8 - FESTA

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POV. PEROLA

   Já é sábado. Nunca me arrumei tão animada. O Nicolas vai passar aqui na minha casa às oito, e agora ainda são sete e meia. Como disse, uso um vestido tubinho lilás, pois é minha cor favorita, além do vestido valorizar meu corpo.Passei a ir em diversas festas em que era convidada apenas no ano passado, porque a minha mãe ficou mais liberal a partir do meu aniversário de dezesseis anos, só que eu não sei se deveria usar esse termo para descrevê-la. Alguns colegas conseguem dar realmente a melhor festa, outros nem tanto. Eu prefiro aquelas que são planejadas e não nos deixam por conta própria para se divertir. Quando são essas mais livres, você precisa ter um grupinho de amizade para curtir, pois vai haver apenas música e bebida, enquanto nas outras planejadas possuem jogos ou até comidinhas.

— Essa festa não vai acabar muito tarde, não é? — É a primeira coisa que a minha mãe pergunta assim que chego na cozinha — E vê se tem juízo na casa dos outros.

— E nada de beber, está me ouvindo, dona Pérola? — Meu pai grita de dentro do banheiro. — Você é menor de idade. Vou checar se você chegar aqui fedendo álcool.

— Não, não termina tarde. Vou voltar antes da meia-noite. E não se preocupem, não entrará nada de álcool na minha boca.

— Espero que mais nada entre na sua boca, não só álcool. — Meu pai grita de novo.    

Faço uma cara de quem não entendeu nada.

— Come algo antes de ir, nessas festas não tem comida.

— Não estou com fome, mãe.

— Come.     

Pego uma das roscas recém-assadas que estão na travessa de vidro e enfio na boca de uma vez. Alguém bate na porta no mesmo momento, esqueço total que o Nicolas está para chegar e acabo deixando a minha mãe atender.

— Filha, um garoto bonito está aqui te esperando.     

Espio a pessoa na porta, e ele está parado, com as mãos nos bolsos e vestido como um adolescente normal  para o padrão da nossa escola. Calça social bege, um suéter branco, cabelo penteado para trás com gel e um tênis comum nos pés. Não entendo como consegue vestir essas roupas em um clima abafado como está agora, provavelmente na Dinamarca é bem frio, então era para ele estar sentindo o dobro de calor.    

Corro para não deixar a minha mãe o ficar encarando por mais tempo, se não irá assustá-lo com tamanha lista de questionários que ela consegue fazer em poucos minutos.Fecho a porta.— Pensei que estaria usando uma roupa formal.

— Eu não sei o que costumam usar em festas, então pesquisei na internet.

— Você não sabia? É diferente na Dinamarca?

Ele abre a porta do carro e eu entro.

— Eu não sei, fui uma vez na vida. Pode-se dizer que a qual o meu irmão me levou era bem... peculiar.   

 Imagino o Nicolas molecote, seguindo o irmão entre pessoas dançando, provavelmente em algum país europeu que morou. A imagem é bem engraçada, porque pelo o que eu conheço do Nicolas, ele andaria encolhido para evitar a possibilidade de encostar em alguém. Imagina que horror para o pequeno Nic. Pele com pele, jamais!

— O trabalho dos meus pais me impossibilita de ser normal. Precisamos ficar seguros de acordo com a minha mãe.

— Realmente tem pessoas querendo o mal de vocês?    

Ele confirma. 

    Toda essa parte da vida do Nicolas é fora da minha realidade, não que as outras partes não sejam, ainda não descobri alguma coisa que temos de igual. Viver mudando de país parece um sonho, conhecer cada canto desse mundo gigante. Eu espero conseguir algo assim algum dia, por esse motivo minhas fichas serão todas apostadas em uma das faculdades dos EUA. Claro que isso jamais será metade do que o Nicolas viveu, ele provavelmente consegue ir para Roma daqui duas horas se quiser. Já eu, preciso ser inteligente e passar com uma bolsa, saber se os meus pais terão condições de me manter longe, enquanto sobrevivem aqui. Viu? Realidades distintas. 

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