Capítulo Dez

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DISSOCIEI ENQUANTO rodopiávamos e quando me dei conta estávamos no jardim do palácio, aproximando-nos, aos passos, do gazebo

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DISSOCIEI ENQUANTO rodopiávamos e quando me dei conta estávamos no jardim do palácio, aproximando-nos, aos passos, do gazebo.

Meu coração acelerou. O gazebo não!

Olhei ao redor, procurando meus irmãos, que me tirariam dali, ou Ana, que inventaria qualquer desculpa fajuta para me chamar e me convidar ao quarto, mas o lado externo estava deserto. Estávamos sozinhos naquele jardim imenso de horizontes protegidos por laranjeiras.

Meus pés pararam e o Príncipe Koyran também parou. Não fez menção de me puxar para o gazebo, não me olhou de cara feia, não disse nada.

— Não vou arrancar seu pescoço. — Foi o que disse quando fiquei o encarando confusa, esperando-o abrir a boca.

— Eu arrancaria o seu se soubesse que isso não seria equivalente a colocar a corda no meu pescoço. — Afastei-me, finalmente, mas quando ia voltando para o salão as portas tinham se fechado. Suspirei e engoli em seco, precisava manter a calma. — Então está certo! Eu já estou aqui!

Os olhos bicolores por baixo das lentes me encararam naquele escuro, senti a náusea subir, era a mesma imagem da noite da praia, com a cabeça afundada na areia. Evitei encarar aquele rosto jovem e observei as topiarias mais distantes.

Qualquer desavisado teria infartado se invadisse o jardim no meio da madrugada e se deparasse com um elefante verde.

— Do que está rindo? — Fechei a cara na hora e procurei de onde vinha a voz, ele estava sentado em um banco de pedra, perto das gardênias, não percebi quando tinha se afastado.

De coragem fingida, sentei no lado mais distante do banquinho, observando as gardênias que tinham mais cor que os cabelos de Drystan.

Koyran não abriu a boca mas eu sabia que ele queria falar algo.

— O que está esperando?

Ele suspirou e tirou uma flor, abrindo um buraco no quadro branco de flores.

— Estou curioso, só isso. — Fiz um "hm", para que ele continuasse. — Eu aceito apenas as minerações.

— Sensacional... — Revirei os olhos.

— Uma dama sendo tão rude? Sua mãe nunca lhe ensinou modos? — Ele gargalhou e quis fazê-lo comer pedras. — Perdão, não sou de fazer piadas... — Ele pigarreou e girou a gardênia gorda em suas mãos.

— Não haja como se fosse um ser humano decente. Diga logo o que quer ou me libere.

— Por que aceitou?

— O que?

— O acordo, por que aceitou?

Engasguei. Ele deveria ter imaginado que eu estava desesperada, mas jamais que eu admitiria.

Suspirei e fiquei de pé, ele me olhou dar a meia volta e ir em direção ao salão.

— As portas não se abrirão para você. Ordens minhas. — A voz dele já estava distante quando corri com lágrimas de crocodilo nos olhos, um lapso de esperança clareou meus pensamentos quando vi Dareen se escondendo em uma mesa perto das janelas.

Se ele me visse naquele estado, entenderia.

— Ei! — Gritou o príncipe ficando de pé e começando a correr, tentei ser mais rápida, mas a grama, o vestido, a dor em meu tronco e o salto estranhamente alto, foram um combo para minha falha.

Tentei ser mais veloz que ele, e quando estava perto, sentindo a luz quente do salão iluminar meu rosto, senti duas mãos em minha cintura, que se apertaram em volta de mim e me tiraram do chão com assustadora facilidade, gritei de dor.

O príncipe deu meia volta e não expressou dificuldade em carregar uma Daryia se debatendo em seus braços. Ele entrou no gazebo e só ouvi o som das minhas costas batendo contra o chão de madeira. Meu grito foi abafado pela palma do homem e agora as lágrimas não eram falsas, ele sabia invocar o medo no meu estômago.

— Deixe-me ir embora! Deixe-me em paz! — Eu gaguejava, mas ele não parecia disposto a me bater, minha pressão estava baixa e eu sabia que se tentasse me forçar contra ele para ficar de pé tudo ficaria preto e eu apagaria ali mesmo, no chão de madeira.

— Eu planejei uma noite divertida. Uma conversa civilizada, mas já que você me vê como um animal selvagem...

— O que você queria? O que queria que eu pensasse? Queria que eu lhe visse com bons olhos? — Eu não conseguia ver, estava de fato chorando. — Depois da noite de ontem, queria que eu lhe visse como um salvador?

Koyran se abaixou, respirou fundo e tirou os cabelos castanhos do rosto, a fita que o prendia soltou-se e as mechas enrolaram-se em seus ombros.

— É o seguinte, Daryia.

— Cale a boca! — Tentei me debater e tudo que senti foi dor, gritei de novo e ele afrouxou as mãos em meus ombros.

— Se você não conseguir essa maldita coroa — Ele se aproximou e me olhou com seriedade, as mechas roçaram minhas bochechas e fechei os olhos, encolhida, sentindo-me inferior a um rato —, em quatro semanas será minha prisioneira. Diga o que quiser, acuse-me do que bem entender, eu não ligo.

— Você não pode. Eu não fiz nada... — Minha voz falhava e eu odiei aquela sensação de impotência. Tentei controlar a respiração, mas quando abri os olhos a primeira coisa que vi foi a monstruosidade colorida que tentava ler minhas vidas passadas através das córneas. — Feche os olhos. Feche os olhos, Príncipe.

— Aceite o acordo.

— Não. — Gaguejei.

— Aceite. O. Acordo.

— Vou voltar para o salão! — Tentei ficar de pé, mas a náusea me espancou e tudo ficou preto, dessa vez não bati no chão, o príncipe me impediu. Minha costela reviveu a pancada e a dor latejou. — Por favor, o que é? Deixe-me ir, não falarei com ninguém sobre isso, eu juro.

— Afinal, você é uma princesa? — Assenti, hesitei por um momento, de princesa eu possuía apenas o título. — Não sabe que aqui, em Calanthe, a palavra é o que vale? Eu a ouvi fazer o acordo e o selamos quando demos as mãos.

— E agora você quer mudar o acordo. Não vai adiantar nada.

— Meu Deus. — Ele suspirou e ficou de pé. — Vai falar aos seus irmãos?

— Drystan quebraria seus dentes com uma folha de árvore se soubesse disso. — Ele sorriu, mas seus ombros se encolheram.

— Eu sei.

O príncipe se afastou e sentou-se na grama, observando as estrelas pingadas no céu noturno. Vi nisso minha chance de me recuperar, de pensar em algo, voltar para o salão e talvez correr para casa.

Mas algo me impedia de sair. Um nervoso, um medo crescente que me deixava nauseada. Suspirei e me encolhi no fundo do gazebo, tamborilando os dedos no piso de madeira. Sentindo o cheiro cítrico de laranja e o doce de lavanda se misturarem na brisa fresca da noite.

O príncipe não abriu a boca de novo e ficou de pé, andou até mim, mas decidi que eu não me encolheria.

— Não quero ser seu inimigo.

— Não é assim que se faz amigos, Príncipe.

— Eu só estou tentando ajudar.

— Ajudar com o quê? — Ele permaneceu sério e eu, depois de um longo tempo, fiquei de pé. — Abra as portas do salão e me deixe entrar. Não quero conversar essa noite. — Ele apenas assentiu e andou como Ana, dois passos atrás de mim, até o salão.

Fiz como mamãe disse. Dancei. Dancei. Bebi moderadamente. Dancei. Quando marcou meia noite abandonei aquele salão e dormi.

A Coleção do PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora