25 de dezembro de 2015

17 10 12
                                    

Sexta-feira;

Feliz natal!

Hoje é a primeira vez em um bom tempo que saio da cidade. Vim passar o natal na casa da irmã da minha mãe aqui em Bakersfield, há quase duzentos quilômetros de Nova Winterfield.

Essa viagem foi muito boa, pois foi uma desculpa para nos tirar da ceia de natal na casa dos Hawkins.

Embora eu goste da Amanda, tenho que confessar que a família dela é terrível, e como já falei aqui, as festas que os pais dela organizam são a maior chatice. 

Deixa eu começar do começo.

Depois que eu me reanimei e voltei a falar com o Lorenzo, fiquei com muita vontade de ir pra escola, rever meus amigos e voltar minha vida ao normal, então fui dormir esperando a manhã seguinte chegar pra ir pra aula, mas algo aconteceu.

Uma nevasca muito forte caiu sobre Nova Winterfield e algumas cidade próximas, então a aula foi cancelada. Eu era o maior torcedor pelo cancelamento das aulas e agora tava frustrado. Por que a vida tem que ser tão injusta, hein?

Decidi ficar na cama até a hora em que eu precisasse levantar pra ir no Martinelli's, mas quando peguei meu celular pra olhar a hora, tinha uma mensagem do Lorenzo avisando que o Luigi decidiu fechar o restaurante até a neve baixar.

Era tudo o que eu não precisava ouvir. Todos os lugares em que eu podia me divertir com alguém estavam fechados e nem queria me arriscar dirigindo na neve, já que nunca fiz isso. O jeito era ficar em casa.

Fui pra cozinha e meus pais estavam arrumados pra ir pro trabalho, já que o Sr. Hawkins ainda queria que seus funcionários fossem trabalhar. Ele não iria fechar a empresa no meio da neve de qualquer forma. 

Ou seja, bem no dia que eu queria ver gente, tinha que ficar trancado sozinho em casa.

Eu podia fazer qualquer coisa, mas nada tava me animando, então peguei meu celular pra conversar com alguém, mas a maioria dos meus contatos ainda estava dormindo, algo que eu podia estar fazendo, mas não conseguia porque precisava falar com alguém.

Mandei mensagem pra todos os meus três amigos e pra Amanda, que depois de um tempo me respondeu e convidou meus pais e eu pra ir na mansão dos pais dela pra ceia de natal, já que os pais dela queriam nos conhecer melhor.

Eu fiquei muito nervoso com aquela mensagem, mas também fiquei animado. Não sabia exatamente como os Hawkins reagiriam ao conhecer meus pais, mas torcia pra que gostassem deles. 

Também torcia pra que meus pais não me deixassem envergonhado na frente deles, porque tenho certeza que os Hawkins não vão gostar se eles começarem a falar sobre como eu era chorão quando era criança ou qualquer outra coisa constrangedora que eles sempre falam.

Quando meus pais voltaram do serviço, contei sobre o convite da Amanda e eles ficaram muito animados com a ideia, tanto que já tinham começado a se preparar e planejar a roupa que iam usar na hora de jantar com uma família tão importante como os Hawkins.

Os meus dias seguintes foram muito chatos, já que não podia sair de casa e às vezes conversava com meus amigos por chamada de vídeo.

Minha mãe veio com a ideia de que a gente precisava comprar presentes de natal para os Hawkins e aí que veio um problema. O que dar de presente para alguém que tem tudo?

Se fosse para os meus amigos, eu sei o que eles gostam de ganhar, mas nem conheço a família da Amanda direito. Então disse pra minha mãe que a gente não precisava dar nada para eles, pois eles nem se importariam. Foi aí que ela começou a dizer que se os Hawkins reclamassem por a gente não ter levado presente, a culpa seria minha. 

Só espero que eles não reclamem.

Dois dias antes do natal as ruas foram liberadas e a gente finalmente poderia voltar à vida normal. Menos a escola, que tinha decretado férias e só vai voltar a funcionar em janeiro.

No dia vinte e três chamei o David, a Emily e a Sra. Collins para ir no Martinelli's pra gente fazer uma comemoração pequena de natal. Os meus pais e os pais do David também foram.

O Luigi e o Lorenzo já tinham feito uma linda decoração por todo o restaurante e era a data favorita do Luigi, já que era bastante religioso e amava o natal.

Enquanto a gente comia a tradicional lasanha do Luigi, a Emily, o David, o Lorenzo e eu percebemos que a Sra. Collins não parava de olhar para o cozinheiro italiano, que também olhava para ela. Tava rolando um clima entre os dois.

No dia vinte e quatro, minha mãe passou o dia se arrumando e quando eram seis e meia da tarde a gente foi pra mansão dos Hawkins. Quando meu pai entrou, um manobrista veio buscar o carro e levar pra garagem enquanto um mordomo veio nos receber do lado de fora e levar até o lado de dentro da grandiosa mansão cheia de luzes douradas que piscavam sem parar enquanto uma fina neve voltava a cair.

O mordomo levou a gente até a grande sala de estar que tinha uma árvore de natal de mais de três metros e meio cheia de decorações. Da escada que levava ao andar de cima desceram os quatro membros da família, todos vestidos com tons de roupa iguais, o que deixou meus pais e eu desconfortáveis, já que a gente não sabia que tinha que seguir um padrão.

A Amanda tinha um vestido pêssego que ia até o joelho. O Carlos também usava um suspensório com calças cinzas e camiseta social pêssego. A Sra. Hawkins usava um vestido branco muito comprido e várias joias na cor pêssego, e o Sr. Hawkins usava um terno branco com uma gravata pêssego.  

Minha mãe estava com um vestido vermelho bem natalino, eu tinha um terno preto antigo e meu pai usava uma camisa social azul clara com suspensório. 

O Sr. Hawkins convidou a gente pra sentar à mesa e logo após isso os mordomos começaram a trazer várias bandejas com os mais diversos tipos de comidas natalinas que eu poderia imaginar. E em todas elas tinha algum tipo de fruta, desde uva passa, maçã, abacaxi e outras que nem consegui identificar.

Tinha tanta comida que parecia que viriam mais doze pessoas para o jantar, mas eram apenas nós sete, o que me deixou desconfortável, pensando pra onde iria toda aquela comida.

Durante todo o jantar, meus pais não falaram nada e apenas respondiam o que os Hawkins perguntavam. O Sr. Hawkins fazia perguntas como "Quais as funções de vocês na minha empresa?" ou "Você viu que esse mês minha empresa faturou quase o dobro do mês passado?".

Enfim, tudo o que meus pais respondiam fazia com que o Sr. Hawkins se gabasse para sua família, e ele ainda disse para o Carlos: "Viu só, meu filho! Um dia você vai ser dono dessa empresa e vai poder mandar em pessoas como eles!"

Eu não via a hora de ir embora dali e tenho certeza que meus pais também queriam sumir. Tudo o que os Hawkins falavam entrava por um ouvido e saía pelo outro, até que uma coisa realmente me incomodou e foi a gota d'água.

O Sr. Hawkins virou pra mim e perguntou se eu ainda trabalhava no Marinete's. Até errou o nome do restaurante. Eu disse que trabalhava no Martinelli's e que gostava muito do meu serviço.

O Carlos então perguntou: "É aquele restaurante fedido de comida italiana?". E o Sr. Hawkins respondeu: "Bem esse! É aquele que tem o entregador viadinho. Você viu o jeito esquisito dele? Tenho ódio dessa gentinha!" 

Eu fiquei muito bravo. Levantei da mesa e disse que a gente precisava ir embora porque no outro dia tinha que acordar cedo pra ir na casa da minha tia. Meus pais perceberam que eu tinha me irritado com aquilo e também levantaram.

Amanda insistiu que a gente ficasse, até ofereceu o quarto de hóspedes pros meus pais passarem a noite, mas eu disse que não queria ficar ali e falei que não.

A gente se despediu deles e voltamos pra casa.

No dia seguinte a gente levantou cedo e foi pra casa da tia Alyssa. Foi bom rever meus tios e primos depois de muito tempo, mas também foi bem cansativo por causa da viagem de ida e volta. 

Muitas horas de trânsito. Preciso dormir, porque tô morto de cansaço.

Até mais, diário.

O Diário de Anthony CooperOnde histórias criam vida. Descubra agora