POV. NICOLAS
Os olhos da Sra. Clark estão vidrados em nós como uma onça; não sei dizer qual foi a última vez que alguém olhou assim para mim. Tentamos entrar de fininho na escola, mas não funcionou porque os corredores possuem câmeras, além disso, o senhorzinho do portão nos dedurou. O pavor cresce em mim a cada segundo com tanto silêncio. Parece que ela está me derretendo com um laser dos olhos.
— Acho que estão precisando de um relógio, estou enganada?
Pérola abre um sorriso lerdo. Ela não parece preocupada, age feito uma criança malandrinha. Essa reação dela me faz lembrar a minha irmãzinha quando roubava os aperitivos das reuniões que os meus pais faziam; ela sempre era flagrada e abria um sorriso assim.
— Sabe como é, tia, os ônibus estão sempre atrasados.
— Sei, sei sim. E a senhorita adora essa desculpa.
— Sinceramente...
— E você, Nicolas? — Ela interrompe a Pérola e olha para mim.
Coço a minha nuca, lanço um olhar para a garota ao meu lado e depois volto a encarar a mulher esperando uma resposta.
— Eu... tive problemas.
Ela cerra os olhos e cruza os braços.
— Pérola, me espere na minha sala. — Ela ordena com a voz autoritária, e antes de obedecer, a Pérola dirige uma expressão de "deu merda" a mim.
— Me desculpa, eu tive problemas com dois caras que tentaram me pegar para arrancar dinheiro dos meus pais. Eu fugi e fui para a casa da Pérola. Não tive a intenção de chegar atrasado.
— Bela desculpa, Nicolas.
— Não estou mentindo, senhora. Eu juro.
— Você sempre chegou no horário, tem uma reputação boa comigo, e agora resolveu se desviar?
— Bem... tirando que estou suando frio de nervoso, não acho que estou me desviando. A gente realmente pegou o ônibus e ele só chegou agora, não tem como controlar essas coisas, senhora.
— Para a minha sala também, Nicolas. — Aponta, séria.
Murcho feito uma uva-seca e caminho na mesma direção que a Pérola foi. Entro na sala, a mesma do primeiro dia de aula, mas aquele dia estava assustado demais para observar a quantidade de quadros nas paredes; era meu primeiro dia de aula da vida toda, então não sabia como reagir diante de tantas novidades.
Ainda consigo lembrar do que senti ao ver a Pérola pela primeira vez, atrasada como sempre, ela com a saia toda amassada, uma cascata de cachos ao redor do rosto fino; aquilo me fascinou, e eu não sabia que aquela garota raivosa por ser punida a cuidar de mim se transformaria nessa mesma garota que me colocou em um ônibus público. Agora, ela possui a mesma expressão do dia que a conheci, desta vez sei que consegue arrancar todos os fios da minha cabeça.
Atrás de mim, sinto uma mão tocar sutilmente as minhas costas para eu sair da frente. Ao me virar, vejo a mãe da Pérola entrando e sentando-se ao lado da filha, de cara fechada e o semblante de quem está pronta para matar.
Como ela chegou aqui tão rápido?
— Bom, todos já estão aqui? — Sra. Clark toma seu lugar atrás da mesa. — Vou aproveitar que a senhora já veio para um assunto e levo a senhora a outro sobre sua filha.
A Pérola fecha os olhos e encosta a cabeça na cadeira.
— Pérola Scar! — A mãe dela a observa de canto de olho.
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Absolutely nothing
RomancePérola é livre, quando sua mãe permite, e gosta de viver cada minuto. Vem de uma família comum, semelhante à de quase todo mundo, sempre se metendo em confusões e tentando sair com o seu jeitinho. Apesar de nunca ter beijado ninguém, tem uma paixão...