Forbidden - Parte 7

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Após limpar toda a sala, o mais tranquilo que podia, eu vim até o quarto. Ajeito a mochila, e cada barulho de carro na rua me deixa eufórica, ansiosa. Mas não reconheço o barulho após ouvir melhor e aí me concentro de novo na tarefa em mãos.

Peguei tudo que julgo ser o mais importante. Documentos, produtos de higiene, algumas mudas de roupa, um pouco de dinheiro que vinha guardando da escassa mesada que meu pai me dá, e acho que é só.

Coloco um casaco por cima do vestido, e vou abrir as cortinas. Coloco o corpo para fora, apoiando no gradil e olho rua acima e abaixo, ansiosa. Ouço barulhos de carro ao longe e estico o máximo possível para espiar melhor e assim que o veículo vira na esquina, pelo ronco do motor, sei que é Arvin. Ele pisca os faróis três vezes. Passando direto pela casa, ele vai parar na esquina, me fazendo ficar ainda mais ansiosa. 

Volto para dentro do quarto nem sem fechar a janela. Vou pegar a mochila colocando-a nas costas, afobada. Me faço respirar pesadamente, tentando controlar minha ansiedade e agitação. Não posso me deixar ser descoberta por estar agitada demais.

Saio do quarto e cruzo o corredor indo até a porta de Judith, a abro, e ela dá um pulo, se virando com a mochila ainda nas mãos. Estava a fechar o zíper. Gesticulo com a cabeça e faço um sinal de calma com a mão. Ela respira fundo e anda mais devagar, normal. Vindo até mim ela sai para fora e fecha a porta. 

Descemos as escadas e cruzamos a sala. Quando estou com a mão na maçaneta para abri-la passos ecoam no corredor que dá acesso ao escritório. Abro a porta rápido e empurro Judith para fora a força, ela me olha indignada mas desvio o olhar para o corredor. 

"Lena? Onde pensa que vai a essa hora?" Papai pergunta aparecendo com mamãe logo atrás, as roupas dos dois toda amarrotadas e amassadas. Abotoadas em casas erradas.

"Sair" respondo já saindo, deixando a porta como um escudo.

"Com quem?" Sua voz cada vez mais autoritária e alta.

"Sozinha" 

"De mochila?" Mamãe pergunta saindo de trás dele, mostrando ainda mais as roupas tortas.

Engulo em seco, e respiro fundo. "De mochila." 

"Aonde vai? Não me diga que vai ver seu namoradinho?" Papai pergunta, avançando lentamente até a porta.

Endireito a coluna. Eu mordi a isca. Era um blefe, e ele entendeu. "Eu vou. Cansei. Vou com ele" respondo sabendo que agora que me entreguei não posso voltar atrás.

Ele fica parado por um momento, surpreso demais com minha confissão. Ele achou que negaria, como todas as outras vezes. Que sentaria e encolheria o rabo entre as pernas. "Como é?" Volta a andar, dessa vez mais rápido. 

"Eu vou embora. Não vou me casar com Matthew, eu sinto muito" digo e saio, fechando a porta usando-a como o escudo que preparei.

Pego logo a mão de Judith e corro pelo jardim, saindo portão a fora com toda velocidade, ela tentando me alcançar.

"VOLTE AQUI SUA VADIAZINHA!" Ele grita pela rua, sua voz ecoando na escuridão iluminada pelos postes. Ele também está a correr, ouço os passos de seus sapatos caros.

"Mais rápido, Judith!" A puxo, minhas pernas queimando, pulmões em chamas. 

Me lembra muito do dia que conheci Arvin, me chocando com ele enquanto corria e sentia as mesmas sensações. Só que agora corro de encontro a Arvin e não um mero acaso que mudou minha vida. 

O vejo colocar o corpo para fora, gesticulando pra correr mais rápido. "Andem! Não olhem para trás!" 

O carro está cada vez mais perto. Perto. Perto. Perto. Posso tocar sua traseira. Seu teto. Abro a porta de trás, empurrando Judith para dentro, sem nem me dar tempo de perguntar se ela está bem ou se se machucou. Abro a porta do passageiro e me jogo lá dentro,  fechando a porta com força.

Quase caio por cima de Arvin, ele havia entrado de volta antes de chegarmos. Meu peito sobe e desce com a respiração rápida e Arvin vai ligar o carro. Uma batida na porta me faz dar um grito leve de susto e quando olho, é papai tentando abrir a porta. 

Aperto logo a trava, e mando Judith fazer o mesmo, e a ouço indo cumprir a ordem. Em um momento de surto, antes de Arvin arrancar com o carro, ele quebra a janela, tentando me puxar para fora. Consigo me soltar antes dos pneus cantarem contra o asfalto, e sermos jogados para trás.

Só quando vejo as luzes da cidade sumirem no espelho lateral que consigo respirar com calma, com alívio. Tiro os cacos de vidro de meu colo e banco e me viro no assento para ver uma Judith que espelha meu estado. "Você tá bem?" Pergunto ainda ofegante e rouca.

"Você tá sangrando" ela diz e se aproxima, passando os dedos pelo meu rosto. 

Me afasto sentindo a ardência. Toco o lugar e pela luz da lua vejo sangue em meus dedos. "Acho que foi do vidro quebrado" comento colocando a manga do casaco para fazer parar. 

"Maluco" Arvin diz bravo, o conheço bem o suficiente para identificar isso. "Filho da puta inútil. Desculpe, Judith" ele acrescenta rapidamente.

"Tudo bem... tô começando a entender o por que você pensa isso" ela responde, e a ouço se ajeitar no banco.

Me viro para Arvin e o vejo apertar com força o volante. "Hey, está tudo bem, estamos fora de perigo por agora." Coloco a mão sobre o seu braço, dando um aperto. 

Ele respira fundo e me olha, diminuindo a velocidade. "Está mesmo bem?" Pergunta preocupado.  

Lhe dou um sorriso, assentindo. "Tá ficando frio" digo ao empurrar um caquinho de vidro que ficou em cima do banco. Puxo as pernas sobre o estofado de couro e vou mais perto dele. Com um braço guiando o carro, o outro ele o serpenteia por minha cintura,  me puxando mais contra si. "Desculpe por não avisar sobre Judith vir junto. Decidi trazê-la de última hora" explico ajeitando a bochecha esquerda contra seu ombro.

"Tá tudo bem" ele diz com a voz baixa e gentil. "Fico feliz de que veio junto, Judith" ele fala mais alto.

"Sim, eu também. Hey, não se importa se eu dormir aqui né?" 

"Não, pode dormir. Tem uns cobertores aí atrás. Fique a vontade" 

Ela joga um pra mim e a ouço se ajeitar lá trás. "Obrigada" digo alto. Ela só diz boa noite e depois fica em silêncio. Não sei como ela consegue dormir depois do que aconteceu mas também entendo seu cansaço.

Me ajeito mais perto de Arvin e me cubro com o cobertor que tem seu cheiro. 

"Arvie?" Pergunto de olhos fechados.

"Hum?" Resmunga parecendo mais relaxado e calmo.

"E sua família?" Pergunto sem me mover ou abrir os olhos.

"Eles sabem, mas prometeram ajudar. Vamos nos casar em outra cidade, uma bem longe. Esperar um pouco depois voltar. Eles sabem de todo o plano, e vão nos receber para morar lá quando voltarmos." Explica baixo e o sinto apoiar a bochecha em meus cabelos.

"Isso seria um pedido?" Pergunto dando um sorriso feliz, enterrando ainda mais o rosto em seu ombro.

"Sim. Quer casar comigo?" Pergunta em uma voz baixa.

Dou um sorriso me aconchegando mais contra ele. "Sim."

"Posso ser a madrinha?" Judith pergunta de lá trás, nos fazendo rir. 


Dream About Me - Tom Holland ImaginesOnde histórias criam vida. Descubra agora