POV. PÉROLA
O Nicolas não foi para a escola. Segundo a professora, ele sofreu um acidente na cozinha e precisa ficar de repouso. Eu não acredito mesmo que ele levou isso a sério, dá até vontade de rir de uma situação dessa.
Admito que foi estranho não ter ele sentado ao meu lado. Foi a primeira vez sem o Nicolas reclamando e pedindo silêncio para prestar atenção na aula, sem o perfume suave que invadia o meu espaço pessoal e sem alguém para quem eu possa ficar fazendo perguntas quando elas invadiam a minha mente.
Se ele não foi à escola, não vai me treinar. Então vou ter um dia disponível.
O ônibus não está tão lotado nesse horário, normalmente na parte tarde todos estão no trabalho ou em casa, então o movimento é bem menor. As meninas estão sentadas nos bancos logo após o corredor, enquanto eu divido com uma senhorinha do lado da janela. Vamos visitar a cidade vizinha para participar de uma feira que está acontecendo durante essa semana, com bijuterias baratas e coisas velhas que os aposentados não querem mais.
Antes de tudo passaremos na minha casa para almoçar, depois compraremos as passagens, que vamos precisar torcer para conseguirmos achar três no mesmo horário até a cidade vizinha.
Ranah faz uma careta de repente.
— Espero que nada dê errado.
— Não vai. Não começa com essa sua negatividade. — A repreendo.
Eu pensava dois anos atrás que viveria presa nas permissões da minha mãe pelo resto da vida, o que aconteceu é que de repente eu já não peço permissão com tanta frequência quando vou para um lugar seguro, um exemplo é a casa das minhas amigas. Com o tempo, eu apenas aviso e vou, claro que para lugares específicos eu tento explicar o contexto e pergunto se posso, e foi assim que passei da garotinha que a mãe não deixava fazer nada, para a garota que fica brava com os pais não liberais das amigas.
Essa viagem eu conversei bem cuidadosamente com a minha mãe, dizendo o quanto seria legal e que as duas meninas irão comigo, a gente andaria até umas seis horas e depois voltaríamos seguras. Duas horas de viagem para ir e voltar. Ela fez uma penca de perguntas, mas não disse nada sobre não achar uma boa ideia.
O negócio é não perguntar, e sim, comentar sobre a possibilidade, aí você vai ver o que ela acha durante a conversa. Se ela soltar algo do tipo "feiras são legais" ou "bem que eu gostaria de comer um pastel de feira", saiba que está no papo, você tem a permissão. Mas, se por acaso ela dizer "essas coisas são tão perigosas." ou dizer logo de cara "você não está pensando que vai, né?", pode desistir. Melhor desistir antes do não direto na cara que irá ferir o seu orgulho.
Entro em casa, distraída com a risada maluca que a Ranaah soltou do nada enquanto contava sobre o encontro desastroso com o novo garoto que está saindo, e dou de cara com o meu irmão sentado no sofá, segurando uma compressa de gelo no queixo e o rosto sangrando em várias partes. Minhas amigas encaram a cena assim como eu sem entender nada, já que não dá para imaginar o Jake se metendo em uma briga.
— O que aconteceu?
— Conta para ela, Jake — Minha mãe grita da cozinha. — Ou vai querer que eu faça isso?

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Absolutely nothing
Romance(esse livro começou a ser editado, porém, não foi finalizado a correção) Pérola é livre, quando sua mãe permite, e gosta de viver cada minuto. Vem de uma família comum, semelhante à de quase todo mundo, sempre se metendo em confusões e tentando sair...