NÃO TIVE sonhos e acordei com a voz de Ana um pouco distante, mandando-me levantar.
O quarto ainda estava escuro e meus cabelos, embaraçados na trança deformada feita pouco antes.
Reconheci o tecido macio de minha cama e passei a mão pelo colchão em busca dos travesseiros, suspirei aliviada porque estava de fato em meu quarto.
— Posso abrir as cortinas? — Perguntou ela e assenti voltando a deitar, encolhendo-me. — Nós vamos viajar... — Repreendeu-me e abri os olhos, ainda muito sonolenta.
— Agora? — Sentei num sobressalto e tudo ficou escuro. — Vamos a Calanthe? — Ela confirmou com um aceno de cabeça. — O baile é hoje?
— Não.
Minha mente ainda estava confusa, pensamentos que se cruzavam e se contradiziam me distraíam o tempo inteiro. Exausta, apenas assenti novamente e fui até a penteadeira para que Ana começasse a desfazer a atrocidade que era aquela trança em meus cabelos.
Minha vista estava embaçada e minha voz não passava de um ruído soturno.
Ela colocou meus densos cabelos na palma da mão e passou a escova lentamente para baixo, ela o desembaraçava com tanta delicadeza que me senti no céu, quase voltando a dormir e sonhando com filhotes de capivara. Com Clarine e seus decotes horrendos... Com o príncipe Lucas e seus quadrúpedes deformados, com a Rainha Cristina e sua voz solene... E com o demônio de seu primogênito, que me infernizava até quando eu estava só.
Ana não disse nada enquanto trabalhava e eu apenas me deixei fechar os olhos e cochilar uma segunda vez.
— Bom dia. — Reconheci a voz de Dareen, olhei pelo reflexo do espelho e o vi apoiado no batente da porta, minha resposta foi um bocejo exausto.
Ele apenas meneou a cabeça e entrou de vez no cômodo, fechando a porta. Só aí que percebi o real tamanho do meu irmão, ele parecia grande demais para o meu quarto. Em dois passos, o príncipe alcançou minha poltrona e sentou-se nela, observando os jardins do palácio pela janela da mesma maneira que Drystan tinha feito.
— A vista do seu quarto é a mais bonita. — Bocejei de novo e ele sorriu.
Ana colocou as fitas em meu cabelo e saiu do quarto depois de cumprimentar meu irmão com uma reverência.
— Vou buscar os perfumes, Alteza. — Eu assenti e ela deixou o quarto.
— Ela sempre foi assim? — Dareen me olhou e eu soube naquele momento de quem ele falara. — Drystan mudou o que pensava dela depois que você nasceu, pareceu ter deixado de gostar dela... Eu não entendo, Dary. — Ele arrumou a postura e pareceu incomodado com o tamanho da poltrona.
— O que você não entende? — Procurei um par de brincos com muito interesse na mesa, não conseguiria olhá-lo nos olhos ao falar dela, da nossa mãe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Coleção do Príncipe
Romance"Não tinha como me esconder dos olhos de minha mãe. Eles estavam por todos os lados. Eles viam todos os meus movimentos. Ela sabia onde eu estava." Princesa miserável, minúscula, ansiosa e surpreendentemente pobre. Após uma...