Capítulo 5 - Chuva

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— Me disseram que eram poucos. — O beta bufou, furioso, quando deixou o punho cerrado acertar a mesa de madeira.

As moedas de ouro e prata, que estavam espalhadas pela superfície lustrada — iluminada pela única lâmpada, incandescente e vacilante, pendurada por um fio entre os ferros que erguiam a barraca de tecido escuro — saltaram pela força do gesto.

— Eram apenas seis. — O outro, sentado na única cadeira, ergueu os olhos da carta, selada em cera azul naval, para encarar o "visitante" quando Jongsu tomou a palavra. — Entre eles, estavam as duas crianças. Sabe o cheiro que aqueles malditos têm? — Ainda irritado, o tal Jongsu abriu passos enquanto falava como se fosse dono do lugar. Se sentou sobre a mesa, com as pernas ao lado do garoto na cadeira, que não o deveu seu olhar, e usou um dos lápis espalhados para limpar embaixo das unhas encardidas. — Eu estive tão próximo, Jihoon. — Ele brincou com os pés suspensos e uma moeda de prata caiu do monte ao seu lado, rolando até se desequilibrar e pousar com o símbolo de uma letra grega virado para cima. — Sabe? Isso custa bem mais do que estamos ganhando.

O garoto tirou a armação de óculos. A guardou sobre a mesa, protegido pela muralha de moedas bicolores, e deu a volta no móvel para parar ao lado da abertura que dava para fora da barraca. A luz da lua cobria o rosto já pálido com ainda mais palidez, o que apenas piorava em contraste às roupas pretas de couro e o cabelo escuro amarrado pelo elástico vermelho.

Jongsu não pôde deixar de pensar, outra vez, no quanto o vermelho deixava Jihoon ainda mais belo.

— Está com medo? Quer mais ouro para custear o risco que corre? — Jihoon sorriu, mas o outro não viu. — Pensei que era o homem de confiança do rei.

Jongsu, que sorria para a aparência arrebatadora daquele garoto — e que o media desde a cabeça até os pés mesmo que o mais novo estivesse de costas —, interrompeu o bom humor para pigarrear. Ele se levantou para aproximar devagar, deixando com que o aroma de pinheiros se espalhasse até a intensidade fazer o menino olhar em sua direção.

— Você, melhor do que qualquer um de nós, sabe bem onde foi parar o "homem de confiança do rei". — Foi o que ele disse, perto demais.

Jihoon teve que erguer a cabeça para encará-lo nos olhos. Ergueu, também, a mão de dedos longos, onde brilhava o anel prateado — símbolo da Dinastia —, para espalmá-la no peito alheio, sem afastá-lo.

Jongsu não esperava que ele se erguesse na ponta dos pés, muito menos sentir o aroma doce de violetas se tornar tão intenso estando tão próximo como estava.

— O que são alguns trocados, em comparação ao prestígio que vai conseguir ao capturá-lo? — Jihoon disse baixinho. — Será o filho mais velho, o herdeiro da Dinastia... Se capturá-lo, não vai precisar mais disputar o posto de "homem de confiança do rei", porque você será o homem de confiança de todo alto. — As unhas curtas arranharam a camisa do beta, alcançaram a abertura que dava acesso ao peito que paralisou ao toque leve. — Eu não me preocuparia com o dinheiro.

— Com o que devo me preocupar, então? — Jongsu se arriscou a dar mais um passo, encurralando o garoto entre o tecido da barraca e seu peito inflado. Sorriu quando não houve reação, e se pôs próximo à boca alheia, repuxada em suas extremidades.

— Com se manter em seu lugar, soldado. — A ameaça veio num sussurro, o ar rebatendo contra sua pele como o brilho esverdeado dos olhos bonitos refletia nos seus. — Porque você pode ter sua força e ambições, pode ter sua pose e seu peito inflado, mas te falta o que eu tenho. — Jihoon sorriu ladino, e não precisou empurrá-lo para que ele se afastasse. — Se eu abrir a boca, e disser uma mentira mínima que seja, eu te reduzo a um grão de poeira.

Dinastia Alpha - Respeitável Público • Namgi (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora