POV. NICOLAS
— Olá, Grace. — Fechei a porta atrás de mim antes de voltar a observar o que ela estava fazendo no chão. — Algum problema?
— Não, nada com que precise se preocupar. Pode ir tomar o seu banho, o almoço já está pronto.
— Por que está aí no chão, se a senhora não é responsável pela limpeza da semana?
— Seu irmão vomitou.
Olho ao redor da enorme sala, apenas a Grace no chão. Não há sinal de que exista outro ser humano vivendo aqui. São apenas paredes limpas, um sofá grande que suporta três vezes mais toda a minha família, mas que nunca foi usado por ela. Tem duas poltronas bonitas perto do piano, mas estão ali apenas para a sala não parecer um salão vazio, porque desde que aprendi a tocar, não me interessa mais.
Diferente da minha casa, a da Pérola tem registros até nas paredes. Marcas que contam histórias de vivências. O sofá dela deve ter sido usado tantas vezes que jamais poderá ser substituído, pois tem valor afetivo. São inúmeros porta-retratos pendurados, desenhos estranhos feitos por alguma criança no cantinho onde fica a TV, e plantas, que são tantas espalhadas da cozinha até a sala que não me lembro do número exato.
— Ele apareceu?
— Sim, bêbado.
Subo as escadas correndo até o quarto dele no fim do corredor direito. As luzes estão apagadas, o cheiro ruim de vômito e álcool invade o meu nariz na mesma hora. ligo o interruptor e encontro o corpo dele jogado na cama.
— Aonde estava? — Pergunto. — Sabia que a mamãe e o papai estavam aqui?
Ele não responde.
O ar condicionado está ligado no mínimo, as cortinas fechadas e uma zona no quarto. Ele conseguiu transformar o ambiente em um dos mais desagradáveis que já estive.
— Eles queriam saber da faculdade.... — Espero um tempo para ter certeza que não dirá nada. — Você devia conversar com eles.
Eu sei que ele está acordado, porque o Everton não costuma dormir quando está bêbado. Ele fica ligado nos arredores, em alerta, mandando mensagens e atormentando a vida dos outros. Ainda não entendo o motivo de estar jogado assim, quieto.
— Me deixa em paz. — Murmura.
— Não. Você precisa falar com eles.
— Nicolas, me deixa em paz com essa história.
— Os dois ficaram três dias aqui te esperando, mas você nem apareceu.
— Porra, qual é o seu problema? — Vira para mim, gritando.
Dou um passo para trás, segurando a porta para ela não se fechar nos meus dedos, enquanto encaro o meu irmão atirado ainda na cama. Ele está esperando de olhos arregalados que eu diga mais alguma coisa.
— Eles vieram te ver, dá para ligar e avisar que está bem? — Sussurro.
— Eu não quero falar com eles, Nicolas, não consegue entender? — Ele se senta na cama, passando a mão no cabelo, depois solta um suspiro baixo de irritação. — Quero ficar sozinho.
— Pelo menos uma mensagem?
Everton franze as sobrancelhas, olhando para mim como se eu fosse uma criancinha irritante e tola. Tenho vontade de entrar no quarto e me sentar ao lado dele, talvez ver Ben 10 como fazíamos antes dele crescer demais para isso. Porém, devido à sua situação atual, decido apenas permanecer ao lado da porta.
— Eu não vou ligar, nem mandar mensagem, nem cartas e nem nada. Eu não quero.
Desisto finalmente ao entender que o meu irmão não mudará de ideia nem se eu implorar. Ele é assim, teimoso. Fecho a porta antes de gritar outra vez para eu deixá-lo em paz, e enquanto sigo em direção ao meu quarto, tento ligar para a minha mãe; pelo menos eu mesmo farei o favor de avisar que o Everton chegou bem em casa.

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Absolutely nothing
Romance(esse livro começou a ser editado, porém, não foi finalizado a correção) Pérola é livre, quando sua mãe permite, e gosta de viver cada minuto. Vem de uma família comum, semelhante à de quase todo mundo, sempre se metendo em confusões e tentando sair...