O PRÍNCIPE parou no meio do gazebo, bem na frente das duas entradas do lugar, e eu soube que fizera de propósito. Com aqueles braços quilométricos ele me alcançaria se eu fugisse, e com o vestido e suas várias camadas eu não seria capaz de pular a cerca e cair na grama verde, e ele também sabia das pancadas que levei ontem, do quanto doía. Apertei meus dedos com tanta força que as unhas tingidas de um tom quase imperceptível de rosa fincaram-se nas palmas de minha mão, formando meias luas vermelhas na pele.
— O que é pior, Princesa Daryia? — Ele me encarou novamente e senti medo, senti muito medo. — Uma prostituta ou um amaldiçoado? Vamos... Considere as ignorâncias dos ignorantes... Quem seria apedrejado até morrer, mesmo que fosse alguém da realeza? O que seria mais escandaloso?
Dei um passo para trás e bati as costas no pilar romano do gazebo. Meu coração acelerou, senti que enfartaria.
— Ainda mais uma princesa que usa decotes como os seus. — Disse ele demorando os olhos em meu busto, cobri-me de imediato com as mãos.
— O decote da sua irmã durante o almoço quase lhe exibia o umbigo. — Empinei o nariz. — Isso a torna uma prostituta?
— Se conhecesse Clarine direito não a usaria para se defender.
— Não sou prostituta. — Respondi, ríspida e enojada.
— Como posso saber que não é? — Meus olhos marejaram, uma mentira dele e minha vida seria destruída. — Não vai me dizer?
— Eu sou virgem! E não preciso de dinheiro! Não preciso de nada disso! — Minha voz não saiu firme como eu gostaria e mesmo com a falsa coragem minha linguagem corporal me entregava, eu estava apavorada. — E o que você ganharia com isso? O que ganharia me destruindo dessa maneira, minha vida não lhe afeta em nada!
Ele ficou sério da mesma maneira que estava quando chegou no café da manhã.
— Nada. Devo confessar, não ganharia muita coisa, não. Mas olha... — Disse ele aliviando os músculos e se sentando. — Eu quero algo que você tem. — Ergui a sobrancelha. — Se entrarmos em um acordo...
— Não! Não farei acordo algum com você. — Dei dois passos ousados para frente, quase chegando ao centro do gazebo. — Alguém que mente sobre o próprio rosto não merece a confiança de ninguém. — O encarei com seriedade, rezando para que não ficasse de pé, pois eu não teria chance alguma. E no estado que estava não poderia sequer correr para muito longe. — Como saberei que não mentirá para mim?
O príncipe não moveu nenhum músculo e continuou me fitando enquanto eu andava até a pequena escada que dava entrada para o local, eu entendi que ele percebeu o que eu estava tentando fazer.
— E o que farão para coroá-lo? — Parei no primeiro degrau. — Como darão uma coroa digna sendo que o reino está tão pobre?
— Quem contou? — Perguntei e ele soube que tinha ganho minha atenção.
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A Coleção do Príncipe
Romance"Não tinha como me esconder dos olhos de minha mãe. Eles estavam por todos os lados. Eles viam todos os meus movimentos. Ela sabia onde eu estava." Princesa miserável, minúscula, ansiosa e surpreendentemente pobre. Após uma...