3 - STALKER

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POV PÉROLA

Eu odeio esse garoto a partir de agora, e sem previsão para quando vou deixar de odiar. Ele está fazendo o maior escândalo na enfermaria. Assim as pessoas vão pensar que estão batendo nele, quando, na verdade, estamos apenas tentando fazê-lo beber compridos para não ter dor na torção. Ele simplesmente quer continuar tendo motivos para me culpar, acho que esse é o problema em não querer melhorar o tornozelo.

— Você precisa tomar esse remédio. — Diz a enfermeira Cecília.

— Eu não vou. Não tomo esse tipo de remédio.

— Todo mundo toma. É o mais recomendado para passar a dor.

— Na Dinamarca não. Não sei se tenho alergia a isso.

— Na sua ficha escolar diz que você tem alergia somente a penas.

Começo a rir sem querer.

Penas?

— Não vou tomar.

Eu preciso ficar aqui escutando sua discussão com a enfermeira, porque dizendo ele, a culpa é minha.

Suspiro e tiro o comprimido da mão dela, segurando a nuca do garoto em seguida, ele arregala os olhos para mim e tenta se afastar para fugir, mas mantenho a mão firme. Se ele não quer por bem, será por mal.

— Toma logo isso — Coloco o comprimido perto da sua boca.

— Você é louca...

Enquanto fala, empurro o comprimido.

— Ótimo. Agora está melhor. Vamos voltar, a aula já começou.

Antes de virar o corredor ele me alcança mancando.

— Quem é você? — Pergunta.

Estranho a sua pergunta repentina. Coloco meu cabelo atrás da orelha e sem olhar para ele, digo:

— Por favor, peça para trocar de mesa? Se nós dois concordarmos, vão nos mudar.

— Eu não quero sair daquele lugar.

Agora ao meu lado, seguindo meus passos novamente, ele já não possui o penteado bem engomado.

— Então peça para me tirar, fala que machuquei o seu pé.

— Não... é melhor te manter por perto.

— O que você quer com isso?

Ele abre um sorriso estreito enquanto passa a mão entre os fios do cabelo, e eu vejo isso em câmera lenta, vejo o seu pomo de adão se retraindo. Nem a minha raiva consegue fazer meus olhos não admirarem coisas bonitas, mesmo que essa coisa seja a minha desgraça de hoje. Afinal, sou um ser humano cheio de hormônios.

Foda-se os motivos para odiar esse garoto, ele é bonito para um cacete.

Balanço a cabeça e desvio o olhar para a frente.

— Eu quero dizer que você me deve pelo que fez.

— Deixa eu te mandar a real — Paramos bruscamente. — Não fiz isso. Você se machucou sozinho por ser frágil demais.

— Não sou frágil.

— Acho que é.

— Você gosta de tirar conclusões sobre mim.

— Porque você é clichê. Tem vários como você por esses corredores.

— Eu não sou comum assim.

Parece ofendido.

— É sim. Até o mesmo perfume.

— Meu cheiro é encomendado, então ninguém tem igual.

Absolutely nothingOnde histórias criam vida. Descubra agora