu as mechas com fios de ouro que me faziam parecer etérea de alguma maneira. Ela pintou meu rosto com tons leves de coral, nada de extravagante, saí da cadeira e estiquei os braços quando ela terminou. Era um café da manhã simples, o último antes de partirmos de volta para casa. Não ficaríamos muito tempo e como a viagem era longa, não precisávamos nos arrumar com muito afinco.

— Você o beijou? — Me empertiguei e coloquei a língua para fora, mas ela riu e começou a arrumar as mangas transparentes do vestido. — Se o beijar algum dia me conte.

— Jamais o beijaria!

— Nunca?

— Nunquinha. — Ela terminou com surpreendente agilidade e calcei os pés com um par de Mary Jane alaranjado.

Saímos do quarto e a luz do sol nos beijou o rosto, colorindo o corredor de vidraças de laranja, verde, amarelo, vermelho e azul. Senti-me invadindo os corredores de uma igreja, a diferença era que o capeta — vulgo Koyran — morava aqui e não o Espírito Santo.

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