POV PÉROLA
Eu odeio esse garoto a partir de agora, e sem previsão para quando vou deixar de odiar. Ele está fazendo o maior escândalo na enfermaria. Assim as pessoas vão pensar que estão batendo nele, quando, na verdade, estamos apenas tentando fazê-lo beber compridos para não ter dor na torção. Ele simplesmente quer continuar tendo motivos para me culpar, acho que esse é o problema em não querer melhorar o tornozelo.
— Você precisa tomar esse remédio. — Diz a enfermeira Cecília.
— Eu não vou. Não tomo esse tipo de remédio.
— Todo mundo toma. É o mais recomendado para passar a dor.
— Na Dinamarca não. Não sei se tenho alergia a isso.
— Na sua ficha escolar diz que você tem alergia somente a penas.
Começo a rir sem querer.
Penas?
— Não vou tomar.
Eu preciso ficar aqui escutando sua discussão com a enfermeira, porque dizendo ele, a culpa é minha.
Suspiro e tiro o comprimido da mão dela, segurando a nuca do garoto em seguida, ele arregala os olhos para mim e tenta se afastar para fugir, mas mantenho a mão firme. Se ele não quer por bem, será por mal.
— Toma logo isso — Coloco o comprimido perto da sua boca.
— Você é louca...
Enquanto fala, empurro o comprimido.
— Ótimo. Agora está melhor. Vamos voltar, a aula já começou.
Antes de virar o corredor ele me alcança mancando.
— Quem é você? — Pergunta.
Estranho a sua pergunta repentina. Coloco meu cabelo atrás da orelha e sem olhar para ele, digo:
— Por favor, peça para trocar de mesa? Se nós dois concordarmos, vão nos mudar.
— Eu não quero sair daquele lugar.
Agora ao meu lado, seguindo meus passos novamente, ele já não possui o penteado bem engomado.
— Então peça para me tirar, fala que machuquei o seu pé.
— Não... é melhor te manter por perto.
— O que você quer com isso?
Ele abre um sorriso estreito enquanto passa a mão entre os fios do cabelo, e eu vejo isso em câmera lenta, vejo o seu pomo de adão se retraindo. Nem a minha raiva consegue fazer meus olhos não admirarem coisas bonitas, mesmo que essa coisa seja a minha desgraça de hoje. Afinal, sou um ser humano cheio de hormônios.
Foda-se os motivos para odiar esse garoto, ele é bonito para um cacete.
Balanço a cabeça e desvio o olhar para a frente.
— Eu quero dizer que você me deve pelo que fez.
— Deixa eu te mandar a real — Paramos bruscamente. — Não fiz isso. Você se machucou sozinho por ser frágil demais.
— Não sou frágil.
— Acho que é.
— Você gosta de tirar conclusões sobre mim.
— Porque você é clichê. Tem vários como você por esses corredores.
— Eu não sou comum assim.
Parece ofendido.
— É sim. Até o mesmo perfume.
— Meu cheiro é encomendado, então ninguém tem igual.

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Absolutely nothing
Romance(esse livro começou a ser editado, porém, não foi finalizado a correção) Pérola é livre, quando sua mãe permite, e gosta de viver cada minuto. Vem de uma família comum, semelhante à de quase todo mundo, sempre se metendo em confusões e tentando sair...