11 - APOSTA

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POV. NICOLAS

— Olá, Grace. — Fechei a porta atrás de mim antes de voltar a observar o que ela estava fazendo no chão. — Algum problema?

— Não, nada com que precise se preocupar. Pode ir tomar o seu banho, o almoço já está pronto.

— Por que está aí no chão, se a senhora não é responsável pela limpeza da semana?

— Seu irmão vomitou.

Olho ao redor da enorme sala, apenas a Grace no chão. Não há sinal de que exista outro ser humano vivendo aqui. São apenas paredes limpas, um sofá grande que suporta três vezes mais toda a minha família, mas que nunca foi usado por ela. Tem duas poltronas bonitas perto do piano, mas estão ali apenas para a sala não parecer um salão vazio, porque desde que aprendi a tocar, não me interessa mais.

Diferente da minha casa, a da Pérola tem registros até nas paredes. Marcas que contam histórias de vivências. O sofá dela deve ter sido usado tantas vezes que jamais poderá ser substituído, pois tem valor afetivo. São inúmeros porta-retratos pendurados, desenhos estranhos feitos por alguma criança no cantinho onde fica a TV, e plantas, que são tantas espalhadas da cozinha até a sala que não me lembro do número exato.

— Ele apareceu?

— Sim, bêbado.

Subo as escadas correndo até o quarto dele no fim do corredor direito. As luzes estão apagadas, o cheiro ruim de vômito e álcool invade o meu nariz na mesma hora. ligo o interruptor e encontro o corpo dele jogado na cama.

— Aonde estava? — Pergunto. — Sabia que a mamãe e o papai estavam aqui?

Ele não responde.

O ar condicionado está ligado no mínimo, as cortinas fechadas e uma zona no quarto. Ele conseguiu transformar o ambiente em um dos mais desagradáveis que já estive.

— Eles queriam saber da faculdade.... — Espero um tempo para ter certeza que não dirá nada. — Você devia conversar com eles.

Eu sei que ele está acordado, porque o Everton não costuma dormir quando está bêbado. Ele fica ligado nos arredores, em alerta, mandando mensagens e atormentando a vida dos outros. Ainda não entendo o motivo de estar jogado assim, quieto.

— Me deixa em paz. — Murmura.

— Não. Você precisa falar com eles.

— Nicolas, me deixa em paz com essa história.

— Os dois ficaram três dias aqui te esperando, mas você nem apareceu.

— Porra, qual é o seu problema? — Vira para mim, gritando.

Dou um passo para trás, segurando a porta para ela não se fechar nos meus dedos, enquanto encaro o meu irmão atirado ainda na cama. Ele está esperando de olhos arregalados que eu diga mais alguma coisa.

— Eles vieram te ver, dá para ligar e avisar que está bem? — Sussurro.

— Eu não quero falar com eles, Nicolas, não consegue entender? — Ele se senta na cama, passando a mão no cabelo, depois solta um suspiro baixo de irritação. — Quero ficar sozinho.

— Pelo menos uma mensagem?

Everton franze as sobrancelhas, olhando para mim como se eu fosse uma criancinha irritante e tola. Tenho vontade de entrar no quarto e me sentar ao lado dele, talvez ver Ben 10 como fazíamos antes dele crescer demais para isso. Porém, devido à sua situação atual, decido apenas permanecer ao lado da porta.

— Eu não vou ligar, nem mandar mensagem, nem cartas e nem nada. Eu não quero.

Desisto finalmente ao entender que o meu irmão não mudará de ideia nem se eu implorar. Ele é assim, teimoso. Fecho a porta antes de gritar outra vez para eu deixá-lo em paz, e enquanto sigo em direção ao meu quarto, tento ligar para a minha mãe; pelo menos eu mesmo farei o favor de avisar que o Everton chegou bem em casa.

Absolutely nothingOnde histórias criam vida. Descubra agora