18 - UMA KAREN

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POV. PÉROLA

Obriguei o Nicolas a me dar uma carona e acabei dentro do seu carro novo, que afirmo ser mais bonito que o anterior. Seu único defeito é não ser conversível. Não sou a maior conhecedora de carros como minha mãe, mas sei admirar um bom conforto ao passar por um quebra-mola sem sentir o impacto. Não posso dizer o mesmo sobre a caminhonete velha do meu pai; aquela máquina destrói as costas de qualquer um ao cair em um buraco.


Além de apreciar o conforto de um carro, sei admirar outras coisas também. Por exemplo, o braço do Nicolas no volante. Isso é bastante atraente. Não sei se é assim para todo mundo ou apenas para mim, mas eu admiro bastante essas coisas.


— Carro novo... — Comento, tentando agradar.


O veículo é realmente um espetáculo; ele pode se gabar. Bancos marrons com detalhes em vermelho e um painel incrível, mas o melhor de tudo é o cheirinho de novo.


— É o jeito dos meus pais dizerem "eu te amo".


— Minha mãe joga pano de prato em mim para dizer que me ama. Acho que prefiro o método dos seus pais.


Ele ri, tirando a expressão séria de antes.


— Sua família é engraçada.


Ai, Deus, seu sorriso é bonito demais. Ainda preciso entender essa sensação que queima em mim ao vê-lo.


Pensa rápido, Pérola. 

Seria desejo? 

Seria isso um desejo?

Nunca beijei ninguém, nem imagino como é ter lábios encostados nos meus. Não sentia desejo de fazer isso e não via necessidade. Não é nada alarmante que preciso urgentemente; tenho vergonha de ser "BV" aos dezessete anos. O que é idiota quando penso nisso sozinha, mas ao ser pressionada por amigos, sinto-me ridícula.


Como mencionei, não sentia desejo de beijar, mas agora, olhando para esses lábios rosados, que me pergunto se são naturais, sinto um desejo imenso.


Olho para a rua vazia que Nicolas percorre devagar. Meu foco já não é mais a sua boca; vejo apenas uma senhora descendo de seu carro quadrado e olhando para os dois lados, como se estivesse verificando se alguém está observando. Não querendo julgá-la fisicamente, mas já julgando, diria que ela se parece com uma Karen.


— Espera aí, estaciona rapidinho.


— O que é?


Nicolas para o carro em frente a uma farmácia, a uma pequena distância da mulher loira de cabelo curto. Esta é uma área precária da cidade, com vazamento de esgoto e lixo, pois é o bairro depois do shopping. Ninguém gosta de morar aqui, nem mesmo minha família com a renda que tem. São apenas moradores de classe baixíssima. Não desejo isso nem para o pior ser humano.


A senhora solta um cachorro na calçada, retirando-o de dentro do próprio carro. O animal comprido como uma salsicha começa a cheirar seu novo território, enquanto ela tenta voltar para dentro do veículo como se nada tivesse acontecido. Mas eu a paro com meu grito.Malditas Karens.

Absolutely nothingOnde histórias criam vida. Descubra agora