6 - PREMIAÇÃO

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POV. PÉROLA

Pelas notas, eu já conseguiria ganhar o prêmio, se isso fosse o suficiente. Agora, tenho que torcer para a votação gostar de mim. Minha mãe, por exemplo, disse que nunca votaria em mim se fizesse parte das pessoas que possuem o direito de voto, porque, na visão dela, esse prêmio serve para dar exemplo aos outros, e para a minha querida mãe, ninguém deve seguir o meu exemplo. Ela não sabe que é só uma coisinha boba que todos esquecem depois de dois dias. Já meu pai foi correndo ligar para o meu avô, pedindo para garantir o voto na netinha favorita.Não sei se sou a netinha favorita, mas sei que sou a que mais leva bronca dele, então talvez isso grude na memória. Talvez seja como as garotas com problemas com os pais que amam os garotos problemáticos. Meu avô pode ter "neta issues"...

O Ravid com certeza vai ganhar. Nas duas vezes que jantamos em sua casa, vi que ele estava estudando. O menino também é bem popular em praticamente todos os grupinhos da escola, até mesmo no fundamental com as crianças.

— Pérola, me empresta a sua pinça? — Meu irmão entra no quarto, me flagrando de cabeça para baixo. — Que droga é essa?

— Sai. Estou pensando.

— E a pinça?

— Para que você quer a pinça? — Me levanto, e minha visão escurece por dois segundos.

— Arrumar a sobrancelha. O que mais eu faria?Olho de esguelha para ele.

— Eu não tenho pinça. Olha nas coisas da mamãe.

— Por isso suas sobrancelhas são tão bagunçadas assim.

As cubro com as mãos, fazendo cara feia. Não é possível que venha no meu covil por um favor e me ofenda. Começo a colocá-lo para fora com chutes, depois bato a porta com força.


POV. NICOLAS

    Festa da escola. Pode levar a família, mas meu irmão não está em casa, e minha irmã resolveu dormir às sete da noite. Ah, claro, meus pais, o problema é que ambos continuam viajando. Eu pensei em levar a Grace, cheguei a ir até a cozinha para convidá-la; no entanto, a senhora que passou o dia aqui desde às seis da manhã estava com uma expressão cansada, olhando para o relógio na parede, ansiosa pelo horário de ir embora. Sabia que não recusaria, por isso decidi deixar para lá.    Enquanto passo o perfume na frente do espelho, pronto com o meu terno branco bem engomado, a Pérola me vem à mente, suas palavras dizendo que tenho cheiro de dinheiro. Ela não sabe reconhecer um Bleu Chanel. Na verdade, ela não sabe reconhecer nada. 

    Quase não consigo encontrar uma vaga no estacionamento, está lotado de carros e motos, até mesmo na rua não tem espaço. Quando desligo o motor, vejo pelo retrovisor a Pérola e algumas pessoas que eu imagino ser a sua família, dois homens e uma mulher. Ela usa um vestido vermelho bonito, o cabelo cacheado cai em cascata sobre as costas quando passa a mão para organizá-lo, os cachos até a cintura e volumosos. Queria poder dizer o contrário disso, mas é impossível: ela está fabulosamente bonita.

— Cadeira cinquenta, fila B. — A mulher me entrega um papel na entrada. 

   Vejo na minha frente uma escola transformada. Nunca reparei o quanto o prédio é bonito, meio moderno e antigo ao mesmo tempo, você olha e não tem um erro sequer, nada de rachaduras ou tinta descascando. Durante a noite, a estrutura é iluminada por luzes embutidas, o pátio não parece o pátio da escola, apenas um lugar feito para eventos. Longas fileiras de cadeiras encapadas se estendem até o começo do palco, onde um painel de luzes com flores decora o espaço; lá em cima, possui microfones em suportes e uma mulher bem vestida resolvendo alguma coisa com o moço do som.

Absolutely nothingOnde histórias criam vida. Descubra agora