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(Maya POV)

Eu olhei o smartwatch em meu pulso marcar os batimentos cardíacos enquanto virava mais uma esquina no meu trajeto de corrida. Todas as manhãs eu corria de casa até o parque mais próximo da cidade cortando as ruas dos principais bairros até lá. Era como um ritual para mim. Não só me ajudava a manter a forma, mas também servia como uma válvula de escape para a minha mente. Uma delas na verdade, a outra era velejar. Por mais que eu não corresse mais de maneira profissional, eu ainda gostava de sentir o coração acelerado e a respiração descompassada, isso de certo modo não me deixava focar em muitas coisas além disso, principalmente meus problemas.

Eu já estava partindo para a parte final do meu trajeto de corrida, quando de relance vi um carro parado em frente à calçada do outro lado da rua. A mulher esbelta, com cabelos soltos, calça e blusa com o perfeito caimento em seu corpo parecia falar impaciente ao telefone. Dentro do carro um jaleco pendurado no encosto do banco do carona e do lado de fora um dos pneus traseiros completamente murcho. Eu parei a corrida suspeitando da cena e assim que a mulher se virou, eu tinha certeza que estava certa. Era Carina. Carina e um pneu furado. Quer dizer, reformulando, Carina com uma cara na boa e um pneu furado.

Eu pausei a contagem de tempo de corrida no meu relógio, antes de olhar para os dois lados da rua e atravessar em direção ao outro lado.

—Precisa de ajuda? – Eu perguntei ao me aproximar da mulher distraída no celular.

— Maya! Grazie Dio! (Graças a Deus!) – Ela exclamou desgrudando o celular de sua orelha ao me ver. – Per favore (Por favor), me diga que conhece alguém que consiga trocar esse pneu, eu estou há meia hora numa ligação para tentar falar com o seguro e até agora nada. – Ela falava nervosamente voltando a colocar o celular na orelha. – Caiu! A ligação caiu! Che cazzo! (Mas que merda!) – Ela grunhiu impaciente jogando a cabeça para trás e quase arremessando o celular longe. – Quer saber, eu mesma faço! – Ela continuou o monólogo indo até o porta-malas, pegando uma chave de roda e se aproximando do pneu furado.

Ela ficou parada alguns segundo alternando seu olhar entre a fermenta e o pneu, claramente perdida. Eu me segurei para não rir.

— Ok! Ok! Não é o fim do mundo. – Eu intervi me aproximando. – Deixe-me ajudar. – Eu pedi chamando sua atenção. – Carina, eu já fiz isso um milhão de vezes, está tudo bem, é só um pneu furado. – Eu adicionei puxando levemente a ferramenta de sua mão.

Vá bene... (Está bem...) – Ela concordou se afastando para me dar espaço. – Me desculpa, Maya, é que eu tenho um parto marcado para daqui a quarenta minutos e o seguro que era para ajudar no final só atrapalhou. – Ela explicou passando a mão pela testa.

— Não se preocupe, você estará lá em menos de meia hora. – Eu disse pegando um macaco mecânico no porta-malas e o colocando embaixo do carro. – Sabe, semana passada nós fizemos uma competição de quem trocava um pneu mais rápido na estação... – Eu comentei afrouxado os parafusos do pneu. – Advinha quem ganhou? Bingo! Eu! Seis minutos e quarenta e nove segundos. – Eu falei sorridente tentando aliviar a tensão da mulher.

Bene, acho que vou cancelar o seguro do carro e te contratar. – Ela falou com um leve sorriso no rosto, deixando seu estresse suavizar.

— Aceito cerveja como pagamento e meus horários são flexíveis. – Eu brinquei terminado de tirar o pneu furado e ela riu.

Enquanto eu terminava de trocar o pneu, Carina ficou ao telefone cancelando o pedido de assistência do seguro. Ela tinha um tom sério, bem diferente da sua usual simpatia e confesso que até assim ela ficava bonita. Quer dizer, ela era muito bonita, notei isso desde o dia em que esbarrei com ela no mercado e sei que ela era noiva do meu irmão, o que é ótimo, mas eu não era cega.

The Other BishopOnde histórias criam vida. Descubra agora